O declínio dos Maias Pesquisas recentes reafirmam o papel - TopicsExpress



          

O declínio dos Maias Pesquisas recentes reafirmam o papel essencial do clima no colapso da grande civilização que ocupou extensas áreas da América Central Com sua magnífica arquitetura e sofisticado conhecimento de astronomia e matemática, os maias foram uma das grandes culturas do mundo antigo. Embora não utilizassem a roda nem instrumentos de metal, eles construíram pirâmides, templos e monumentos imensos de pedra talhada. Grandes cidades e centros cerimoniais pequenos se espalhavam por toda a planície da península de Yucatã, que abrange parte do México e da Guatemala e quase todo Belize. De observatórios astronômicos como o de Chichén Itzá, eles acompanhavam a trajetória dos planetas e desenvolviam calendários precisos (ver "Astronomia maia", SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL, edição especial no 14, Etnoastronomia). Além disso, os maias criaram seu próprio sistema matemático com base numérica 20 e dominavam o conceito de zero (ver "Aritmética maia", SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL, edição especial no 11, Etnomatemática). Também desenvolveram uma escrita hieroglífica que empregava centenas de complicados sinais. A civilização maia atingiu seu ápice durante o chamado período Clássico (250-950). No auge, em 750, a população talvez tenha ultrapassado 13 milhões. Porém, pouco tempo depois, entre 750 e 950, houve rápido declínio. Centros urbanos densamente povoados foram abandonados, e seus impressionantes edifícios viraram ruínas. A extinção dessa civilização (que os arqueólogos chamam de "o colapso terminal do período Clássico") é um dos grandes mistérios antropológicos dos tempos modernos. O que teria acontecido? Ao longo dos anos, estudiosos propuseram as mais variadas hipóteses para explicar esse declínio: guerras internas, invasão estrangeira, surtos de doenças, dependência da monocultura, degradação ambiental e mudanças climáticas. É provável que a explicação verdadeira seja combinação destes e de outros fatores. Entretanto, nos últimos anos, acumularam-se os indícios de anomalias climáticas perto do fim do período Clássico, o que dá crédito à idéia de que intensas secas tiveram papel preponderante na queda desta civilização antiga. Dado o aspecto das ruínas maias, com cidades enterradas sob densa vegetação florestal, surpreende que o Yucatã seja de fato um deserto sazonal. A exuberância da paisagem depende muito das chuvas de verão, que variam consideravelmente de um lado ao outro da península. A precipitação anual vai de 500 mm ao longo da costa setentrional a 4 mil mm em partes do sul. De junho a setembro, a umidade diminui até 90% e dá lugar a um inverno muito seco, entre janeiro e maio. Esse contraste resulta da migração sazonal da umidade associada à zona de convergência intertropical, também conhecida como "equador meteorológico". Nessa zona, ventos alísios do nordeste e sudeste convergem, forçando o ar a subir, produzindo nebulosidade e chuvas abundantes. Durante os meses de inverno, essa zona de convergência se desloca para o sul, e condições secas prevalecem sobre a península do Yucatã e a porção norte da América do Sul. Com o verão, ela migra para o norte, ocasionando chuvas no Yucatã e no sul do Caribe, as quais revigoram a vegetação. O contraste sazonal obrigava os maias a enfrentar uma longa temporada seca a cada ano. Essa característica do ambiente teve importância especial no Yucatã, onde a água geralmente não flui sobre o solo. Lá, a chuva tende a dissolver as abundantes rochas calcárias, formando cavernas e rios subterrâneos. Por causa disso, não havia povoados ao longo de grandes cursos fluviais, como era comum em outras partes do mundo. Mesmo centros regionais importantes, como Tikal, Caracol e Calakmul desenvolveram-se em locais sem rios ou lagos permanentes. A ausência de água superficial durante quatro ou cinco meses do ano em tais áreas estimulou a construção de sistemas de armazenamento em grande escala. Várias cidades foram projetadas para coletar a água da chuva e canalizá-la em