Por Marcelo Tomassini Algumas considerações sobre a proposta - TopicsExpress



          

Por Marcelo Tomassini Algumas considerações sobre a proposta sintética da reforma curricular feita pelo prefeito Haddad, para dividir com meus colegas professores. Primeiramente é importante contextualizar algumas questões. 1. Haddad foi eleito por ampla maioria dos professores da rede municipal, visto a total rejeição ao Serra. Uma parte destes votos foram votos úteis, o que não deixa de ser um apoio. 2. Haddad enfrentou forte greve, de 22 dias na rede municipal no primeiro semestre. Teve dificuldade de dialogar com a categoria, ao estar mais preocupado em quebrar o sindicato ( Fonseca) atuou de forma extremamente autoritária com propostas que nem governos clássicos da direita haviam feito até então. (acordos de fim de possibilidade de greve até o fim do seu mandato; faltas injustificadas, corte de pagamento dos grevistas, propagandas mentirosas para jogar a população contra os professores etc). Perdeu parte importante do apoio dos professores. 3. No acordo da greve, não cumpriu parte importante deles. O que aumentou a desconfiança com relação ao seu governo. 4. Apontou semanas atrás um debate de "ampla reforma curricular" sem consultar os professores. A comunidade escolar ficou sabendo deste debate via imprensa. No dia 15 de agosto saiu o projeto de reforma curricular e a promessa de consulta pública, projeto este sem a participação dos professores, e com uma consulta pública de um mês via internet! Não considerou o Simpeem nosso interlocutor privilegiado e abriu uma consulta pública com um link sugestões na internet. Simplesmente patético. 5. O projeto de reforma não toca nos pontos substanciais e estruturais da profissão. A. Salário, (para tirar o professor do acúmulo de cargos) B. Plano de Carreira, C. Diminuição dos alunos em sala de aula. D. Jornada sem aluno. A maioria das escolas municipais tem cerca de no mínimo 35 alunos em sala de aula. A proposta do PL de Toninho Vespoli propõe 25 alunos. Não foi debatida. Por hora, algumas considerações sobre esta tabela retirada do projeto de reforma curricular: A tentativa de controlar o trabalho docente é uma prática de vários governos de várias cores diferentes. A tese central é: a crise da educação passa pela crise do trabalho do professor. O professor é o responsável por esta crise educacional. E o problema é exclusivamente de metodologia, técnico. As tentativas de controle do trabalho docente na educação no plano mais amplo, são resultado do próprio controle do trabalho na perspectiva do capital. Tornar o trabalho mais produtivo é o desafio do capitalista. Taylorismo, Fordismo e mais recentemente o Toyotismo são formas histórias de ideologias que ultrapassaram os limites da fábrica e adentram todos os setores da produção, produtivos ou improdutivos, materiais ou imateriais. Acontece que a escola é estruturalmente organizada em um tempo fordista. Sinais, cadeiras enfileiradas, horários, disciplinas, hierarquia bem definida, conteudista etc... As novas formas de organização do capitalismo exigem uma escola adequada ao modelo toyotista de capitalismo: trabalhadores polivalentes, equipes pequenas de trabalho, a ideologia do "vestir a camisa da empresa", meritocracia, projetos construídos em várias áreas, atrelamento de salário aos resultados, e ao desempenho; o próprio colega de trabalho torna-se parte do seu controle; controle do tempo livre do trabalhador ( o não trabalho está sob a lógica do trabalho). Os dois modelos fordista ou toyotista tem um objetivo: capturar o trabalhador e elevar sua produtividade, para enriquecer o Outro, não a si mesmo, nem aos seus colegas de trabalho. Escola não é empresa; há uma perspectiva social na educação. O tempo do capital não é o tempo do social. São lógicas diferentes. Nossa "matéria prima" é gente jovem, que expressa todas as contradições de sua territorialidade. Nossa política educacional, portanto, é pública. Relocalizar o conceito de PÚBLICO, e os desafios deste público é o primeiro passo quando se vai discutir educação. Não se faz educação sem profissionais de educação, sem considerar que são capazes de gerenciar os espaços públicos da escola, sua regras, seu cotidiano com autonomia. Toda proposta que vem de cima para baixo reproduz portanto uma lógica estranha ao público e representa justamente estas ideologias da produtividade na escola. Na tabela abaixo vemos que a maioria das estratégias do governo são de controle do trabalho docente. A definição de "provas bimestrais", independente do trabalho realizado em sala de aula, desconsidera a autonomia da