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Carta ao prefeito Eduardo Leite, pense um pouco... (texto na íntegra) Rubens Filho, editor Prezado Eduardo Leite, critico você eventualmente pelo que considero seus defeitos como prefeito, não por suas qualidades, que julgo serem muitas. No tema Feira do Livro 2013, acho que você errou mais do que acertou até aqui. A última notícia, sobre a provável autoria de um texto intitulado Começa a ruir o feudo livreiro em Pelotas, é um desastre em todos os sentidos. Transmite sinal de sua fraqueza como administrador. Seus subordinados quebraram a hierarquia, não se importando com a imagem do governo, a não ser que você soubesse, o que não creio, pois seria uma surpreendente e triste decepção. O artigo, pelo que mostram as pistas, foi escrito por um funcionário de confiança da Secretaria de Cultura, Lúcio Xavier. Publicado onde? No site de outro funcionário de confiança da mesma secretaria, Deco Rodrigues, já vencedor de verbas do Procultura. Veja, o problema não é o conteúdo do artigo. Liberdade de expressão precisa ser respeitada. O problema está no fato de o texto ter como autor um anônimo escondido atrás de pseudônimo (Wladimir L. Karpov, que as pistas indicam ser Xavier) e de ter sido publicado assim mesmo, contrariando a Constituição, que veda o anonimato, no site de um funcionário municipal de confiança. Insista-se: ambos são subordinados à secretária de Cultura, Beatriz Araújo, que, por sua vez, é subordinada a você, que, diga-se, ficou conhecido pela transparência. É uma situação que permite ao leitor perguntar: afinal, a afirmação de que há um feudo livreiro em Pelotas (e que essa visão é a verdade não dita oficialmente por trás das mudanças na feira do livro impostas pela Prefeitura neste ano) é de Karpov, do editor Rodrigues, da secretária Beatriz ou do prefeito, você? Primeiro erro Na minha avaliação, você começou errando em relação à feira do livro ao designar para tratar da mudança de lay-out do evento a sua secretária de Cultura. Por que? Porque Beatriz Araújo teve conflitos com a Câmara Pelotense do Livro, ao ponto de ser afastada da função de produtora do evento. Ou seja, obviamente não era a pessoa indicada para impor aos livreiros que deixassem de ocupar o redondo (em torno do chafariz) e algumas alamedas da praça Cel. Pedro Osório e passassem ao leito das ruas Quinze e Lobo da Costa, com trânsito aberto por trás. Na certa, você percebe o significado que assume, na circunstância, a palavra rua. Felizmente, após resistência dos livreiros, você sabiamente desistiu desse caminho, embora recusando-se a manter as bancas dos livreiros no redondo e nas alamedas. Ao meu ver, a própria secretária deveria ter se declarado impedida de tratar com os livreiros, por não ser a pessoa indicada para impor mudanças na feira. Se o avisou disso e você a manteve como negociadora, faltou-lhe tato. Pois o conflito era evidente, um desgaste desnecessário, como ocorreu. Segundo erro Os argumentos usados para retirar as bancas dos livreiros da Praça se mostraram insustentáveis. A Prefeitura, via secretária de Cultura, fincou o facão no toco em três pontos: que a praça não podia ser usada pelas bancas porque estudo técnico oficial apontou congestionamento de pessoas no local; porque o grande fluxo afeta o patrimônio material do logradouro, canteiros, monumentos; porque a praça vai receber tratamento paisagístico. Cada um desses motivos é facilmente desmontado. 1) Congestionamento em feira de livro é normal. Toda feira tem. Em Pelotas, ocorre um pouco mais nos finais de semana, não nos dias de semana. Dos 21 dias de feira, em seis haveria congestionamento. 2) O patrimônio material que a Prefeitura diz querer proteger, em grande parte, não existe. Os canteiros da praça não têm flores há 30 anos. Mal cuidados, abrigam mato. Onde se vê algo que lembre grama, há descontinuidade desta por faixas de terra. O chafariz, o redondo e monumentos não sofrem durante a feira, pois o policiamento na praça é justamente reforçado nesses dias. O redondo é mais maltratado no dia-a-dia por esqueitistas do que pelos frequentadores da feira. 