Ontem, aqui em Atenas, durante o primeiro dia de trabalhos do - TopicsExpress



          

Ontem, aqui em Atenas, durante o primeiro dia de trabalhos do XXIII Congresso Mundial de Filosofia, uma distinta colega de uma Universidade de Israel, encarregue que estava de pronunciar a Ibn Rushd Lecture, defendeu a tese segundo a qual «a religião constitui um obstáculo para os Direitos Humanos». Não me foi possível responder, e ainda bem; não me foi dado contradizer posição tão pouco argumentada, apesar de sofisticada, mas nem por isso deixo de dizer o que penso da conferência da professora A. Biletzki: uma lamentável acentuação de uma frequente tendência em amplos sectores da «intelligentsia» dos nossos dias: negarem o que não conhecem, recusar estima e consideração ao que na realidade julgam ser parte dispensável, ou apenas negativa, da mesma. Confesso que há muito tempo que não assistia a uma conferência filosófica tão ideológica, tão absurdamente feita a partir de um falso, e não verificável, pressuposto. Em minha opinião, dizer que a religião é, como tal, obstáculo aos Direitos Humanos é o mesmo que dizer que a linguagem humana é incapaz de colocar as pessoas a comunicar umas com as outras. Deu pena ter de ouvir uma «devota do secularismo» produzir um discurso de alto nível tão falho de razão e de argumentação. Mau, muito mau mesmo! Digo mau, mas não incompetente, pois o discurso foi mesmo sofisticado, embora, em meu entender, sofisticamente elaborado; digo apenas que a afirmação feita de que a religião constitui um obstáculo para os direitos humanos não tem absolutamente nada em seu favor para além da razão que assiste a afirmação que ontem, aqui em Atenas, teria feito se para isso tivesse oportunidade, afirmação que agora escrevo assim: não há instância que mais tenha contribuído para se chegar às mais recentes formulações do pensamento contemporâneo relativo aos Direitos Humanos do que a Religião. Esse, o meu ponto de partida, para depois qualificar a afirmação do seguinte modo: refiro-me ao Cristianismo, evidentemente! No período de perguntas-respostas, a própria colega vinda de Israel reconheceu que a sua posição é inseparável do contexto em que se insere: não há nada que justifique, tanto em sentido filosófico como em sentido histórico, a afirmação de que a religião constitui o maior obstáculo ao desenvolvimento dos Direitos Humanos. De resto, bem sei acerca dos problemas e de todas as resistências e contradições, por exemplo na própria Igreja Católica, em relação ao processo que na modernidade culminou com a Declaração Universal dos Direitos Humanos; mas que num cenário como o de ontem, o de um Congresso Mundial em sessão plenária, alguém faça uma afirmação tão mal-pensada, deixou-me, francamente, desapontado. Mas os Congressos Mundiais são assim: um espaço por onde passam posições sem conta. O importante, porém, é o de sempre: chegar a pensar em profundidade, seja qual for o tema ou o problema colocado em cima da mesa. E a questão referente à relação entre Direitos Humanos e Religião, ou esta com aqueles, é, certamente, uma das questões mais pertinentes e imperiosas que nos nossos dias a humanidade mais precisa de continuar a afrontar.
Posted on: Mon, 05 Aug 2013 14:04:59 +0000

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