escola e do processo de aprendizagem do aluno. Cria-se um ritmo de trabalho mediado pela prova. As escolas particulares com sistemas apostilados, terceirizados, representam isto. A perda do controle produtivo em sala de aula. "Fornecimento de questões". Para o professor que acumula cargo, ter um banco de questões parece ótimo, mas não se resolve problemas estruturais, dourando a pílula. Neste sentido, o fornecimento de questões tem um objetivo: estabelecer o conteúdo dado na escola. Controla-se o conteúdo da aula e se esvazia o tempo de elaboração do professor. Apertam-se parafusos como na linha de montagem fordista. "Banco de experimentos e projetos". A palavra PROJETO exige tempo, e não é o tempo dos "bancos" de exemplos. Para um aluno do ensino fundamental elaborar um projeto o professor tem que ter tempo para orientação. Não se trata de modelos, mas de relação com o aluno. E isto esta reforma curricular não oferece. Neste sentido, uma ideia aparentemente boa torna-se um engodo, porque entra em contradição com o espaço prático educacional que temos. "Nota de zero a dez". Hoje a prefeitura funciona com NS, S, PS (Não satisfatório, Satisfatório, Plenamente Satisfatório). A nova proposta fortalece a necessidade de controle mais detalhado do aluno, e consequentemente do próprio trabalho do professor. Na prática, não acharei estranho se trabalhos diferenciados que valorizem outras competências dos alunos sejam suprimidos para realização de provas objetivas devido a esta mudança de (aparentemente) nomenclatura. "Boletins enviados para casa". Por que? Os pais não podem vir a escola pegá-lo? Ouvir um pouco as questões referentes aos problemas da escola. Deseduca a comunidade. "Recuperação em ano letivo". Já acontece. No aguardo para ver as melhores condições de trabalho. Curioso. "Recuperação intensiva nas férias". Será que o aluno não precisa de férias? Será que o professor também não precisa de férias? No Estado tal prática ocasionou a falta de professores para lecionar. Afinal, não dá para trabalhar nas férias com uma hora aula de menos de 10 reais. Com todo respeito aos meus colegas que optaram "voluntariamente" para isto. Há uma tendência de transformar a escola em um espaço de atendimento 24 horas. Não preciso dizer que isto não é escola, e expressa a própria crise de lazer, e atividades culturais que o Estado (não) oferece as regiões periféricas de SP. "Lição de casa". Esta é uma das propostas mais patéticas. Quer dizer que quem vai determinar a lição de casa é alguém externo ao trabalho realizado em sala de aula? É um desrespeito total ao professor, a escola, a dinâmica do funcionamento da escola. Esta proposta é em um certo sentido até ingenua, acredita que por este motivo os alunos irão fazer a "lição de casa". O próximo passo do governo é por um "fiscal de lição de casa" na casa dos pais e na sala dos professores. "Fornecimento de cadernos interdisciplinares" só é útil se houver tempo para os professores debaterem interdisciplinariedade. É preciso transformar os espaços da escola e de planejamento em espaços realmente interdisciplinares. Uma proposta que pode(?) ser boa. Para não dizer que só falo mal. "Dependência". Acho que este ponto diz respeito a reprovação. Além da possibilidade de reprovação dos 3 ciclos, também nos 7 e 8 anos autorais. Portanto, em cinco momentos diferentes. Há uma desconfiança muito grande desta proposta na categoria de professores. Primeiro porque reprovar o aluno pode significar aumentar as salas de aula no ano seguinte, ou como no Estado, fazer uma sala de aula só com reprovados, o que é no mínimo estranho do ponto de vista pedagógico. A solução do problema da educação não está na reprovação. Ela é um aspecto aparente de um problema maior: a falta de autonomia do professor ( que estas propostas fortalecem ) e a falta de autoridade ( resultado de como a sociedade enxerga a escola e da desvalorização salarial do trabalho docente, pois autoridade simbólica é autoridade real, concreta). O excesso de disciplina nas escolas assim como a necessidade de reprovação refletem mais a crise da escola do que sua solução ou virtude. O debate aqui perpassa por outra questão, que envolve que projeto escolar é necessário para cada unidade escolar. É preciso dar tempo para a comunidade escolar responder esta questão. A reprovação ou não é parte deste projeto. Portanto, aprovar automaticamente é tão ruim quanto dizer em qual série o aluno pode(deve) ser reprovado. Neste sentido a crise fundamental é: não se confia no trabalho docente!
Posted on: Tue, 20 Aug 2013 03:57:01 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015