canteiros, escavações e depressões naturais especialmente preparados para impedir que ela se infiltrasse no solo. Tikal tinha inúmeros reservatórios que, juntos, podiam armazenar o suficiente para atender as necessidades de água potável de cerca de 10 mil pessoas por 18 meses. Os maias construíram também reservatórios no topo das montanhas, aproveitando a gravidade para distribuir a água por canais em complexos sistemas de irrigação. Apesar da sofisticação de sua engenharia hidrológica, eles dependiam em última instância das chuvas sazonais para repor seus reservatórios, pois a água subterrânea natural era inacessível em parte considerável de seus domínios. No inovador livro The great Maya droughts (As grandes secas maias), o arqueólogo Richardson B. Gill argumenta de forma persuasiva que a escassez de água foi um fator importante no colapso terminal do período Clássico. Gill reúne enorme quantidade de informações sobre o tempo e o clima modernos, recorre ao registro histórico de estiagens e períodos de fome e apóia-se em vestígios arqueológicos e estudos geológicos para desvendar o clima do passado. Para ilustrar a importância da rocha calcária porosa, por exemplo, ele cita Diego de Landa, bispo de Yucatã, que escreveu em 1566: "A Natureza trabalhou de maneira tão diferente neste país no que diz respeito aos rios e nascentes, que em todo o resto do mundo eles correm sobre o solo, mas aqui eles fluem por passagens secretas subterrâneas". Quando esse trabalho foi publicado, há alguns anos, as evidências mais eloqüentes a favor da hipótese das secas prolongadas vinham de perfurações no sedimento de lagos do Yucatã feitas por David A. Hodell, Jason H. Curtis, Mark Brenner e outros geólogos da Universidade da Flórida. As medições desses depósitos antigos indicam que o intervalo mais seco dos últimos 7 mil anos caiu entre os anos 800 e 1000 de nossa era - coincidentes com o colapso da civilização maia clássica. Estudos posteriores encontraram indícios de um padrão recorrente de secas, o que parece também explicar outras rupturas menos dramáticas na evolução cultural maia. A Conexão Venezuelana Nossa contribuição ao entendimento das condições climáticas durante a época do colapso terminal do período Clássico provém do estudo de um local distante, nunca habitado pelos maias. Junto à costa setentrional da Venezuela situa-se uma notável depressão na plataforma continental, conhecida como bacia de Cariaco. Com profundidades de cerca de 1 km, cercada por declives e pela plataforma rasa, essa bacia age como armadilha natural para sedimentos. A borda erguida ao norte impede a penetração das águas do oceano aberto, mais profundas, e a baixa circulação de água priva o fundo da bacia de oxigênio dissolvido (isso ocorre desde o fim do último período glacial, há cerca de 14.500 anos). O solo lodoso e sem oxigênio é hostil à presença de organismos marinhos que habitam e reviram o fundo em busca de alimento. A integridade dos sedimentos, que em Cariaco são constituídos de camadas claras e escuras alternantes, cada uma com menos de 1 mm de espessura, fica assim preservada. Os fatores que originam essas camadas são bem conhecidos: durante o inverno e a primavera do Hemisfério Norte, a zona de convergência intertropical encontra-se ao sul do equador, e chove pouco sobre a bacia de Cariaco. Nessa época do ano, ventos alísios vigorosos sopram sobre o mar que banha a Venezuela, provocando a subida de águas ricas em nutrientes. Isso permite a proliferação do plâncton que vive perto da superfície. Quando esses organismos morrem, seus pequenos esqueletos de carbonato de cálcio se dirigem para o fundo e formam uma camada de cor clara. No verão setentrional, a zona de convergência intertropical se move continuamente para o norte até assumir uma posição próxima à costa norte da América do Sul. Os ventos alísios diminuem e começa a estação chuvosa; esta aumenta o fluxo dos rios locais, que então transportam uma carga considerável de sedimento em suspensão até o mar. Esses materiais derivados do solo acabam se depositando e formam uma camada escura de grãos minerais em cima do