3) O paisagismo da praça só ocorrerá em 2014. Logo, não justifica a pressa em 2013. Mais: mesmo com paisagismo, não há necessidade de retirar a feira da praça. Basta readequar o tamanho das bancas, redefinindo a ocupação do espaço público durante os dias da feira [...] Terceiro erro Quando os livreiros protestaram contra a transferência deles para o leito da rua, você desistiu desse plano. Teve então a oportunidade de corrigir os erros anteriores. Poderia ter voltado atrás e mantido os livreiros da praça, como ocorre há 20 anos, ocupando o redondo e as alamedas. Se teve a oportunidade, perdeu-a, preferindo um terceiro lugar, o Mercado Público, uma opção que não é ruim, mas tem a desvantagem de ser provisória. Na prática, o Mercado é um quebra-galho. Ao optar por esse caminho, o governo virou as costas a uma história de 50 anos construída por tantos livreiros, pessoas que não foram consultadas nem mesmo convidadas a debater o futuro do evento. Veja: mesmo que os livreiros e a Câmara Pelotense do Livro (CPL) não reúnam recursos para fazer uma grandiosa feira do livro (com dimensões de festa literária, até porque nunca foi esse o objetivo da feira, que é do livro), o evento feira do livro, queiram ou não, pertence a eles, não à Prefeitura, que oficialmente é (ou não) apoiadora. Este ponto, essencial, foi esquecido. Melhor, patrolado pela Prefeitura. Daí o livreiro Marcos Macedo ter dito que o Executivo havia sequestrado a feira. A Prefeitura montou um grupo de trabalho, incluindo carnavalescos, para repensar o Carnaval de 2014 com um ano de antecedência, mas não fez o mesmo com o evento feira do livro. Em vez de propor um debate aos livreiros e à CPL nos mesmos moldes temporais e de participação, apenas comunicou (ou seja, impôs), em julho passado, que a mudança de lay-out da feira era inegociável. Resumindo, com esses equívocos, você criou um problema em 2013 que não precisava ter sido criado. E maculou um pouco a imagem republicana do governo. COMENTÁRIOS FINAIS Os erros acima me parecem centrais. Qualquer solução, mesmo que funcione em 2013, não terá a legitimidade de um processo democrático, respeitoso e sadio. Ficará a marca do ano em que oficialidade sequestrou um evento privado, com o objetivo de transformá-lo de acordo com sua visão única e indiscutível. 2013 será lembrado como o ano em que a Prefeitura se apropriou de um evento que não é (era) dela, com a cumplicidade, é preciso dizer, da Câmara Pelotense do Livro. Agora preciso criticar a CPL. No começo, a CPL foi contra a mudança de lay-out. Ameaçou não participar da feira. Depois, quando o prefeito sugeriu o Mercado, a presidente da CPL, Isabel Zschornack, deixou de protestar. Coincidência ou não, pouco depois, a partir do momento em que a vice-prefeita anunciou que iria repassar cerca de R$ 100 mil à conta bancária da CPL, para que esta própria contrate produtos e serviços da feira com dinheiro público, Isabel deixou de atender ao Amigos. A última frase dela a nós foi: Nada a declarar. Eu tentava saber da presidente da CPL qual havia sido a decisão da entidade sobre a cobrança de R$ 25 mil feita pela Prefeitura contra a CPL a título de contrapartida por aquela investir R$ 100 mil do contribuinte no evento. Minha pergunta tinha uma razão central: por ser a realizadora da feira (proprietária do evento), nunca a CPI havia sido cobrada por nada pela Prefeitura. Até então os livreiros arcavam com os custos de suas bancas e aluguel de toldos. Até 2012, estes apenas colaboravam com uma quantia em torno de R$ 15 mil para a programação cultural que a Prefeitura passou a introduzir na feira, buscando valorizar o evento em termos turísticos. Portanto, quando o Executivo exige contrapartida de R$ 25 mil, além de uma arbitrariedade, confirma que está se apropriando de um evento que não é dela, passando, no fim das contas, a ditar as regras. Deduzo que Isabel, ao se negar a falar comigo (ou melhor, ao responder-me nada a declarar), está achando ótimo os rumos que as coisas tomaram. Deduzo que, para ela, não faz mal que a Prefeitura esteja se adonando do evento. No momento está preocupada em como vai administrar os R$ 100 mil que a entidade vai receber da Municipalidade. Ao meu ver, esses fatos mostram que a direção da CPL não tem visão histórica do que representa nem dos rumos que deve trilhar como entidade em função de sua trajetória. Segue ao sabor da onda da conveniência, apequenando-se em seu papel e negando-se a debatê-lo. O artigo intitulado Começa a ruir o feudo livreiro em Pelotas, que as pistas indicam ser de autoria de Lúcio Xavier, cargo de confiança na Secretaria de Cultura e gerente de Livro e Literatura, não foi respondido pela presidente da CPL, que até aqui se mantém calada. Maior prova de que a Prefeitura já é dona do evento, não há. Daqui em diante é possível que o evento mude de nome e até se transforme em feira ou festa ainda melhor do que é hoje. De qualquer modo, os métodos dessa transição não serão esquecidos, à força... Pessoalmente, acompanho a visão daqueles livreiros que consideram que o artigo feudo uma expressão da visão autocrática de uma gestão que dá sinais de se ter contaminado pela presunção de que pode tudo, inclusive decidir o que é melhor para os outros sem perguntar o que os outros acham. Não é o melhor caminho. Com o tempo, esse comportamento acaba gerando resistência.
Posted on: Tue, 15 Oct 2013 19:15:54 +0000

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