A Saúde em Questão: A Síndrome de Burnout e o Trabalho - TopicsExpress



          

A Saúde em Questão: A Síndrome de Burnout e o Trabalho Docente O trabalho sempre ocupou lugar na vida da humanidade. Nós nos organizamos e nos estruturamos em função do trabalho. Baró apud Fonseca (2001), afirma que o trabalho constitui a atividade fundamental para o desenvolvimento do ser humano. As sociedades se organizam em função do trabalho e as pessoas estruturam suas vidas de acordo com as atividades de seu trabalho e a organização onde o exercem. Segundo Borges e Yamamoto (2004), Platão e Aristóteles, filósofos clássicos, exaltavam a ociosidade. Para Platão, o cidadão devia ser poupado do trabalho e Aristóteles valorizava a atividade política, referindo-se ao trabalho como atividade inferior que impediam as pessoas de possuírem virtude. Na idade Média, tais idéias foram se tornando inadequadas e é com a construção do capitalismo que há uma mudança mais visível, engendrando-se uma concepção de trabalho como central na vida das pessoas e como o único meio digno de ganhar a vida. Seligmann-Silva (1987), afirma que o trabalho humano tem duas faces: por um lado é fonte de satisfação e realização, estruturando o processo de identidade dos sujeitos e por outro lado, pode se transformar em elemento patogênico, sendo nocivo à saúde do trabalhador. Fonseca (2001), diz que o trabalho de cada pessoa contribui, através dos êxitos e fracassos, para que o indivíduo se sinta satisfeito ou insatisfeito consigo mesmo, realizando-se profissionalmente ou não. Não é à toa que, etimologicamente, a palavra trabalho vem do latim tripalium, que está associado à tortura. Porém: Trabalhar não deve ser sacrifício ou sofrimento. Trabalhar é aceitar responsabilidades e, também, deixar espaço, para autocrítica por fracassos. O prazer vem de sentimentos de sucesso, de valorização moral, de cumprimento das responsabilidades (FONSECA, 2001p.21). Dejours (1992), ao fazer referência sobre a relação trabalho-saúde, defende que o trabalho não é neutro em relação à saúde, pois contribui para o adoecimento dos trabalhadores. Voltando o olhar para a organização escola e todo o contexto político, econômico, social e cultural que a educação está inserida, percebemos que há uma sobrecarga em grande medida aos seus agentes e em especial aos professores. Dejours (1992), afirma que o ambiente e a pressão sobre determinadas tarefas têm alterado experiências de trabalho e seus significados, fatos que afetam a psiquê dos indivíduos. Este mesmo autor afirma também que a docência é uma profissão de sofrimento. Os desgastes físico e mental, ocasionados pelas exigências permanentes desta profissão trazem, certamente, impactos, em termos de bem estar e saúde, para a maioria dos profissionais. Assim, este trabalho tem como objetivo fazer um levantamento através da literatura científica dos processos de mudanças ocorridas na educação e as principais conseqüência destas sobre a atividade docente e à sua saúde, apresentando a Síndrome de Burnout que afeta profundamente estes profissionais. Assim, o dividimos em quatro momentos: o primeiro, procuramos dar uma breve contextualização histórica da profissão docente; em seguida discorremos sobre o mal-estar docente conseqüente das mudanças sociais ocorridas nos últimos anos; logo após, falaremos do burnout, uma síndrome de esgotamento profissional, diferente do estresse ocupacional e que atinge em especial os profissionais que atuam na área de serviços e que mantém contatos constantes com os usuários dos seus serviços e finalmente, pretendemos de forma sucinta apresentar resultados de uma pesquisa realizada em uma escola pública enfocando a dinâmica da relação entre o trabalho e suas conseqüências na saúde do professor. A PROFISSÃO PROFESSOR: CONTEXTO HISTÓRICO Retomando ao século XVI, percebemos que as escolas já eram constituídas e viviam sob a tutela da igreja e abriam-se nesse período às camadas populares para instrumentalizar o povo para a leitura das sagradas escrituras, sendo o próprio clero o responsável pela atividade docente. A necessidade de convocar colaboradores leigos, fez com que fosse instituída a realização de uma profissão de fé e fidelidade aos princípios da