A Completa irrelevância do Argumento do Ajuste-Fino - TopicsExpress



          

A Completa irrelevância do Argumento do Ajuste-Fino (Fine-Tuning) Prévia da minha primeira tradução de um artigo da Secular Web. É uma refutação ao argumento do Ajuste-Fino (Fine-Tuning para o mais chegados). Ainda faltam umas 5 linhas, que são detalhes adicionais finais, e logo, vou transformar num pdf e também postar no meu futuro site ou blog. (Depois de pedir autorização da Secular). Por Horia Plugaru (Traduzido por Alberto Martyn) Publicado originalmente em: infidels.org/kiosk/article858.html (Acessado em 15/06/2013) O Argumento do Ajuste Fino sustenta que, se algumas ou todas as leis ou constantes vigentes em nosso Universo tivessem sido diferentes numa escala de variação de apenas alguns pontos percentuais, as condições de vida (humana) nunca poderiam ter surgido. Assim, continua o proponente ao Ajuste-Fino, é extremamente improvável que a vida no universo é apenas um acidente do acaso. Então, é muito mais razoável pensar que um ser sobrenatural, inteligente e poderoso “afinou” o Universo a fim de sustentar a vida. O famoso teísta Alvin Plantinga escreve: “Algumas maneiras de se ver essas aparentemente enormes coincidências, é vê-las como fundamentos a alegação teísta de que o Universo foi criado por um Deus pessoal e também, como fonte de embasamento para um argumento teísta, o argumento do Fine-Tuning. É como se houvesse um grande número de botões giratórios num painel, que têm de ser muito bem ajustados, mas somente dentro de limites muito estreitos para que a vida seja possível no nosso Universo. É extremamente improvável que isso aconteça por acaso, mas muito mais provável que isso aconteça por obra de alguém como Deus.” [1] Pensadores ateus propuseram uma série de ataques ao Ajuste-Fino, tentando mostrar que não sabemos se a existência de vida é realmente improvável dentro de um quadro naturalista. No site Secular Web, a página dedicada ao Ajuste-Fino [2], demonstra algumas destas objeções: • Os valores de várias constantes físicas não são realmente "ajustáveis" e, portanto, não poderiam ter sido "ajustadas" para valores diferentes do que os que observamos (Hurben, Drange); • Alterar os valores de várias constantes não é, com efeito, tornar o surgimento da vida improvável (Stenger); • A possibilidade de múltiplos universos implica que o "Ajuste-Fino" pode ser uma ilusão (Carrier, Drange). Neste artigo vou trabalhar sob a suposição de que, todas as objeções acima demonstradas para o Ajuste-Fino, falham. Assim, vou assumir que um universo propício para a vida é extremamente improvável, de um ponto de vista naturalista. Dada esta observação, segue-se somente dela que a existência de um criador pessoal do universo é provável? Não é bem por aí, e vou mostrar por que: Parece-me que a partir de: P: Uma configuração única extremamente improvável de coisas X aconteceu. [3] Não se segue que: R: X provavelmente foi provocado por um agente consciente. O que de fato se segue de P, é uma reivindicação muito mais modesta: S: Nós devemos investigar, para saber se há um agente consciente envolvido na ocorrência de X. Em outras palavras, P apenas nos alerta para a possibilidade de que X pode ter sido causado ou trazido à existência por um agente pessoal. Então, apenas se e depois de encontrar evidências específicas de que um agente pessoal estava envolvido, é que temos razão para concluir que X foi provavelmente (ou muito provavelmente ou certamente, dependendo da força da evidência), causado por um ou mais agentes pessoais [4], pois, a improbabilidade inicial de X ocorrer sem a intervenção de um agente intencionado, não tem relevância no estabelecimento desta conclusão, a de que X foi causado ou trazido a existência por um agente pessoal. P indica apenas que devemos avaliar a possibilidade de uma explicação de X em termos de uma intenção consciente, nada mais, nada menos. Por outro lado, vamos supor que, depois de inúmeros exames detalhados e cuidadosos, não encontramos nenhuma evidência plausível de que um agente pessoal estava envolvido na aparição de X. Dada a enorme improbabilidade inicial de X acontecer por acaso e, portanto, a baixa credibilidade desta hipótese, podemos querer continuar procurando por melhores explicações. No entanto, o fato de que a instanciação aleatória de X é extremamente improvável, não significa automaticamente que a hipótese concorrente é mais plausível, aliás, a mesma irá tornar-se credível se e depois de encontrarmos uma boa evidência em seu apoio. Até encontrarmos o tipo de evidência que estamos procurando, a única conclusão razoável a ser tirada, é que X surgiu por acaso. Esta conclusão pode parecer implausível ou contra intuitiva, mas o fato é que, enquanto a probabilidade de X acontecer por acaso é quase zero (mas acima de zero, porque é logicamente possível), a hipótese concorrente também tem quase zero de poder de persuasão (é acima de zero, simplesmente porque ela também é logicamente possível), uma vez que não conseguimos encontrar nenhuma evidência que sustentasse a mesma. A Navalha de Occam, que diz "selecione, entre hipóteses concorrentes, a que assume o menor número de premissas e, assim, oferece a explicação mais simples para o efeito" nos justifica a respeito da escolha hipótese de X ocorrer por acaso. Vamos imaginar a seguinte situação: há uma loteria realizada apenas uma vez, com um enorme prêmio em dinheiro. Um bilhão de bilhetes foram impressos, cada um contendo uma combinação única de um milhão de números aleatórios. O bilhete premiado tem que conter todos os números corretos, exatamente na ordem correta. Smith comprou um bilhete, todos os outros bilhetes não foram vendidos e, ao final do sorteio, Smith acerta os números e ganha. O ocorrido é de fato surpreendente, e algumas pessoas podem suspeitar de que aconteceu uma fraude na loteria. Mas temos o direito de dizer "uma vez que as chances de Smith ganhar na loteria são astronomicamente pequenas, ele ou alguém (provavelmente) fraudou a loteria"? Teríamos justificativa para retirar das mãos de Smith o prêmio? De forma alguma. O que deveria ser feito é solicitar investigações de peritos especializados em fraudes em jogos, para identificar vestígios de fraude na loteria em questão. Se forem encontradas evidências, então, é claro, segue-se que a loteria foi (provavelmente) fraudada e somos justificados em tomar o prêmio de Smith, e processar a ou as pessoas envolvidas na fraude do resultado do sorteio. Mas o que nos dá esse direito é apenas a evidência de que a loteria foi alterada, e não a extrema improbabilidade inicial da mesma ser vencida. Vamos supor agora que, apesar dos peritos fazerem um excelente trabalho, eles não conseguiram encontrar qualquer evidência conclusiva de que a loteria foi fraudada. Dada a minúscula chance inicial, quase imperceptível, de ganhar nesta loteria, é razoável querer mais investigações, com a esperança de uma eventual detecção de fraude. No entanto, se e até que, algum tipo de intenção de fraudar for demonstrada, não vejo boas razões para pensar que a loteria foi, de fato, manipulada. E mais, é ainda é logicamente possível que Smith tenha ganhado somente por acaso. Lembrando que, a hipótese concorrente, ou seja, a de que alguém tenha interferido nos resultados, tem absolutamente zero de suporte a seu favor, mesmo sendo logicamente possível também. Portanto, usando a navalha de Occam, devemos escolher o "acaso" como explicação e concluir que Smith tem direito ao prêmio. Finalmente, digamos que, por alguma razão, não há nenhuma possibilidade de verificar se o sorteio foi fraudado ou não. Deveríamos então acreditar que a loteria em questão foi fraudada, apenas com base na probabilidade astronomicamente baixa dela ser vencida por acaso? Eu concordo que nestas circunstancias, é realmente tentador fazer isso, mas isso não é o que devemos fazer. O fato é que a credibilidade da explicação dos resultados fraudados ainda é zero, pois não temos nenhuma evidência para sustentar tal coisa. Além do mais, ela continua sendo uma simples possibilidade lógica, assim como o concorrente, a do acaso. Smith tem todo o direito de insistir "Eu sou muito sortudo!". E o que é que falaríamos, caso não concordemos com sua explicação? Diríamos "não tem como você ser tão sortudo, porque as chances de você perder são incrivelmente altas"? Mas isso é o que significa "ser sortudo": Ganhar acidentalmente apesar das altíssimas chances de perda. Depois deste exemplo da loteria, as coisas em relação a nossa discussão sobre o Ajuste-Fino devem estar ficando bem claras. Supondo, como eu fiz, que a existência do nosso universo é extremamente improvável a partir de um ponto de vista naturalista, tudo o que se segue, é que devemos investigar para saber se há algum ou alguns agentes pessoais conscientes, ou seja, um ou mais deuses, envolvidos no aparecimento de nosso universo. Só se e depois de encontramos evidências em apoio a esta hipótese, estaríamos justificados em dizer "existe (provavelmente) pelo menos um deus", aliás, a improbabilidade inicial do universo ter surgido por acaso, não tem qualquer relevância para se concluir que existe pelo menos um agente pessoal envolvido. Tudo o que a inicial improbabilidade em questão faz, é nos encorajar a pesquisar mais sobre o assunto do aparecimento do universo. Como resultado, Plantinga está equivocado ao dizer: “Uma maneira de se ver essas aparentemente enormes coincidências, é vê-las como fundamentos a alegação teísta”. A improbabilidade de o universo ter surgido por acaso não aumenta, por si só, a probabilidade da hipótese concorrente, a hipótese sobrenatural. O que Plantinga deveria ter dito é "em face destas aparentemente enormes coincidências, deveríamos começar a procurar por evidências em apoio da afirmação teísta". No caso de se verificar que tais evidências não foram encontradas, ainda, caso existam, então o teísmo não está justificado no final das contas, apesar das enormes coincidências. Se os teístas querem nos convencer de que existe um criador pessoal sobrenatural, eles terão de fazer isso sem usar o argumento do Ajuste-Fino, mesmo que todos nós admitamos a sua ideia central, a de que a probabilidade de nosso universo ter surgido por acaso é extremamente baixa. Se o que eu disse acima for correto, então segue-se que tudo o que o Ajuste-Fino faz, é no máximo, convidar-nos a procurar por evidências de que algum deus ou deuses existe(m). Mas com certeza esse é um ponto discutível, afinal, os seres humanos têm procurado pela existência de criadores sobrenaturais do mundo há mais de dois mil anos.
Posted on: Sun, 16 Jun 2013 02:23:06 +0000

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