Gente descontente Olga Balbo Ferreira Fontes Há pessoas que só sabem reclamar: da vida que possuem, dos bens que conseguiram adquirir na sua pobre existência, dos amigos que as rodeiam, enfim são eternos descontentes. Conheço um desses tais que dia e noite seus ouvidos zunem de tanto ouvir reclamações: ora da mulher, ora dos parentes que tanto o visitam, ora dos filhos... Sua vida é um mar de lamentações. Até que ganhou na loteria e enfim pôde comprar a sonhada casa no campo. Finalmente as finanças da família se estabilizaram e o pai cedeu aos caprichos da mulherada e resolveu comprar uma casa de praia. Agora teriam onde passar os feriados e fins de semana, longe do burburinho da cidade grande. Era um local agradável à primeira vista: uma residência bonita, com muitas plantas floridas, uma avenida de coqueiros que começava na porteira e se estendia sítio adentro. Até um banco grande de cimento que acomodava a família toda sentada onde poderiam tirar longos papos. Era a casa dos sonhos de muitos anos atrás! Ao vendê-la o dono anterior deu-lhes um conselho: Pendurem bananas em algumas árvores que os passarinhos aos bandos farão uma festa, da manhã à noite. Ao pegar as chaves da casa na mão, com o coração exultante de alegria falou o novo proprietário: - Um refúgio encantador como este, ainda dentro de um condomínio fechado, quantos livros lerei sem ser importunado! Será que mereço tanta proteção divina?... A primeira vez que viu um gavião voando, sentiu os olhos lacrimejarem e disse: - Que lindo! Que lindo! Será que mereço tanto?... A lua de mel ecológica durou alguns meses e teria durado uma eternidade, se uma cunhada linguaruda, soubesse guardar a língua dentro da boca fechada! - Acharam uma cobra no condomínio! Enviou a foto pela internet. Era um espécime negro. Ao que diziam venenosa. Fora encontrado no jardim de um vizinho. O alvoroço foi geral. A mulher tentou comprar soro antiofídico no Instituto Butantã. E quem saberá administrá-lo? Terá que ser guardado na geladeira? E se alguém pensar tratar-se de água gelada? Mas não encontraram o soro no Butantã. E se tivessem encontrado não saberiam como administrá-lo. Alguém teve uma idéia que resolveria o problema para sempre: comprariam meia dúzia de gansos e eles exterminariam todas as cobras. Quando pensavam que o problema estava sanado, alguém descobriu que o sossego da noite havia acabado. O barulho que os gansos, não deixavam ninguém dormir. E tinha outro inconveniente: os gansos traiçoeiros bicavam as pernas que não estivessem protegidas com calças compridas. Morar na zona rural e ter que enfrentar tantos inconvenientes, francamente não é o sossego com que todos sonham na vida! A ecologia faz a cabeça de milhões de pessoas. Mas quando a natureza abre seu leque, é uma correria... Olga Balbo Ferreira Fontes é educadora e escreve neste espaço aos sábados olga_balbo@hotmail
Posted on: Sat, 06 Jul 2013 15:30:38 +0000
Trending Topics
Recently Viewed Topics
© 2015