igreja, o que deu origem ao termo professor – pessoa que professa fé e fidelidade aos princípios da instituição e se doa sacerdotalmente aos alunos (KRENTZ apud CARLOTTO, 2002). Permanecendo o ensino sob tutela da Igreja até o século XVIII, só vamos encontrar uma mudança significativa na profissão docente, a partir da segunda metade desse século, quando essa tutela passa a ser do Estado e não mais da igreja, tornando-se uma profissão. Começa-se então a se esboçar um perfil do professor. Esse processo de substituição do poder da igreja para o estatal, não provocou mudanças significativas nos valores originais da profissão docente. O professor ainda detinha privilégios, qualificação e autonomia, situando-se num campo de trabalho intelectual e não perdendo as origens religiosas. Ao fim do século XVIII os professores não podem mais ensinar sem uma licença ou autorização do Estado, sendo necessário antes de receber esta licença, uma seqüência de exames, onde o indivíduo preencha um certo número de condições para exercer a profissão. Segundo Nóvoa (1995, p.17), essa autorização “contribui para a delimitação do campo profissional do ensino e para a atribuição ao professorado direito exclusivo de intervenção nesta área”. A criação desta licença ou documento foi importante porque facilitou a definição de um perfil de competências técnicas e o delimitar de uma carreira docente. Neste período e no começo do século XIX, o trabalho do professor tinha uma alta relevância social e a expansão escolar aumenta devido a uma procura social cada vez maior. No princípio do século XX, a profissão docente exerce-se a partir de um conjunto de normas e de valores, nesta fase há uma crença generalizada nas potencialidades da escola e na sua expansão ao conjunto da sociedade. O progresso atinge a escola e a instrução. É a época de glória do modelo escolar e também o período de ouro da profissão docente (NÓVOA, 1995). Este é um período em que os professores gozam de um grande prestígio social, eles exercem a profissão em tempo inteiro ou é a ocupação principal, são detentores de uma licença oficial confirmando que são profissionais do ensino, participam de associações profissionais, a qual desempenha um papel fundamental na defesa dos docentes. É também um período que usufruem de uma situação econômica digna. Porém, Nóvoa (id.ibid.), alerta que a afirmação profissional dos professores foi um percurso marcado por lutas, hesitações e conflitos e afirma também que a profissão docente brasileira, se configurou de forma parecida com Portugal, local onde se deu sua pesquisa. Verificamos que no Brasil, nas últimas décadas, as reformas educacionais têm trazido mudanças significativas para os trabalhadores docentes. São reformas que atuam tanto no nível da escola quanto em todo o sistema, reproduzindo mudanças profundas. As reformas da educação da década de 60 ampliaram o acesso à escolaridade, nesta época o argumento era que a educação promovia o meio mais seguro para a mobilidade social individual ou de grupos. A educação era vista como um mecanismo de redução das desigualdades sociais (OLIVEIRA, 2004). Segundo Oliveira (id.ibid.), percebe-se que a partir de 1990, houve a tentativa de uma nova orientação para as reformas educacionais e os países em desenvolvimento deveriam se voltar para uma educação com o compromisso de uma equidade social. Assim, os países começaram a pensar em estratégias de elevação do nível de atendimento às populações, sem, contudo, aumentar na mesma proporção os investimentos. A década de 1990 inaugura, então, um novo momento na educação brasileira - a realidade da globalização, passando a ser um imperativo dos sistemas escolares, formar seus alunos para a empregabilidade. Esse movimento de reformas educacionais, demarca uma nova regulação das políticas educacionais, trazendo conseqüências significativas para a organização e gestão das escolas, resultando em uma reestruturação do trabalho docente, podendo alterar, sua natureza e definição. O trabalho docente não é definido mais apenas como atividade em sala de aula, ele agora compreende a gestão da escola no que esse refere à dedicação dos professores ao planejamento, à elaboração de projetos, à discussão coletiva do currículo