A mulher na mesa da frente come o seu pretzel com tanto prazer que não me restou outra coisa a não ser observá-la enquanto tomo meu expresso e espero a hora passar. Vindo para cá pensei em uma idéia genial para a melhor história do mundo. Mas daí foi só sentar, pegar o café, abrir o caderno, que a história perdeu o sentido e a idéia se perdeu. Agora só queria ter uma câmera para registrar o prazer dessa mulher comendo esse pretzel. Esse prazer que no dia de hoje não tem jeito de eu sentir. Por isso não peço um pretzel pra mim e escolho observar o deleite alheio. A mulher fica sem graça e pede para o namorado, em frente a ela, afastar a cadeira para mais à esquerda. Me tapa assim a visão que eu tenho da sua degustação. De alguma maneira minha indiscrição a fez se sentir invadida, exposta. Mas o que eu observo não é essa mulher em si, nem, tampouco, desejo o pretzel dela para mim. Tudo o que eu queria hoje é que um pedaço de massa com açúcar e canela pudessem fazer revirar meus olhinhos assim como reviram os dela. Mas hoje to de um jeito que até as boas ideias fogem de mim. Intratável e ingrata. Agora um rapazote come um pretzel recheado com salsicha. O ciclo poderia recomeçar mas nesse devaneio já estou atrasada e deixo a hora me ultrapassar mais uma vez.
Posted on: Mon, 07 Oct 2013 21:38:38 +0000
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