Via Alan Shivas: Relato do que vi e do que acho que acho sobre o - TopicsExpress



          

Via Alan Shivas: Relato do que vi e do que acho que acho sobre o ato de ontem, 20 de junho. Como várixs compas que tem alguma vivência em militância, ação direta e manifestações, fico o tempo todo num misto de alvoroço, receio e tentativas constantes de analisar tudo o que tá rolando. Tenho um monte de idéias e reflexões na cuca, mas o fato é que reconheço que, pra além das ações do MPL, não consigo ainda ter clareza sobre as demais. Por isso o que posso (e acho que devo) fazer pra ir tentando formular e elaborar, é estar nas ruas todos os dias que houver ato. Importante também dizer que esse relato é sobre forma e não sobre conteúdo. Nessa quinta-feira, 20 de junho, integrei essa mega-manifestação na esplanada. Acho que tinham umas 50, 60 mil pessoas. Houve claramente duas manifestações compondo o ato. Manifestação 1 - Ficava mais para trás, do ponto de vista do congresso, era bastante coesa e facilmente identificada: roupas com as cores da bandeira, faixas de "gigante acordou" e "verás que o filho teu não foge à luta" e cânticos seguindo esse tom mais ufanistas dos cartazes e também de tentativas de ganhar a simpatia do cordão gigantesco de policiais, do tipo "Policial/levanta mão/se você é contra a corrupção". Ah! E havia ainda muitas máscaras do V de Vingança por ali. Outra predominância era a cor da pele. Maioria esmagadora de brancxs. Manifestação 2 - Lá no front um outra manifestação acontecia. Poucas fantasias, muito menos cartazes, moçada com pano/camisa cobrindo o rosto, quase todxs com um vinagrezinho no bolso ou na mão e, se não era predominante, era no mínimo muito significativa a parcela de gente da perifa e de negros. Os gritos e cânticos eram bem mais intensos, incentivando a ocupação e chamando xs demais manifestantes pra ação. Tudo isso cara a cara com o cordão policial. Tomando a cada meia hora uma sessão de gás e spray que faziam muita gente desmaiar e vomitar. Dentre as coisas que ouvi, algumas me chamaram atenção, como "Policial, tu sabe como tu vai voltar pra casa? Porque eu não sei. Meu ônibus vai parar de passar daqui a meia hora!" Pra mim tava tudo começando a ficar mais explicado. Existia uma separação de classe dividindo a marcha. Inclusive aconteciam muitas agressões verbais entre as manifestações 1 e 2. Apesar de que a 2, a do front, tentava sem muito sucesso convocar a participação de quem ficava mais em cima com gritos de "Desce todo mundôôô". As ações de ambas as começaram a fazer muito mais sentido. Era o cotidiano socioeconomico materializado e estratificado na rua. A manifestação 1, mais rica e branca, tava lá porque tá cansada(que perigo!) de tudo. Talvez até da sua própria existência, cada vez mais confusa entre o real e o virtual, como se via lá em fogueiras de jornal que faziam pra tirar fotos em seus celulares mascarados de V de vingança com fogo e o congresso atrás. Vi essa cena umas 5 vezes. Mesmo indo pra rua, essa manifestação não quer sair da sua zona de conforto. Ficavam lá cantando o hino e gritando "sem violência", a espera que os peões desse tabuleiro social, os chamados vândalos da manifestação 2, fizessem algo de novo, algo de diferente, que furassem o bloqueio policial para, aí sim, após os peões tomarem muita porrada, gás, spary e fossem presos, pudessem subir sem riscos a rampa do congresso pra poderem tirar mais fotos lá de cima com suas máscaras de V de Vingança. Ontem não houve esse furo de bloqueio(apesar de ter havido muita porrada, gás e bombas), o que deve ter frustrado muita gente que ja tava com celular na mão e máscara no rosto a postos pra 3x4 do facebook. Já a manifestação 2, bem menos rica e branca, chamada de vândala, de violenta, residia justamente no vandalismo e na violência cotidiana a motivação das suas ações ali. A impressão que dava é que doía menos a porrada, ardia menos o gás porque é uma gente já bem mais calejada. Mais acostumada a tomar a porrada física dos aparatos do Estado e a porrada psicossocial da parcela hegemônica da população. Enquanto a manifestação 1 os chamava de vândalxs e violentos, elxs davam as costas e pouco se importavam pois ali era a chance e a hora de gritar exatamente a mesma coisa, mas para outro antagonista, o Estado: "Puta que pariu/violência é o congresso do Brasil", "Policial cuzão/larga a arma e vem na mão", dentre outras. Quebrar meia dúzia de vidros no Itamaraty, um pedacículo do vitral da catedral, como disse o Boechat, "não é vandalismo, é tumulto". E o tumulto vai continuar acontecendo, mais vidros quebrarão, mais gente vai tomar porrada e me parece que a divisão entre manifestações num mesmo ato irá cada vez mais aumentar. E por favor, não me venham com papo de "quebrar prédio público vai ter que consertar com o meu dinheiro. isso é terrível!". Seu dinheiro, colega, tá se esvaindo nesses prédios todos os dias. Acha mesmo que um vidro quebrado vai abalar as finanças e quebrar a banca? Não quero terminar fazendo nenhuma grande conclusão, até porque, por mais adjetivado e claramente enviesado, isso aqui é pra ser um relato e, como eu disse, ainda to tentando entender muita coisa também. Mas eu já sei em qual manifestação estarei no próximo ato. E aos que não tem participado por receio de quem pode parelhar isso tudo, ou que já ta tudo dominado por esse ou aquele lado/partido/movimento/mídia, venha, participe e veja que ta tudo em aberto.
Posted on: Fri, 21 Jun 2013 19:28:57 +0000

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