e da avaliação. O trabalho docente amplia o seu âmbito de compreensão e, consequentemente, as análises a seu respeito tendem a se complexificar (OLIVEIRA, 2004. p.15). A globalização foi intensificada nos anos 90 e segundo Gajardo apud Gomes (2002), a globalização obrigou a geração de capacidades e destrezas indispensáveis para a competitividade a aumentar o potencial cientifíco-tecnológico e a desenvolver estratégias que permitam a formação de uma moderna cidadania, através de democracia e equidade. Enfim, essas transformações sociais, as reformas educacionais e os modelos pedagógicos derivados das condições de trabalho dos professores provocaram mudanças na profissão docente. Sendo assim, temos que, até os anos de 1960, a maior parte dos trabalhadores do ensino gozavam de uma relativa segurança material, de emprego estável e de um certo prestígio social. Já a partir dos anos de 1970, a expansão das demandas da população por proteção social provocou o crescimento do funcionalismo e dos serviços públicos e nos últimos vinte anos a globalização de natureza veloz, que nos acompanha, modificando toda a organização do trabalho escolar e principalmente o trabalho docente, mostram-se à frente da educação e por isso, os professores são vistos como os principais responsáveis pelo desempenho dos alunos, da escola e do sistema. E DIANTE DAS MUDANÇAS SOCIAIS ... O MAL ESTAR DOCENTE Percebemos que os professores não estão conseguindo acompanhar o ritmo das mudanças sociais. O trabalho prescrito pelo sistema e pela sociedade através das reformas educacionais não é compatível com a realidade desses docentes, ou seja, compatível com aquele trabalho que o professor se depara no seu dia-a-dia, e estes, ao se esforçar para atingir os objetivos do trabalho ideal, ou seja, o prescrito, acaba por implicar em conseqüências para si – um sofrimento psíquico, tratado como mal-estar docente. Nóvoa (1995), caracteriza esta situação como uma crise da identidade docente, que se explica através desta dicotomia existente entre o que o professor idealiza para o ensino e a realidade concreta do ensino. Esteve (1995), define mal-estar docente, os efeitos negativos que afetam a personalidade do professor como resultado das condições psicológicas e sociais em que exerce a profissão de docente, devido às mudanças sociais aceleradas. Segundo Esteve (id.ibid.,p.99-108), são doze os fatores que resumem as mudanças recentes na área da educação e que vêm trazendo desconforto e mal estar docente, são elas: aumento das exigências em relação ao professor; inibição educativa de outros agentes de socialização; desenvolvimento de fontes de informação alternativas à escola; ruptura do consenso social sobre a educação; aumento das contradições no exercício da docência; mudanças de expectativas em relação ao sistema educativo; modificação do apoio da sociedade ao sistema educativo; menor valorização social do professor; mudanças dos conteúdos curriculares; escassez de recursos materiais e deficientes condições de trabalho; mudanças nas relações professor-aluno; fragmentação do trabalho do professor. Diante disto, Mariano e Muniz (2006), afirmam que a dinâmica escolar ultimamente tem afetado diretamente a execução docente, proporcionando tensões em sua prática cotidiana. Este quadro se torna mais agravante quando acoplado a outras dificuldades, como por exemplo, indisciplina e dificuldades de aprendizagem e empecilhos para a efetivação da prática docente como por exemplo, os escassos recursos materiais. O somatório de tudo isso, favorece e contribui para o processo de sofrimento dos professores. Gasparini et al. (2005), também assevera que as condições de trabalho, ou seja, as circunstâncias sob as quais os docentes mobilizam as suas capacidades físicas, cognitivas e afetivas para atingir os objetivos da produção escolar, podem gerar sobreesforço ou hipersolicitação de suas funções psicofisiológicas. E, se não há tempo para a recuperação, são desencadeados ou precipitados os sintomas clínicos prejudicando sua saúde. E, temos assim, que as conseqüências do mal-estar docente são inúmeras e que dentre elas podemos citar: sentimentos de desajustamento e insatisfação com o real trabalho que desempenha no