Maria Angela Mirault escreveu: O brado que ainda não retumbou O - TopicsExpress



          

Maria Angela Mirault escreveu: O brado que ainda não retumbou O brado retumbante, lançado há menos de dois séculos, das margens do Ipiranga, ainda não ecoou em muitos dos nossos corações. Colonizados - entre repetidos anos-novos, salpicados de carnaval, futebol e cerveja - continuamos a fazer o que não gostamos; submetidos às imposições que mal conseguimos suportar. A Independência proclamada por D. Pedro não se efetivou no sete de setembro. Como processo que teve seu início muito antes da Proclamação, carece ainda de sua consolidação na vida nacional brasileira. Os primeiros fios de sua meada começaram a tecer-se pela tomada de atitude individual do primeiro rebelado, sem nome na História, que elencou Tiradentes como signo de resistência e de luta. Enforcado, esquartejado, salgado e tendo suas partes expostas pelas ruas do Rio de Janeiro, era ele um derrotado; hoje, o herói de uma nação ainda em construção. Pedro, ao retumbar “Independência ou morte”, sucintamente, quis dizer à nascente nação brasileira não haver vida sem liberdade; que a morte é melhor do que a dependência e a subjugação a outra potência. No entanto, seu grito ainda não foi compreendido em sua magnífica significação. Cento e vinte e um anos depois, somos um povo que ainda não se apropriou da real dimensão de sua liberdade; categórico universal inegociável e inquestionável para a plenitude de uma vida cidadã. Somos colonialistas e colonizados, em muitos aspectos de nossa vida pública, acomodados no ranço de um passado, sob as amarras de ”Portugal”. Processo que deve perdurar anos a fora - a custa de muitas lutas e conquistas - a Independência de nossa nação constrói-se e construir-se-á no dia-a-dia e pelas atitudes solidárias e, muitas vezes, solitárias, de cada um dos seus cidadãos; heroicos anônimos rebelados. Transformar a situação de dependência econômica, social, política e ideológica em situação de interdependência com outras nações requererá de nós, herdeiros do Ipiranga, amadurecimento, tenacidade, convicção e vontade. Quando nos calamos frente a um Congresso que nos faz engolir a absolvição de um condenado e encarcerado mantendo o seu mandato, na prisão, nocauteados, quase desistimos de lutar. Mas, cadê o povo nas ruas, quando as questões cruciais não lhes fere o bolso? Terá sido a mobilização retumbante que incendiou o país pelos meros 20 centavos? Pois, coisas muito piores estão a fluir, mas, não chegam a ser identificadas como bandeiras de luta de uma nação, que pode, mas que não se levanta. De que adiantou termos tomado ás ruas, em uma catarse colossal e assustadora, se, logo depois, as deixamos ser tomadas pela barbárie? De que adiantou irmos às ruas, para logo depois, recolhermo-nos a nossa insignificância pessoal, e, engolirmos todos os absurdos políticos que torrencialmente demandaram de cima sobre nós, a partir de então? D. Pedro bramiu sua vontade, do Ipiranga, e conclamou: Brasil, ou Portugal; independência, ou morte. A cada voto que alienamos aos interesses espúrios, a cada arranjo que fazemos, ou compactuamos, a cada moeda a que nos vendemos, ficamos à margem, além do Ipiranga e optamos por “Portugal”, aceitamos a dependência, subjugados à dominação do mais forte. Se a cada ato de resistência, voltarmos intimidados ao recesso da nossa individualidade, nada faremos pela Independência proclamada pelo Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil. Que nesse sete de setembro de 2013, o brado retumbante do Ipiranga possa consolidar-se, continuamente, onde quer que estejamos pelo que for que façamos, responsáveis que somos pelo futuro do Brasil. Maria Angela Coelho Mirault – Doutora e Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo – http: mamirault.blogspot Campo Grande, MS, 04 de setembro de 2013O brado que ainda não retumbou (post by SQ)
Posted on: Thu, 05 Sep 2013 23:20:20 +0000

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