acúmulo anterior de microfósseis claros no fundo oceânico. Embora em outros locais organismos escavadores revolvam tais depósitos sazonais, a anóxica bacia de Cariaco mantém bem definidos esses pares de camadas claro-escuras. Os estratos alternados podem ser contados e na prática representam um relógio de tiques semestrais que os geólogos podem usar para determinar exatamente em que ano os sedimentos foram depositados. Para as pessoas interessadas na história da civilização maia, é uma coincidência feliz que tanto Yucatã quanto o norte da Venezuela passem pelo mesmo padrão geral de precipitação sazonal, com as duas áreas perto do limite norte da zona de convergência intertropical. Portanto, os sedimentos marinhos da bacia de Cariaco guardam muitas informações sobre as mudanças climáticas pelas quais os maias passaram. Começamos nosso trabalho em 1996, quando o navio-sonda científico Joides Resolution, operado por uma equipe internacional de pesquisa denominada Programa de Perfuração do Oceano, navegou até o centro da bacia de Cariaco. Ali, os técnicos perfuraram o solo e retiraram uma coluna de sedimento com 170 metros de comprimento, com o objetivo específico de sondar as mudanças climáticas tropicais. O estudo desses sedimentos, acumulados em enormes quantidades e conservados sem nenhuma perturbação desde a época de sua deposição, ofereceu a nós e a outros geólogos um raro vislumbre em alta resolução do passado distante. Um aspecto importante de nosso trabalho é a medição da concentração de grãos minerais gerados pela erosão no continente sul-americano adjacente para estimar a quantidade de chuvas que caíram sobre ele. . Seria possível determinar isso através do exame direto dos sedimentos sob o microscópio, mas a caracterização de milhares de pares de camadas sedimentares por esse método é extremamente tediosa. Depois de experimentar vários métodos, concluímos que o mais útil era a medição de titânio e ferro, elementos abundantes na maioria das rochas continentais mas ausentes dos restos de organismos marinhos. Níveis elevados de titânio e ferro indicam, portanto, que grandes quantidades de silte e argila foram carregadas pelas chuvas do continente para a bacia. A descoberta desses elementos em abundância em dada camada de sedimentos implica que a precipitação na região - e, por inferência, sobre o Yucatã - deve ter sido alta na época da deposição. Sua ausência, ao contrário, indica chuvas esparsas. As Chuvas no Primeiro Milênio Quantificar a concentração de elementos químicos no material depositado com métodos tradicionais consome muito tempo e ainda tem a desvantagem de destruir a amostra sob estudo. Esses problemas foram superados com a recente introdução da chamada fluorescência de raios X. A técnica consiste na iluminação de uma amostra com raios X e na medição da quantidade de luz emitida em função do comprimento de onda. Uma análise adequada desse espectro de luz (que pode ser inteiramente automatizada) revela a concentração de vários elementos na amostra. No processo, as colunas devem ser partidas ao meio para avaliar a abundância de elementos em seu interior, com escâner apropriado. Esse método produz registros bem mais detalhados que a extração e a quantificação de amostras individuais. Inicialmente, realizamos medições de fluorescência de raios X com um escâner instalado na Universidade de Bremen, Alemanha, onde o Programa de Perfuração do Oceano mantém um repositório delas. Determinamos a concentração de titânio e ferro em espaçamentos de 2 mm ao longo de uma seção sedimentar de interesse que já tinha sido datada por radiocarbono, mas, depois de encontrar variações quase idênticas nesses dois elementos, optamos por rastrear apenas o titânio. Nesse intervalo, e com essa resolução de medição, o traço mais óbvio é o nível geralmente baixo de titânio nas camadas depositadas entre cerca de 500 e 200 anos atrás, período que corresponde ao que alguns climatologistas chamam de Pequena Era Glacial. Esses resultados supostamente refletem condições secas e indicam que a zona de convergência intertropical e sua precipitação associada não