dia-a-dia; desenvolvimento de esquemas de inibição (menor contato pessoal); desejo de abandonar a docência; esgotamento; estresse, ansiedade; autoculpabilização perante a incapacidade de ter sucesso no ensino e depressões (ESTEVE, 1995). A SÍNDROME DE BURNOUT E O PROFISSIONAL DOCENTE A síndrome de Burnout é um conceito que surgiu no campo do estresse ocupacional e que recentemente tem chamado a atenção por parte dos pesquisadores. Antes de mais nada, cabe aqui, conceituar o estresse ocupacional para que se possa entender esta nova síndrome que ameaça o ser humano no tocante à sua saúde. Assim temos: Estresse ocupacional pode ser entendido como as situações em que a pessoa percebe o seu ambiente de trabalho como ameaçador às suas necessidades de realização profissional e pessoal, e/ou à sua saúde física e mental, prejudicando a interação desta com o trabalho e com o ambiente de trabalho, à medida que esse ambiente contém demandas excessivas a ela, ou que não contém recursos adequados para enfrentar tais situações (FRANÇA, 1999, p. 31). Portanto, o estresse para este autor, nem sempre é prejudicial, porém quando se torna prolongado é uma das causas do esgotamento que pode levar ao burnout. Codo (2002), afirma que não existe uma definição única sobre o burnout, todavia é consenso que seria uma resposta ao estresse laboral crônico. França (1999), a conceitua como uma síndrome caracterizada pelo esgotamento físico, psíquico e emocional, em decorrência de trabalho estressante e excessivo. É um quadro clínico resultante da má adaptação do homem ao seu trabalho. É uma resposta á tensão emocional crônica decorrente do trabalho que implica em relações diretas e constantes com pessoas, como é o caso dos professores. É um resultado final de um processo no qual profissionais motivados e comprometidos perdem o entusiasmo e encontram-se emocionalmente esgotados. Porém, atualmente, o conceito se estende a todo o tipo de profissionais e grupos ocupacionais, de acordo com Maslach, Schaufeli & Leiter apud Jimenez et al. (2002). A diferença entre burnout e estresse percebe-se então da seguinte forma: segundo Codo (2002), o primeiro envolve atitudes e condutas negativas com relação aos usuários dos seus serviços e do seu trabalho em si sendo então uma experiência subjetiva; o outro não envolve tais atitudes e condutas, é um esgotamento pessoal com interferência na vida do indivíduo e não necessariamente na sua relação com o trabalho. Pesquisas demonstram que o burnout ocorre em profissionais altamente motivados, que reagem ao estresse ocupacional trabalhando ainda mais até que entram em colapso (CODO, 2002). Como já foi dito, o burnout não se apresenta de forma abrupta, mas constituiu-se numa fase final de um processo contínuo que vai se instalando devido a vários fatores e outras sintomatologias conseqüentes destes. Os estudos sobre o burnout começaram a ser estudados primeiramente pelo psiquiatra Freudenberger, em 1974, que descreve o burnout como um sentimento de fracasso e exaustão causado por um excessivo desgaste de energia e pela psicóloga Cristina Maslach, a partir de 1981, que pesquisava sobre a influência da carga emocional do trabalho no comportamento dos profissionais de serviços humanos. Esta pesquisadora definiu inicialmente a síndrome de burnout como um processo que ocorre pela perda de criatividade e como uma reação de tédio e aborrecimento (JIMENEZ ET AL, 2002 ). Burnout significa em português, algo como “perder o fogo”, “perder a energia”, ou ”queimar-se complemente”. Ao longo deste processo, a síndrome tem sido abordada a partir de quatro perspectiva, segundo observações de Murofuse, Abranches e Napoleão (2005). A concepção Clínica foi proposta por Freudenberger, onde considera o burnout como um estado de exaustão resultante de um trabalho intenso, sendo que a síndrome não ocorre em função da atividade laboral, mas por características individuais (DIONE, 2004). A concepção organizacional, de acordo Murofuse, Abranches e Napoleão (2005), é um modelo que enfatiza que os sintomas são resultantes das características organizacionais, onde o trabalho seria em si estressante, frustrante ou monótono. Na perspectiva da concepção Social-histórica, Carlotto e Gobbi (1999), apontam