Relato do primeiro Rock In Rio, com a presença do Bruce Dickinson - TopicsExpress



          

Relato do primeiro Rock In Rio, com a presença do Bruce Dickinson do Iron Maiden andando pelo Rio recitando poesia. Há de se lembrar os incautos que um dos grandes clássicos do Iron, a música The rime of the Ancient Mariner" é uma versão do maravilhoso poema do inglês Coleridge. Livro que coloquei Sábado na estante de lançamentos da Biblioteca... hehehe Notícias do Eldorado - Rio de Janeiro, 1985 FABIÁN CASAS tradução FRANCESCA ANGIOLILLO Naquela época chegavam, por primos ou amigos mais velhos, notícias do Eldorado. Eles haviam estado lá e o que contavam era extraordinário. Muitas mulheres, divertidas e nada histéricas como as argentinas. E muita vegetação e praias longuíssimas, de areia branca, como nos nossos sonhos. Diferentemente do que afirmou Paul Nizan no começo de seu romance "Aden, Arábia", eu tinha 20 anos e pensava estar na idade mais linda da vida. Mas justamente por ter 20 anos não podia deixar o país sem permissão dos meus velhos. A mídia havia informado: no Brasil, um país vizinho, teria lugar o Rock in Rio, um festival de música que unia grandes bandas e a paisagem que para nós era a antecipação do paraíso na terra. Eu e quatro amigos do bairro decidimos fazer um plano para estar lá. Vendemos roupa, instrumentos, discos, drogas. Até organizamos uma festa, na qual fiz as vezes de DJ para descolar cruzeiros. Era para isso que os queríamos: cruzar a linha de sombra, ir embora. Conseguimos o dinheiro, e meu pai assinou a permissão. Pulando de um micro-ônibus infernal para outro, adentramos o Brasil, o país de Pelé, de Caetano, de Gal Costa, de Roberto Carlos. Depois de uma viagem interminável, chegamos ao Rio e descemos para esticar as pernas, mochilas no ombro, vagando pelo calçadão. Era como ter vivido a vida toda em branco e preto e descobrir a cor. As pessoas gritavam, cantavam. As mulheres sorriam, pediam para falarmos "argentino", diziam que adoravam nosso sotaque. Depois de dois dias dormindo numa praia e com as entradas para o festival no bolso, já estava falando portunhol. Eu também queria ter 1 milhão de amigos! E, se todos fossem mulheres, tanto melhor! Nessas lembranças, rumamos para os portões do festival; levamos uma barraca para dormir ali, sem pagar hotel. Somos como um caracol fosforescente, no bolso levamos ácido, que vamos começar a ingerir assim que comece a festa. Conosco, vão umas brasileiras que acham que parecemos os Beatles. Rod Stewart toca com uma banda incrível; Al Jarreau se apresenta fazendo sons com a boca desses que só os cães escutam e com os quais enlouquecem. Vou ao delírio com Ney Matogrosso, com sua liberdade, seu despudor. Tem o torso nu e usa uma calça justa coberta de plumas (se fosse na homofóbica Buenos Aires, o matariam. Aqui somos todos andróginos). Numa noite, saio da barraca e vejo sobre o palco um gigante dançando ensandecido. Fico achando que é coisa da minha cabeça, com aquele tanto de ácido, mas não: é Eddie, o boneco que se sacoleja no palco do Iron Maiden. A festa é total. Chove e tudo está enlameado e escutamos o melhor do rock e estamos a ponto de superar a forma humana. Mas, na vida, como se sabe, há que aprender a lidar com a frustração. Enquanto tirávamos um cochilo na barraca, aquelas garotas que nos adoravam nos levaram tudo: mochilas, documentos, livros. Ficamos com a roupa do corpo. Andei uns dias pelo Rio, pedindo dinheiro para comer, vestindo bermuda, havaianas e regata. Antes de conseguir voltar para casa com a ajuda de um amigo do meu pai, topei na rua com Bruce Dickinson,o vocalista do Iron Maiden. "O que houve com a sua cabeça?", perguntei. "Cortei quando bati na cabeça da guitarra, sangrou à beça", disse. Era um cara tranquilo, ninguém diria que era de uma banda de metal. Disse a ele que tinham nos roubado, e ele morreu de rir. Contei que o que mais lamentava era a perda do meu livro de bolso de Ezra Pound. Ele me disse que, para ele, Pound era um mestre. Recitou para mim um poema genial, que dizia algo assim: "Eu, que tinha você entre as coisas essenciais/ me enraivecia ao ouvir seu nome/ em meio a lugares banais". Ao voltar para Buenos Aires, procurei o poema de Pound, achei-o e o traduzi. Isso foi há muito tempo. Agora, parece que vou voltar ao Brasil.
Posted on: Sun, 15 Sep 2013 23:39:16 +0000

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