devem ter chegado tão ao norte como agora. Encontramos vários outros intervalos com concentração baixa de titânio, inclusive nos sedimentos depositados entre cerca de 800 e 1000 d.C., que correspondem ao período de intensa estiagem inferido por Hodell e colegas pela análise dos sedimentos do lago Yucatã. O trabalho de Hodell dava a impressão de que uma longa "super-seca" havia castigado a terra natal dos maias por um ou dois séculos, com conseqüências devastadoras para a população nativa. Mas tal interpretação incomodava alguns historiadores. Eles sustentavam, baseando-se em indícios arqueológicos, que a cronologia e o padrão regional do colapso variava consideravelmente. Um modelo de "seca que explica tudo" parecia demasiado simplista, dado que o colapso ocorreu aparentemente em diferentes lugares e em diferentes épocas, e até mesmo poupou alguns centros populacionais. Embora a bacia de Cariaco seja bem distante da península do Yucatã, seus sedimentos oferecem a possibilidade de obter uma cronologia extremamente detalhada das mudanças climáticas antigas. Assim, buscamos tirar o máximo proveito desse registro, de modo a obter conhecimento geral mais detalhado do clima durante o colapso maia. Infelizmente, tínhamos atingido a resolução analítica máxima do escâner de Bremen. Contudo, com a ajuda de Detlef Günther e Beat Aeschlimann, do Instituto Federal Suíço de Tecnologia, em Zurique, conseguimos resultados muito melhores, usando um sistema especial de microfluorescência de raios X montado em seu laboratório. Esse instrumento foi projetado para amostras pequenas, não sendo apropriado para longos cilindros de sedimento, mas pôde acomodar pedaços curtos de material retirado deles. O dispositivo permitiu a realização de análises de elementos com espaçamento de 50 micrômetros, o que nas colunas sedimentares de Cariaco corresponde a um período de cerca de dois meses - resolução incrivelmente fina para sedimentos marinhos, já que uma única amostra tipicamente abrange centenas de milhares de anos de história geológica. Com o sistema suíço, medimos dois trechos de sedimento que cobrem, juntos, o intervalo temporal entre 200 e 1000, concentrando-nos nas camadas depositadas durante o colapso terminal do período Clássico. Esse intervalo revelou uma série de quatro mínimos de titânio bem definidos - provavelmente estiagens de vários anos que ocorreram durante um período já mais seco que o normal. Embora a contagem de pares de camadas de sedimento forneça informações precisas sobre a duração dessas secas (de três a nove anos) e sobre o espaçamento entre elas (de 40 a 50 anos), a datação absoluta desses eventos continua imprecisa. As medições de radiocarbono da coluna que usamos, combinadas com a contagem dos pares de camadas sedimentares, parecem indicar que as quatro estiagens ocorreram por volta de 760, 810, 860 e 910, mas na verdade não é possível falar em datas com esse grau de precisão, pois a técnica do radiocarbono tem incerteza de cerca de 30 anos para amostras dessa idade. Cronologia Complexa Os arqueólogos geralmente concordam que o colapso terminal do período Clássico ocorreu primeiro na região sul e central das planícies do Yucatã e que certas áreas ao norte entraram em declínio independentemente cerca de um século depois. Esse padrão de abandono é o oposto do que se esperaria com base na precipitação, que é mais alta no sul que no norte. Alguns historiadores apontaram essa incongruência: para eles o papel do clima no declínio maia não foi importante. Contudo, deve-se levar em conta a facilidade de acesso às fontes de água subterrâneas, que podem sustentar a população durante longos períodos de seca. Tanto agora como durante o apogeu dos maias, os aqüíferos subterrâneos naturais eram importante fonte de água doce para uso humano. Eles são mais acessíveis no extremo norte da península, e os maias foram capazes de atingir o lençol freático nas várias colinas da região (lugares onde o teto de uma caverna subterrânea desmoronou) e de escavar poços. Entretanto, em direção ao sul, a paisagem se eleva e a profundidade até o lençol freático aumenta, o que