Sarason com a autora de maior destaque deste modelo. Enfatiza o impacto da sociedade como determinante de burnout mais que as características organizacionais ou individuais. Numa sociedade individual e competitiva, o homem termina por não canalizar o interesse em ajudar o outro, comprometendo o trabalho de atendimento. E finalmente, a concepção social-psicológica introduzida por Christina Maslach e colaboradores que de acordo com Codo (2002), estas identificaram ser o ambiente de trabalho, principalmente suas característica, os preditores do burnout. Os aspectos individuais associados às condições de trabalho, assim como uma experiência negativa e individual decorrente das relações interpessoais de trabalho, propiciam o aparecimento dos fatores desta síndrome. O Burnout aparece como uma reação à tensão emocional crônica gerada pelo contato direto e excessivo com outros seres humanos, uma vez que cuidar exige tensão emocional constante, atenção perene e grande responsabilidade profissional a cada gesto no trabalho. Resumindo, o docente se envolve afetivamente com seus alunos, desgasta-se, não agüenta mais, desiste. Esta última é a concepção mais conhecida e aceita na maior parte dos estudos dedicados ao burnout, conforme Codo (2002); Carlotto (2002) e Dione (2004), e é entendida como um conceito multidimensional e que envolve três componentes: a exaustão emocional, a despersonalização e a falta de envolvimento pessoal no trabalho. A exaustão é a situação em que os profissionais sentem que não podem dar mais de si mesmos a nível afetivo. Percebem esgotada a energia e os recursos emocionais próprios, devido ao contato diários com os problemas. A despersonalização se desenvolve a partir de sentimentos e atitudes negativas e de cinismo às pessoas destinatárias do trabalho e, por fim, a falta de envolvimento pessoal no trabalho, onde há uma tendência de evolução negativa no trabalho (CODO, 2002). Para o Ministério da Saúde do Brasil, a síndrome de Burnout é uma doença ocupacional e está classificada como transtorno mental: Dentre os problemas de saúde, os transtornos mentais são responsáveis pelo maior número de dias de afastamento do trabalho, ou seja, são problemas de saúde que afastam os trabalhadores do trabalho por longos períodos. Além disso, como não se trata de uma lesão visível ou de um processo físico mensurável, muitas vezes, os pacientes não tem o seu sofrimento legitimamente reconhecido.(2001, p. 193) Como já mencionado acima pelo Ministério da Saúde, as pessoas acometidas pelos transtornos mentais, e as organizações em que trabalham, não levam a sério os sintomas iniciais que levam à síndrome de burnout. Carlotto (2002), diz que o seu surgimento é paulatino, cumulativo, com incremento progressivo em severidade, sendo que sua evolução pode levar anos. Temos também que, uma pessoa com burnout não necessariamente deva vir a apresentar todos os sintomas. O grau, o tipo, e o número de manifestações dependerão da configuração de fatores individuais, ambientais e a etapa em que a pessoa se encontra no processo de desenvolvimento da síndrome (PEREIRA, ALVES 2003). Esteve (1999), nos coloca alguns sintomas que acometem os professores, quando estes estão “queimados”, ou seja, em burnout: absenteísmo, falta de compromisso, um desejo anormal de férias, baixa auto-estima, incapacidade de levar a escola a sério: os problemas do professor separam-no cada vez mais de seus alunos. Contudo, as conseqüências do burnout não se manifestam somente para o professor, mas também traz repercussões sobre a instituição educacional e na relação com os alunos. Para Maslach e Leiter apud Carlotto (2002), os professores acometidos pela síndrome não se envolvem, faltam-lhes carisma e emoção na relação com os seus alunos, o que afeta a aprendizagem, a motivação e o comportamento destes. UMA HISTÓRIA PARA CONTAR Realizamos uma pesquisa com a intenção de compreender a dinâmica das relações entre o ser professor e as suas práticas pedagógicas, apreendendo também como a escola e as atividades desempenhadas por estes docentes contribuem para o sofrimento e/ou adoecimentos destes profissionais e, ainda, identificando o sentido e o significado que eles atribuem à sua profissão. Para tal, a