uma pergunta, se prometer responder com sinceridade. Quanto tempo - TopicsExpress



          

uma pergunta, se prometer responder com sinceridade. Quanto tempo durou a sua mais demorada história de amor? Não estou me referindo ao Tomas nem a sentimentos sonhados, mas de relação vivida. Dois, três, quatro anos, quem sabe cinco? Pouco importa, dizem que o amor dura sete anos. Vamos, seja honesta e responda. Você seria capaz, por sete anos, de se oferecer a alguém sem reservas, completamente, sem se conter, sem apreensão nem dúvida, sabendo que essa pessoa que você ama mais do que qualquer outra coisa no mundo vai esquecer quase tudo do que vocês viveram juntos? Vai aceitar que todo o seu cuidado, seus gestos de amor, se apaguem da memória e que a natureza, que tem horror do vazio, preencha um dia essa amnésia com críticas e remorsos? Sabendo que tudo isso é inevitável, teria ainda força para se levantar no meio da noite se a pessoa amada estivesse com sede ou simplesmente tivesse tido um pesadelo? Vai ter vontade de diariamente, pela manhã, preparar o café para essa pessoa, se esforçar para estar presente no dia dela, diverti-la, contar histórias se ela se entediar, cantar para ela, sair para que ela tome um pouco de ar, mesmo que lá fora faça um frio glacial; e depois, à noite, ignoraria o cansaço, viria à cama dela para sossegá-la, falar de um futuro que ela necessariamente vai viver longe de você? Se a resposta para cada uma dessas perguntas for afirmativa, nesse caso me desculpe por ter te julgado mal, pois você realmente sabe o que é amar. -- É da mamãe que você está falando? -- Não, querida, é de você. O amor que eu acabo de descrever é o de um pai ou o de uma mãe pelos filhos. Quantos dias e noites passados a cuidar, a vigiar a menor possibilidade de perigo, a olhar, a ajudar a crescer, a secar as lágrimas, a fazer rir; quantos parques no inverno e praias no verão, quantos quilômetros percorridos, palavras repetidas, tempo dedicado. E no entanto, no entanto... a partir de qual idade se guardam as primeiras lembranças da infância? Pode imaginar a que ponto é preciso amar para aprender a viver para vocês, sabendo que vocês vão esquecer tudo daqueles primeiros anos e que, nos anos seguintes, vão se ressentir do que não se fez direito? E que virá com toda certeza o dia em que vocês nos deixarão, orgulhosos da liberdade adquirida? Você me acusa de ter sido ausente; pode imaginar o quanto é terrível o dia em que os filhos vão embora? Já imaginou o gosto dessa ruptura? Vou contar o que acontece, a gente fica ali como um idiota, na soleira da porta, vendo vocês partirem, se convencendo de que é preciso incentivar essa separação, se alegrando com a irresponsabilidade que anima vocês e nos arranca um pedaço do ser. Fechada a porta, é preciso reaprender tudo; preencher os cômodos vazios, não controlar o barulho dos passos, esquecer os estalos tranquilizadores da escada quando chegavam tarde e podíamos finalmente dormir sossegados, passando no entanto a ser preciso ir buscar o sono em vão, já que vocês não estão mais prestes a chegar. Viu, minha Julia, mesmo assim, pai ou mãe nenhum se vangloriam e é isso amar, sem que se tenha outra escolha, uma vez que nós amamos vocês.
Posted on: Sun, 17 Nov 2013 20:45:30 +0000

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