torna impossível o acesso à água subterrânea com a tecnologia da época. Portanto, os povoados mais ao sul, totalmente dependentes das chuvas para suprir suas necessidades de água, provavelmente eram também mais suscetíveis aos efeitos de uma seca prolongada que as cidades com acesso direto às fontes subterrâneas. Essa diferença crucial ajuda a explicar por que a seca poderia ter causado maiores problemas no sul normalmente mais úmido. Embora haja consenso de que o abandono dos principais centros populacionais começou no sul e se espalhou para o norte, Gill propôs um padrão tripartite de colapso, mais controverso. Com base em análise das últimas datas registradas pelos maias, entalhadas em monumentos de pedra conhecidos como estelas, ele concluiu que houve, de fato, três fases de colapso relacionadas às secas ocorridas entre 760 e 910, com peculiar progressão regional. A primeira fase, segundo ele, ocorreu entre 760 e 810. A segunda estava praticamente encerrada por volta de 860. A terceira e última terminou por volta de 910. Notando uma coincidência entre as datas finais dessas três fases e a cronologia dos períodos de frio especialmente rigoroso na Europa (como mostra o registro de anéis de crescimento de árvores na Suécia), Gill especulou que os despovoamentos ocorreram um tanto abruptamente no fim de cada fase, que eles foram essencialmente resultado das secas e que estas estavam vinculadas às condições frias nas latitudes maiores. O modelo de três fases de colapso, e em especial a base arqueológica para a cronologia proposta, têm sido tema de intenso debate. Há consideráveis divergências, por exemplo, sobre a interpretação das últimas inscrições datadas nas estelas como registros exatos do abandono das cidades. Além disso, Gill considerou apenas os maiores sítios maias em sua análise original. Portanto, há certamente espaço para dúvidas. Ainda assim, os episódios de estiagem que inferimos do registro geológico da bacia de Cariaco coincidem notavelmente com as três fases de abandono propostas por ele. Por exemplo, o início da primeira fase de dispersão do modelo de Gill, por volta de 760, corresponde claramente a uma redução abrupta na precipitação inferida pelos sedimentos de Cariaco. Nos 40 anos subseqüentes, a precipitação parece ter apresentado ligeira tendência a decrescer a longo prazo. Esse período culminou em uma década ou mais de seca intensa, que, dentro dos limites de nossa cronologia, coincide com o fim da primeira fase proposta por Gill. O colapso da sociedade nessa época limitava-se às planícies ocidentais, região com pouca água subterrânea acessível cujos habitantes dependiam quase exclusivamente das chuvas para suprir suas necessidades. O fim da segunda fase de colapso está marcado no registro de Cariaco por um nítido intervalo de baixas concentrações de titânio, ou seja, uma seca extraordinariamente intensa que durou três ou quatro anos. A evasão das cidades nessa fase ficou basicamente restrita à porção sudeste das planícies, região com lagoas de água doce que devem ter secado durante esse período. De acordo com Gill, a terceira e última fase do colapso ocorreu por volta do ano 910, afetando centros populacionais nas planícies centrais e setentrionais. Baixos valores de titânio nos sedimentos da bacia de Cariaco indicam mais um período coincidente de estiagem, de cinco ou seis anos. Embora a correspondência entre o modelo de estiagem de Gill e os nossos achados seja muito boa, admitimos que provavelmente nenhuma causa isolada possa explicar um fenômeno tão complexo quanto o declínio maia. Em seu recente livro Colapso - Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso, Jared Diamond argumenta que pode ter havido confluência de fatores que condenaram os maias: população em expansão que operava no limite dos recursos disponíveis, degradação ambiental na forma de desmatamento e erosão das encostas, crescimento das guerras internas e liderança focada em preocupações de curto prazo. Ainda assim, Diamond admite que uma alteração climática, na forma de secas prolongadas, pode ter ajudado a desencadear os eventos que desestabilizaram