PROCURA-SE UM AMOR Procura-se um amor. Para levar a vida a sério e para passar o tempo. Não precisa ser perfeito, mas que seja, ao menos, sincero. Que saiba contar histórias, partilhar confidências, ouvir casos de infância. Mas que saiba também respeitar nosso silêncio — o grave silêncio das tristezas que ocultamos. Procura-se um amor que saiba enxergar o encanto das coisas simples: passear na calçada, olhar a chuva lá fora, admirar o mar e sua espantosa beleza... Para dançar agarradinho um bolero bem antigo, olhos fechados e rosto colado, como já não se dança mais. Para, debaixo da coberta, nas noites frias de inverno, adormecer bem juntinho, olhando a televisão. Procura-se um amor. Não precisa ser perfeito, mas que tenha, ao menos, coração. Que goste de flor, poesia, pôr-do sol, e se enterneça com os velhos, com os bichos e crianças. Que segure nossa mão no temporal. Que nos faça sentir protegidos quando nosso mundo desaba. Que nos passe a certeza de que, haja o que houver, jamais estaremos sós. Procura-se um amor. Que nos mostre que ainda vale a pena sonhar. Que nos faça esquecer que o mundo lá fora pode ser às vezes muito feio, violento e triste; que, nesse instante mesmo, há pessoas se odiando, se traindo, se matando. Procura-se um amor que nos faça novamente acreditar na vida. Que nos faça descobrir que existe ao menos alguém em quem podemos confiar; alguém diferente da mesmice deste mundo tolo, que nos encha a alma de ternura e saiba despertar em nós toda a beleza guardada, e há tanto tempo sufocada pela desconfiança, o medo de sofrer, o medo de amar. Procura-se um amor. Para passear na calçada, dançar de rosto colado, olhar a chuva em silêncio... Não precisa ser perfeito, mas que seja, ao menos, sincero. Que tenha, ao menos, coração
Posted on: Wed, 10 Jul 2013 22:26:17 +0000
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