instituição educacional escolhida para esta pesquisa foi o Centro de Atenção Integral à Criança e ao adolescente – CAIC, em Teresina-PI. Assim, quando refletimos sobre a situação atual dos professores, onde as mudanças sociais transformaram o seu trabalho, a sua imagem social e o valor que a sociedade atribui à própria educação, a professora ‘A.M’, desabafou: Me sinto como um bailarino que cai no palco durante sua apresentação. Ele tem que ser forte o bastante para levantar e continuar[...] Assim é o professor, que tem que ser capaz de se virar e continuar sua jornada frente a inúmeros problemas: desrespeito; indisciplina; a família que não estabelece limites e regras; as mudanças de currículos que está sendo constante[...] Na fala desta professora, percebemos que na jornada docente, estes profissionais passam por inúmeras tensões que possivelmente fazem com que não desempenhem satisfatoriamente suas atividades. Gomes (2002), afirma que os professores precisam hoje, se adequar a suas novas funções diante deste novo mundo onde há um capitalismo integrado, produção de novas tecnologias pedindo trabalho e trabalhadores flexíveis, polivalentes e criativos. Porém quando se trata de se adequar a esta nova realidade que as mudanças sociais exigem, os professores do CAIC dizem estar presos diante do poucos recursos que a escola disponibiliza e isso acaba inibindo, por exemplo, a criatividade. E isto, afeta os professores intimamente, gerando crise, pois o sistema educativo não conseguiu equiparar-se a esta nova situação e preparar os professores para suas novas funções. Facci (2004), argumenta que a crise de identidade vivida pelo professor também está relacionada com o status que a profissão ocupa no nível social. Os professores recebem baixos salários, seu trabalho nem sempre é valorizado pela sociedade e está havendo uma precariedade em sua formação profissional. Ainda sobre este assunto, Ribeiro (2004), afirma que o brutal empobrecimento material e social dos professores foram as mudanças mais significativas ocorridas devido às mudanças sociais. Ele afirma que até meados do século passado, o professor, era uma figura social de prestígio, e hoje quando uma jovem diz que é professora, não é difícil despertar nas pessoas sentimentos de pena e comentários lamentosos. Além disso com o passar dos anos, o professor teve a sua jornada de trabalho ampliada no mesmo compasso em que sua remuneração foi reduzida. Outra mudança importante, e que causou um sobreesforço do professor, foi a ampliação das fontes de informações fora da escola, e que, tanto a escola, quanto a família, deixaram de ter o impacto que tinham antigamente, fazendo com que se aumentasse as responsabilidades do professor. Essa dinâmica escolar como se vêm apresentando, com sobrecarga de trabalho, ausência de melhores condições de trabalho (material e recursos didáticos), desvalorização e desrespeito para com o professor, falta de parceria entre família e escola; tem afetado diretamente a execução da atividade docente, proporcionando tensões no seu cotidiano e desencadeando variadas formas de mal-estar. Em nossa pesquisa, através de um questionário, obtivemos que, de 26 professores (em um universo de 60 professores) do CAIC, 85% destes já sofreram ou sofrem algum (s) problemas de saúde nos últimos seis meses e os sintomas assinalados foram: estresse (69%); cansaço mental e dores de cabeça (54%); nervosismo e ansiedade (46% cada); esquecimento (42%); problemas na voz, postura (38% cada); insônia, poeira e/ou tontura (35% cada); queda de cabelo (31%); visão (27%); depressão, problemas digestivos e fraqueza/indisposição (15% cada); falta de ar (12%); sonolência, labirintite e hipertensão (8% cada). Observamos que o estresse alcançou uma queixa elevada, Reis, et all (2006), afirma que ensinar é uma atividade em geral altamente estressante e com repercussões evidentes na saúde física, mental e no desempenho profissional dos docentes e os professores do CAIC confirmaram que realmente o exercício desta profissão é composto de fatores que comprometem sua saúde, causando-lhes desgastes e sofrimentos. Apreendemos que os fatores que podem desencadear esses sintomas nos professores da escola pesquisada, podem estar ligados a