a sociedade maia. Alguns arqueólogos salientaram que o controle das reservas de água fornecia uma fonte centralizada de autoridade política para as elites maias dominantes . Portanto, os períodos de seca poderiam ter minado a instituição do governo maia quando as tecnologias e os rituais existentes deixaram de prover água suficiente. Grandes centros populacionais dependentes desse controle foram abandonados, e as pessoas mudaram primeiramente para o leste e depois para o norte durante as sucessivas secas em busca de fontes mais perenes de água. Entretanto, ao contrário do que aconteceu durante os intervalos anteriores de precipitação baixa, aos quais os maias resistiram, o ambiente durante os estágios finais do colapso encontrava-se no limite da capacidade (por causa do crescimento populacional durante os períodos mais úmidos), e a migração para áreas menos afetadas pela seca não era mais possível. Em suma, acabaram as opções. Clima na História Humana A possibilidade de combinar o registro geológico com informações arqueológicas e históricas tradicionais representa um poderoso meio de estudar como uma sociedade reage às mudanças climáticas do passado distante. Embora o impacto socioeconômico dos eventos recentes do El Niño ou da terrível seca que atingiu o centro dos Estados Unidos nos anos 30 - provocando tempestades de poeira que varreram todo o solo para o oceano e causaram a migração de 500 mil pessoas - sejam fáceis de estudar, os climatologistas sabem relativamente pouco sobre as conseqüências de mudanças climáticas mais antigas e longas. Nos últimos anos, contudo, registros de alta resolução de colunas de gelo, anéis de crescimento de árvores, corais e certos sedimentos de mar profundo e de lagos começaram a fornecer uma idéia cada vez melhor da mudança climática nos últimos milênios. A coincidência da seca com o colapso da civilização maia é apenas um exemplo. No sudoeste americano, indícios de uma redução drástica na umidade do ar entre 1275 e 1300, obtidos pelos anéis de crescimento de árvores, levaram à conclusão de que o clima influiu no desaparecimento do povo anasazi, habitante dos penhascos. E existem sinais de que mudanças climáticas semelhantes podem ter sido responsáveis por outros eventos importantes na história humana. O colapso do império acadiano da Mesopotâmia, o declínio da cultura moche na costa do Peru e o fim da cultura tiwanaku no altiplano bolívio-peruano há aproximadamente 4.200, 1.500 e mil anos, respectivamente, foram todos vinculados a secas persistentes de longa duração nessas regiões. Antes de evidências geológicas dessas secas antigas se tornarem disponíveis, cada um desses colapsos culturais, como o dos maias, foi distribuído unicamente a fatores humanos - guerra, superpopulação ou esgotamento de recursos. A ascensão e queda da civilização maia clássica representa um modelo típico de evolução social humana. Portanto, é significativo descobrir que a história dos maias estava tão intimamente ligada a questões ambientais. Se a civilização maia pôde entrar em colapso sob o peso de eventos climáticos naturais, é de interesse mais que acadêmico ponderar como a sociedade moderna se sairá diante de mudanças climáticas incertas nos próximos anos. Entender como as culturas antigas reagiram às mudanças climáticas no passado pode render lições importantes para a humanidade no futuro Tikal report no. 11: map of the ruins of Tikal, El Peten, Guatemala. R. F. Carr e J. E. Hazard. Museu da Universidade da Pensilvânia, 1961. Cultural responses to climate change during the Late Holocene. P. B. deMenocal, em Science, vol. 292, págs. 667-673, 2001. Colapso - Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. J. Diamond. Editora Record, 2006. The great Maya droughts: water, life, and death. R. B. Gill. Editora da Universidade do Novo México, 2000. Climate and the collapse of Maya civilization. G. H. Haug, D. Günther, L. C. Peterson, D. M. Sigman, K. A. Hughen e B. Aeschlimann, em Science, vol. 299, págs. 1731-1735, 2003.
Posted on: Fri, 05 Jul 2013 11:29:11 +0000

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