A Menina Azul e Vermelha Ela andava por aí cheia de certezas, sabia de tudo, da vida, das coisas. Conhecia os próprios defeitos e aceitava bem todos eles, conhecia suas qualidades e sabia como explorá-las. Vivia leve, com os pés bem fincados no chão. Gostava de terra, de fruta, de planta. Gostava de arte, de cor, de sonho. Gostava de si, gostava do que via no espelho, gostava de ser quem era. Corria e andava muito, mas gostava também de ficar parada olhando, pensando, analisando. Tinha ela então certeza de que era completamente feliz. Certo dia, com seus passos curtos, leves e soltos, ela tropeçou nele. Tropeçou, olho e viu de um jeito que nunca tinha visto antes, mas com os mesmos olhos. Sua cabeça cheia de certezas analisou ele dos pés a cabeça e o enquadrou nas certezas que já sabia. Mas uma coisa havia mudado de repente, no meio da consistência das certezas, havia um resquício de dúvida. E ele com a cabeça repleta de dúvidas de todos os tamanhos, explorou a dúvida quase inexistente dela e abriu um caminho de dúvidas. Mostrou um mundo de coisas novas que ela não conhecia, pensamentos novos que ela não sabia. E pela primeira vez, ela notou que não podia controlar a direção do vento, que a terra que ela pisava não era sempre a mesma, que a água corria pra qualquer sentido, sem fazer nenhum sentido. De repente, ela reparou que nasceram flores por todo seu jardim, nasceram sombras na sua cabeça, nuvens e por fim, flores de todos as cores e perfumes sufocaram as certezas. Ela percebeu então que não sabia nada. Dessa forma, ela conheceu a tristeza que desconhecia, mas finalmente, nas inseguranças, conheceu de fato a felicidade de não saber.
Posted on: Tue, 29 Oct 2013 04:33:41 +0000
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