`A Sociedade Brasileira de Neurocirurgia! Dr. Sebastião Caro - TopicsExpress



          

`A Sociedade Brasileira de Neurocirurgia! Dr. Sebastião Caro Amigo. Sou um filho adotivo desta terra, um neurocirurgião que lhe deve por suas contínuas infusões de inspiração muito antes de lhe conhecer em pessoa e em humildade. Quero lhe expressar meu parecer sobre a constrangedora política que atualmente o governo intenta impor : a vinda de médicos do exterior, provavelmente de Cuba. Quando cheguei a este amado pais, saindo de uma ilha, onde os médicos migram cruzando o mar em balsas até a Florida ou se alistam para servir no exterior, vinha com um bom histórico pois fui o segundo colocado e terminei meu curso com altas qualificações sendo selecionado para a residência em Neurocirurgia. Minha formação foi muito longa :fui residente oito anos e tudo isto porque decidi mudar de um centro neurológico para uma escola Neurocirúrgica com maiores possibilidades de operar.A mudança foi interpretada como traição pois eu pertencia a um centro de alto nível de pesquisa, muito ligado ao govern.Assim temporariamente sem direito a continuar minha residência trabalhei sem salário oito meses - com um filho pequeno e outro porvir - vendendo vinho feito de batata doce . Na época permaneci de forma voluntária praticando neurocirurgia do trauma no hospital universitário onde cinco anos depois obtive o título de Especialista na área com 98/100 pontos no exame e apresentando um trabalho sobre o tratamento cirúrgico de Aneurismas Rotos da Circulação Anterior. Tentava sobreviver como todos lá, com um salário equivalente a 126 reais, e o incentivo misericordioso dos pacientes. Eu era igualmente feliz ao terminar cirurgias vasculares complexas apenas com um cafezinho no estômago, retornando de ônibus apertado pela multidão e em pé até chegar em casa e saborear um único pãozinho, pois na época - anos 2000 a 2002 - todos tínhamos direito a uma unidade. Leis internas talvez nem escritas impediam aos médicos sair do país, porém amigos me ajudaram e ao chegar ao Brasil descobri a ilegalidade do meu exercício médico. Durante três anos andei pelo Brasil, tive que estudar a língua brasileira até alcançar o nível avançado pelo MEC, assim como vários cursos preparatórios. Minhas viagens e lutas eram com minha amada esposa Deise, parceira durante a pobreza, a tristeza e a esperança. Durante esses primeiros anos de permanência no Brasil nunca sofri de insuperável frustração, solidão ou de insuportável saudade pois a Neurocirurgia me acompanha sempre como um farol de esperança. Em outras palavras: é o violão que consola ao poeta. Os médicos cubanos são vítimas também deste jogo político e eles, igual a mim há uma década, também se alistam no desespero da miséria e também pela esperança, talvez a única esperança de atravessar o mar que os encarcera, ondas de um mar que amolece qualquer rocha, as ondas do igualitarismo falso, as ondas de uma vida sem ventos oportunos. Não deveriam comparar os médicos cubanos com os natos do Brasil pois não haverá melhor especialista para o povo brasileiro que aquele educado e edificado para servir ao Brasil. Avaliar os médicos sob uma perspectiva nacional é falsamente negativa e ofensiva para os que aqui estão e tanto lhe devemos a este amado pais hoje é a minha pátria por naturalização. Os arremessos da mídia estão mal dirigidos e tem sido desrespeitosos e simplórios, talvez achando um caminho fácil para convencer a opinião publica. Em Cuba há bons especialistas e também mal preparados, esta realidade acompanha cada pais. Cuba lamentavelmente criou fama e talvez um mito cuja base são os índices de mortalidade infantil e o programa da medicina familiar. Esta popularidade facilita o envio de médicos para qualquer parte do mundo seja promovendo os sistemas de saúde socialistas ou recebendo a metade dos salários e da produtividade dos médicos que trabalham no exterior talvez o mais cruel feudalismo internacional .E nessa condição eu estive até que fugi para o quilombo de Ambrosio, lembrando uma história do Brasil contada por Luís Gonzaga da Fonseca, em sua "História de Oliveira". A neurocirurgia brasileira criou fundamentos sólidos de referência mundial .Ainda em Cuba já era um profundo admirador dos trabalhos do Senhor e dos professores Evandro, Guilherme Ribas, Atos de Souza, Dr. Wen, e Dra. Carolina Martins. Considero que a procura de estrangeiros desmoraliza o Brasil.É uma solução temporária e desrespeitosa comparável a rejeitar o jantar de uma mãe para ir degustar em um restaurante ou num lanchonete. Trata-se de uma proposta que menospreza e ignora as demandas insatisfeitas da classe médica brasileira contemporânea e ultraja o povo, oferecendo um fast food ou talvez um filé à cubana que em Cuba não existe, ao invés dos frutos nutritivos desta terra de admiráveis médicos e neurocirurgiões, suficientes em quantidade e qualidade. Uma solução que agrada a um mandato presidencial porém lamentável, pois despreza os da Casa. Será talvez uma noite com Venus e a vida toda com Mercúrio. A seu favor pela Ética que me conduz. Seu amigo em todo e sempre Dr.Jose Roberto López. ------------------------------- Caro Jose Roberto, Foi bastante comovente ler seu sincero depoimento. Você tem autoridade para falar, pois é um cubano e um brasileiro. E nós da SBN muito nos orgulhamos de ter você em nossa sociedade, pois sabemos ser um colega digno, competente e que realiza um belo trabalho no interior de nosso grande país. Não somos contra a vinda de médicos estrangeiros para o país desde que, como você, submetam-se à avaliação exigida por lei. Trazer médicos estrangeiros para resolver situação da saúde no Brasil seria como trazer cozinheiros para combater a fome. O que precisamos é de condições (infra-estrutura material e humana) para que a medicina seja exercida nas pequenas cidades. Onde existe infra-estrutura e condições dignas para o exercício da medicina existem médicos. O atual clamor das ruas expõe de forma escancarada o nosso anárquico sistema de saúde. E quando esperávamos que a Presidente da República usaria este momento para atacar a raiz do problema (a má gestão da coisa publica, a corrupção e a falta de investimento nas necessidades básicas do povo), ela vem a público anunciar a "importação" de médicos estrangeiros. Talvez o que precisaríamos importar são políticos dignos e competentes. Mas esta seria também uma importação inadequada. O que precisamos é de eleger estes homens competentes e dignos, seguramente existentes em nosso país, e que esperamos vir à tona com o atual momento de indignação do povo brasileiro. Um grande abraço, Sebastião Gusmão Presidente da SBN
Posted on: Tue, 02 Jul 2013 19:42:09 +0000

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