O Poeta da Roça Patativa do Assaré Sou fio das mata, cantô da - TopicsExpress



          

O Poeta da Roça Patativa do Assaré Sou fio das mata, cantô da mão grosa Trabaio na roça, de inverno e de estio A minha chupana é tapada de barro Só fumo cigarro de paia de mio. Sou poeta das brenha, não faço o papé De argum menestrê, ou errante cantô Que veve vagando, com sua viola, Cantando, pachola, à percura de amô. Não tenho sabença, pois nunca estudei, Apenas eu seio o meu nome assiná. Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre, E o fio do pobre não pode estudá. Meu verso rastero, singelo e sem graça, Não entra na praça, no rico salão, Meu verso só entra no campo da roça e dos eito E às vezes, recordando feliz mocidade, Canto uma sodade que mora em meu peito. -================================== ARTE MATUTA Eu nasci ouvindo os cantos das aves de minha serra e vendo os belos encantos que a mata bonita encerra foi ali que eu fui crescendo fui vendo e fui aprendendo no livro da natureza onde Deus é mais visível o coração mais sensível e a vida tem mais pureza. Sem poder fazer escolhas de livro artificial estudei nas lindas folhas do meu livro natural e, assim, longe da cidade lendo nessa faculdade que tem todos os sinais com esses estudos meus aprendi amar a Deus na vida dos animais. Quando canta o sabiá Sem nunca ter tido estudo eu vejo que Deus está por dentro daquilo tudo aquele pássaro amado no seu gorgeio sagrado nunca uma nota falhou na sua canção amena só canta o que Deus ordena só diz o que Deus mandou. * * * O QUE MAIS DÓI O que mais dói não é sofrer saudade Do amor querido que se encontra ausente Nem a lembrança que o coração sente Dos belos sonhos da primeira idade. Não é também a dura crueldade Do falso amigo, quando engana a gente, Nem os martírios de uma dor latente, Quando a moléstia o nosso corpo invade. O que mais dói e o peito nos oprime, E nos revolta mais que o próprio crime, Não é perder da posição um grau. É ver os votos de um país inteiro, Desde o praciano ao camponês roceiro, Pra eleger um presidente mau. * * * MINHA SERRA Quando o sol nascente se levanta Espalhando os seus raios sobre a terra, Entre a mata gentil da minha serra Em cada galho um passarinho canta. Que bela festa! Que alegria tanta! E que poesia o verde campo encerra! O novilho gaiteia a cabra berra Tudo saudando a natureza santa. Ante o concerto desta orquestra infinda Que o Deus dos pobres ao serrano brinda, Acompanhada da suave aragem. Beijando a choça do feliz caipira, Sinto brotar da minha rude lira O tosco verso do cantor selvagem. * * * APOSENTADORIA DE MANÉ DO RIACHÃO Seu moço, fique ciente De tudo que eu vou contar, Sou um pobre penitente Nasci no dia do azá, Por capricho eu vim ao mundo Perto de um riacho fundo No mais feio grutião E como ali fui nascido, Fiquei sendo conhecido Por Mané do Riachão. Passei a vida penando No mais crué padicê, Como tratô trabaiando Pro filizardo comê, A minha sorte é trucida, Pra miorá minha vida Já rezei e fiz promessa, Mas isto tudo é tolice, Uma cigana me disse Que eu nascí foi de trevessa. Sofrendo grande cancêra Virei bola de biá Trabaiando na carrêra Daqui, pra ali e pra aculá, Fui um eterno criado Sempre fazendo mandado Ajudando aos home rico, Eu andei de grau em grau Taliquá o picapau Caçando broca em angico. Sempre entrando pelo cano E sem podê trabaiá, Com secenta e sete ano Percurei me apusentá, Fui batê lá no iscritoro Depois eu fui no cartoro, Porém de nada valeu, Veja o que foi, cidadão, Que aquele tabelião Achou de falá pra eu. Me disse aquele iscrivão Frangindo o côro da testa: - seu Mané do Riachão, Este seus papé não presta, Isto aqui não vale nada, Quem fez esta papelada Era um cara vagabundo, Pra fazê seu apusento Tem que trazê documento Lá do começo do mundo. E me disse que só dava Pra fazê meu apusento Com coisa que eu só achava No Antigo Testamento, Eu que tava prazentêro Mode recebê dinhêro, Me disse aquele iscrivão Que precizava dos nome E também dos subrinome De Eva e seu marido Adão. E além da identidade De Eva e seu marido Adão Nome de niversidade Onde estudou Salomão Com outras coisas custoza, Bem custoza e cabuloza, Que neste mundo revela A Escritura Sagrada, Quatro dente da quêxada Que Sansão brigou com ela. Com manobra e mais manobra Pra puder me aposentá, Levá o nome da cobra Que mandou Eva pecá E além de tanto fuxico, O registro e o currico De Nabuco Donozô, Dizê onde ele morreu, Onde foi que ele nasceu E aonde se batizô.. Veja moço, que novela, Veja que grande caipora E a pió de todas ela O sinhô vai vê agora, Para que me apusentasse, Disse que também levasse Terra de cada cratéra Dos vulcão dos istrangêro E o nome do vaquêro Que amansô a Besta Fera. Iscutei achando ruim Com paciênça fraca E ele oiando pra mim Com os óio de jararaca Disse: a coisa aqui é braba Precisa que você saba Que eu aqui sou o iscrivão, Ou estas coisa apresenta, Ou você não se apusenta, Seu Mané do Riachão. Veja moço, o grande horrô Sei que vou morrê dipressa, Bem que a cigana falou Que eu nasci foi de trevessa, Cheio de necessidade Vou vivê da caridade, Uma ismola cidadão! Lhe peço no Santo nome, Não dêxe morrê de fome O Mané do Riachão.
Posted on: Sat, 20 Jul 2013 03:14:29 +0000

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