A ignorância humana sempre me impressionou, ainda mais nos dias de hoje com tantas fontes de informação. Espanta-me que alguns tricolores estejam nesse rol. Sempre tive a ilusão de que um tricolor (pelo evidente bom gosto) seria alguém necessariamente inteligente. Vã pretensão. Digo isto porque quando leio alguns comentários aqui percebo a quantidade de torcedores do Fluminense que, pela visão estreita e obtusa, mais parecem torcedores do Flamengo. Pois de maneira geral o que diferencia fundamentalmente um torcedor do Fluminense de um do Flamengo é justamente a capacidade de discernimento. Chego a achar graça quando surge alguém me cobrando ter apoiado o início do trabalho do Luxemburgo. O que queriam esses tricolores? Que saísse detonando o novo técnico só porque fazia o mesmo com o Abel? Ora bolas, já disse aqui que as minhas críticas ao Abel não nasceram da noite pro dia. Elas começaram ainda quando trabalhava na imprensa e vi o Flu, em 2005, sob seu comando, perder uma final de Copa do Brasil para o poderoso Paulista e, façanha pior ainda, perder uma vaga pra Libertadores quando em cinco jogos o time precisaria de apenas um ponto. Não é que o Flu perdeu os cinco? Quer vexame maior do que esse? Aventou-se na época que ele já tinha acertado contrato com o Inter e, por isso, deixou o barco desandar. Não duvido. E ainda falam por aqui – os seus defensores – que se trata de um grande tricolor, com raízes nas Laranjeiras, como se isso, por si só, garantisse amor ao Flu. Pois bem. Abel voltou ao Flu, em 2011, e teve até um bom início. Mas a partir de 2012 o comando dele foi um desastre. Nunca conseguiu dar um padrão de jogo ao time. Fomos eliminados da Taça Guanabara e, por sorte, graças a uma postura ética do Vasco, também não fomos da Taça Rio. Com um time que ainda tinha Deco e Thiago Neves jogando alguma coisa (além de Wellington Nem finalmente efetivado como titular) conseguimos ganhar os jogos decisivos do Carioca. Méritos do Abel? Claro que não. Méritos, sim, de alguns jogadores acima da média. Veio a Libertadores, a meu ver o grande desafio do clube, e, desde os primeiros jogos, apesar das vitórias (todas magras e insossas), alertei aqui que não iríamos longe. Não deu outra: ficamos longe do título. O Brasileiro foi aquilo que sabemos. Uma sucessão de jogos com atuações lamentáveis, mas que, com boa dose de sorte, e atuações incríveis, sobretudo de Cavalieri e Fred, fomos campeões. Mérito do Abel? Zero, pois ele ainda se cansou de fazer substituições esdrúxulas que comprometeram os resultados em vários jogos. Até aí a diretoria ter mantido o Abel eu até compreendo, apesar das atuações pífias e da nítida inconsistência tática do time. Mas se houvesse alguém com o mínimo de ousadia e visão no clube – saudade de Francisco Horta! – o Abel seria dispensado quando ficou fazendo aquele doce pra renovar. Abel continuou junto com os pernas-de-pau que tanto elogiava. Continuamos com a “zaga para cinco anos”, com Edinho, Diguinho, Anderson, ou seja, com aquela base que o mais primário observador de futebol vaticinaria que não iria mais a lugar nenhum. É óbvio que perdemos outra Libertadores prematuramente (a terceira na gestão do presidente Peter), a Taça Guanabara, o Campeonato Carioca e a Copa do Brasil. Como o trabalho do Abel era tosco de tão ruim, sem qualquer estrutura, o time ruiu com um castelo de areia ao ter pela frente a primeira marola. Deixou o time aos farrapos no Brasileiro depois de cinco ou seis derrotas seguidas. Não tenho a menor dúvida de que, se o Abel tivesse continuado, hoje estaríamos dividindo com o Náutico a última colocação do campeonato. Os idiotas e tendenciosos ficam dizendo que o Luxemburgo é meu técnico preferido. É claro que não é. Apenas acho que não é o culpado por essa situação lamentável do clube. Por mais erros que possa cometer (e tem cometido muitos) não foi ele que montou esse time (ou o que sobrou dele) e nem teve a chance de fazer pré-temporadas como o Abel teve. Já disse aqui mil vezes que os meus técnicos preferidos são Marcelo Oliveira (desde o ano passado sugeria seu nome para substituir Abel) e Cristóvão. Mas já que a diretoria preferiu o Luxemburgo não tinha como não apoiá-lo. Pelo menos essa devia ser a postura de um tricolor com um mínimo de responsabilidade. Pois como começar a criticar um trabalho sem que haja tempo para que ele dê resultados? O que quero dizer com tudo isso é que nada acontece por acaso. Se o Fluminense está dando sucessivos vexames em 2013 é porque não existiu um trabalho bem feito anteriormente. Muitos aqui comparam a manutenção do Tite no Corinthians com o caso do Abel. Ora, o Corinthians ganhou tudo com o Tite. Ganhou tudo o que gostaria que o Fluminense tivesse ganho e só não ganhou por absoluta incompetência dessa administração atual do clube. Eu nunca vi tanto dinheiro desperdiçado, tanta falta de comando, tanta omissão, tanto despreparo. O Fluminense jogou no ralo um momento de ouro. Um momento em que poderia ter conquistado todos os títulos que os tricolores sonham – e merecem. Títulos que a grande maioria dos chamados gigantes do futebol brasileiro já conquistou. Mas, como temos esse trauma da terceira divisão, muitos ficam achando ótimo, a glória suprema, a conquista de um Brasileiro, mesmo com aquele futebol horroroso. Apesar de tudo, não acredito que o Fluminense seja rebaixado. Pelo menos vou torcer para que isso não aconteça. De qualquer forma, seja com Peter ou Deley, o Fluminense precisa de uma grande metamorfose. Uma mudança de mentalidade, em todos os sentidos. Não dá mais para suportar essa irregularidade. Um ano campeão, outro ano quase rebaixado. Isso é típico de um clube mal administrado. De um futebol nas mãos de gente incompetente. De um trabalho mal feito. E não me venham com essa conversa de que as finanças foram saneadas, como se isso fosse algo excepcional. A meu ver é o mínimo que se espera de um presidente decente. O Fluminense, por mais que tenha tradição em outros esportes, é um clube de futebol. E se o futebol está mal, pra mim, alguma coisa está muito errada. E o fato é que o futebol está péssimo. A lista de absurdos é enorme. Desde a presença do inútil Rodrigo Caetano, passando pelos constantes problemas do departamento médico, jogadores desqualificados, salários incompatíveis com o rendimento do time e falta de um centro de treinamento. Com toda sinceridade, quem compactua com esse quadro, das duas uma: ou é um pobre coitado incapaz de enxergar um palmo à frente do nariz ou está de alguma forma levando alguma vantagem.
Posted on: Mon, 21 Oct 2013 17:42:57 +0000
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