algumas particularidades das condições de trabalho por quais passam. Com a pesquisa, soubemos que 80% dos docentes trabalham somente no CAIC e, quando foram questionados sobre suas maiores dificuldades que impediam de realizar o seu trabalho em sala de aula, responderam que o grande número de alunos em sala, a falta de material e o controle da turma, eram obstáculos que os impediam de desempenharem o seu trabalho satisfatoriamente. Por outro lado, ao serem questionados sobre como consideram o seu ambiente de trabalho referente às relações interpessoais, 84% deles consideram um ambiente bom. Em relação à estrutura física da escola, 69% dos professores consideram boa. Perguntamos também quanto à satisfação de serem professores e 50% deles se consideram pouco satisfeitos; 42% acham-se satisfeitos e 8% mostraram-se insatisfeitos. Os dados acima corroboram com a posição de Batista e Odelius (2002, p.325), onde nos diz que as “boas condições de trabalho são indispensáveis para uma atividade mais confortável, menos desgastante, mais prazerosa e consequentemente mais produtiva, além de mais saudável para o professor”. O que apreendemos foi um ambiente harmonioso e confortável, que consequentemente traz aos docentes do CAIC uma relativa satisfação. Verificamos nesta pesquisa alguns fatores que de alguma forma podem contribuir para o aparecimento do burnout nestes professores. Assim, como já foi assinalado, temos que 85% dos docentes estão acometidos por problemas de saúde, sendo que o estresse está presente na maioria dos docentes, assim, se este estresse laboral persistir em cada professor durante um longo período de tempo sem ser tratado de forma adequada, poderá desencadear o burnout. Porém outros preditores da síndrome também foram apreendidas, como por exemplo, as dificuldades que tem em desempenhar bem o seu trabalho, seja por falta de recursos materiais ou grande número de alunos em sala de aula que de certa forma causa tensão e sobrecarga de trabalho. Outro fator que pode desmotivar o professor e predispor ao burnout é com relação a satisfação de serem professores atualmente e, que em nossa pesquisa como já foi relatado, estes professores consideram-se pouco satisfeito enquanto ser professor. Porém, para diagnosticar uma pessoa com burnout é necessário um leque de métodos como observação, entrevistas, pesquisa de sintomas, relatos de pessoas próximas, verificação dos comportamentos no trabalho, e principalmente utilizar escalas validadas do burnout, como a escala de Maslach, desenvolvida em 1986, onde são analisados fatores de exaustão emocional, envolvimento pessoal no trabalho e despersonalização. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Codo (2002), afirma que o burnout é um dos filhos deste novo tempo. Realmente, percebemos que são visíveis as mudanças ocorridas nos últimos anos nas esferas política, social e econômica e estas vêm transformando profundamente o nosso meio, trazendo novos conceitos de trabalho e de trabalhador e que causam um impacto em todas as pessoas inseridas no mundo do trabalho, e com os profissionais docentes não poderia deixar de ser diferente. Suas funções vêm se modificando com o mesmo ritmo e o que estamos presenciando é que muitos não conseguem acompanhar este ritmo e tais mudanças têm resultado em intensificação do trabalho docente, ampliando suas ações e, consequentemente, originando desgastes e insatisfação por parte destes profissionais. A qualidade de vida no trabalho inclui aspectos de bem-estar, garantia de saúde, segurança física, mental e social, e capacitação para realizar as tarefas do trabalho com segurança e bom uso de energia pessoal. A qualidade de vida no trabalho no tocante à saúde, não depende somente de uma parte, mas sim do professor, da instituição, da sociedade e de políticas públicas, simultaneamente. Contribuir para a melhoria das condições de trabalho diminui o sofrimento dos trabalhadores. Assim, enfatizar a promoção dos valores humanos como estratégia preventiva da síndrome de burnout é o começo, para que o mundo do trabalho possa se instituir num espaço de prazer, além do de subsistência de vida.
Posted on: Fri, 09 Aug 2013 20:27:16 +0000

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