- E ai garotão está pensando em partir e deixar seu irmão aqui - TopicsExpress



          

- E ai garotão está pensando em partir e deixar seu irmão aqui sozinho? A visão ainda estava embaçada, acostumando-se lentamente com a forte iluminação do ambiente, porém o som daquela voz característica era perfeitamente audível e inconfundível. - Onde estou? - eu disse confuso enquanto esfrego os olhos na tentativa de enxergar com mais clareza a imagem de meu melhor amigo a me olhar. - Você está hospitalizado por consumo excessivo de medicamentos, ou se preferir superdosagem, ou a modo popular "overdose". O que você está pensando hein seu maluco? - irritado deu um tapa em minha cabeça. - Hey! - reclamei esfregando a cabeça ainda dolorida, não pela pancada recebida, mas por ter passado tanto tempo dormindo. Jonas é um sujeito metido a durão. Magro, loiro, olhos verdes, um metro e oitenta de altura, rosto afunilado e voz rouca de tanto fumar. É um cara difícil de lidar devido possuir uma personalidade forte e destemida. Ele não mede palavras e é duro no falar. Mas no fundo possui um bom coração, é sincero e verdadeiro sempre disposto a ajudar quando necessário. Depois de mim ele é a pessoa em quem eu mais confio. - Sabe o que eu deveria fazer? Eu deveria matar você, esganar você de uma vez seu "bocó"! Me obrigando a sair de minha rota pra te visitar porque se tornou um viciado em medicamentos. - me censurou apontando o dedo em meu peito. Virou-se, passou a mão na cabeça e voltou a olhar para mim. Meneou a cabeça e continuou o sermão. Permaneci calado. - Poxa cara não faz mais isto, droga! - socou a parede, enfiou a mão no bolso e puxou um maço de cigarros. Escolheu um, o colocou na boca e o ascendeu com o isqueiro. Caminhou até a janela, se debruçou puxou um trago, soltou a fumaça. Sempre que ficava nervoso, este mesmo ritual se repetia, eu já estava acostumado. O calor e a fumaça daquele pequeno composto de ervas envolto em um papel foi a única forma que encontrou para acalmar os nervos, esfriar a cabeça. Novamente puxou mais um trago, tão logo veio a enfermeira chefe do quarto o advertir. Ou melhor dizendo, pregar seu sermão. - Senhor, por favor aqui é um local de pessoas debilitadas, é proibido fumar aqui. Vou pedir que apague o cigarro e se retire por favor. Vamos, me acompanhe até a saída. - o censurou com ar de chefona, porém educada trazendo seguro em suas mãos um cinzeiro. - Você escapou desta vez Natan, sorte sua eu ter acendido este cigarro porque se não você ia ver só. - olhou para o cigarro na mão e para o cinzeiro ainda seguro pelas mãos envelhecidas da enfermeira. A olhou firme nos olhos, olhou para mim, tornou a olhar para a enfermeira com olhar fulminante. Amassou o cigarro no cinzeiro com força e o soltou. - Eu sou um policial. Eu sou a lei, e exijo ser respeitado como um homem da lei. - Tudo bem soldado, vou me lembrar de dizer isto para meu marido, o capitão Oliveira para saber o que ele pensa a respeito de policiais que deixam a rota e fumam em horário de trabalho e em local inapropriado. - alfinetou a enfermeira deixando escapar um leve sorriso sarcástico no rosto. Naquele momento não pude conter o riso. Natan olhou para mim com fúria e balbuciou baixinho. - Quando você sair daí, eu te bato... - fiz sinal com as mãos acenando um tchau sarcástico. Natan olhou para a enfermeira novamente, colocou o quepe com força na cabeça e saiu derrotado, mas sem perder a postura e a pose de durão que tentava manter houvesse o que houver. Algumas horas mais tarde recebi alta e fui encaminhado a uma psicóloga do hospital. Já estava fadigado de ir a psicólogos para responder as mesmas perguntas e escutar os mesmos conselhos de sempre: "Como se sente?", "Como você lida com isto?", "Você precisa superar". Algo dentro de mim sempre me levava a acreditar que eu poderia obter algum resultado satisfatório em algumas destas seções, então eu sempre acabava cedendo ao pedido dos médicos. Caminhei pelos corredores frios e esbranquiçados, iluminados como uma geleira iluminada pelo sol. Subi escadas, caminhei por mais um pequeno corredor e cheguei até meu destino. A placa na porta identificava a sala: "Dr. Ravena Silva". O coração começou a acelerar, a ansiedade tomou conta de mim como um mar em fúria ao redor de um pequeno bote. Novamente teria de desenterrar meu passado cruel desenterrando junto com ele a pessoa que mais amei na vida. Iria desvendar uma história de terror, um pesadelo no qual eu era o personagem principal. Um pesadelo sombrio do qual eu jamais conseguirei acordar. Continua...
Posted on: Wed, 09 Oct 2013 01:30:20 +0000

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