A propósito da prova de ingresso e formação atual de - TopicsExpress



          

A propósito da prova de ingresso e formação atual de professores. Este artigo foi escrito por mim em Abril de 2010. Mantém a atualidade. Após o anuncio a semana passada por parte do Ministério da Educação de exigências mínimas para acesso para os cursos de professores congratulo-me que finalmente se tenha olhado para o panorama ridículo e degradante até agora mantido. A propósito de uma declaração de um médico sindicalista que após chegar a acordo com a ministra da saúde, declarou que o dialogo com a mesma foi possível porque ao contrário do que se passava anteriormente com Correia de Campos, os interlocutores sabiam do que estavam a falar, lembrei-me de quanto não teria sido necessário ter havido uma solução do mesmo tipo na educação. Em primeiro lugar para que não restem dúvidas, declaro que sempre defendi, que no ensino a verdadeira avaliação não existia o que manifestamente redundava em prejuízo da qualidade de ensino, dos professores e do seu prestígio profissional e dos alunos e seu aproveitamento. De facto, nas escolas sempre existiram aqueles que trabalhavam, que estavam disponíveis para todos, que demonstravam na organização escolar e na docência maior qualidade, segurança, competência e que eram e são referências educativas. E os outros, os que chutavam para canto os cargos, entregando-os comodamente aos mais novos, que nunca estavam disponíveis e cujo estatuto adquirido só com o tempo de serviço prestado lhe permitia em primeiro lugar, reivindicarem o direito de não fazer. Nunca imaginei que este estado de coisas, evidentemente compartilhado com muitos colegas e sempre rejeitado por uns tantos, algum dia fosse tentado ser alterado pela tutela de forma tão desastrosa e incompetente. Veio assim provocar, pela forma como foi feito o maior retrocesso desde o 25 de Abril na melhoria, embora lenta, que desde então se verificou no progresso da educação em Portugal. Até ao início dos anos oitenta em Portugal os professores do 1º ciclo eram formados nas então escolas do magistério primário. Os outros, dos ciclos posteriores, eram formados nas faculdades que tinham uma formação cientifica muito boa, mas que quase esquecendo que na realidade formavam professores não tinham a preocupação das chamadas cadeiras pedagógicas. Existiam algumas excepções como o INEF e depois ISEF para além das escolas do Magistério que sempre assumiram a formação de professores e tinham estágio integrado há muitos anos. No fim dos anos oitenta com o “boom” da praga das chamadas ciências da educação, as faculdades de letras e ciências criaram então os ramos educacionais dando um passo de qualidade na formação com a introdução ainda do estágio em exercício. Parece ter sido nesta fase que chegavam ao ensino os professores com a melhor qualidade média de formação. Alguns anos depois, como os professores não chegavam e como havia pressão sindical para a existência da carreira única, começaram uma série de reformas disparatadas na carreira e formação de professores que levaram, ao nivelamento por baixo, da qualidade requerida. No governo do Eng. António Guterres, ouve decisões de reestruturação da formação de professores que prejudicaram gravemente a formação inicial. O Eng. Marçal Grilo, hoje tão ouvido como eminência parda das decisões educativas, na urgência de aumentar a qualquer preço o número de alunos que entravam no ensino superior permitiu e fomentou através do ensino politécnico a fundação de uma série de escolas superiores de educação, muitas para responder aos anseios dos autarcas e seus interesses eleitorais. Nasceu aqui e para não me alongar no assunto um dos principais problemas da formação de professores em Portugal. Com efeito há autênticos actos criminosos na formação de professores. Em primeiro lugar a base de selecção dos alunos que vão para as escolas superiores de educação é a pior. Só quem não está atento é que não sabe que salvo raras excepções de vocação autêntica, é nos alunos com piores notas do secundário e quase exclusivamente nos que frequentam humanidades que é feita a selecção para formação em professores. Outra coisa não seria de esperar, quem puder livra-se dessa profissão horrorosa tão mal vista pela opinião pública e tão desvalorizada pela tutela. Um aluno das escolas superiores de educação que lá foi parar pelas humanidades, porque nunca teve positiva por exemplo a matemática, pode vir a ser professor de matemática se depois de lá estar optar por essa variante. Repito, nunca teve positiva a matemática e vai ser professor de matemática. E se for uma C+S até pode dar ao 3º ciclo. Basta o diretor atribuir-lhe pela sua simpatia horário nesse ciclo. Isto não é ficção, conheço casos e estão os nossos filhos entregues a isto. Em segundo lugar a formação nas escolas superiores de educação é feita essencialmente nas áreas pedagógicas e pouco exigentes nas áreas científicas. Aliás não é difícil encontrar professores formados pelas escolas superiores de educação que leccionam disciplinas a cujo aproveitamento escolar quando do seu percurso escolar não se recomenda consulta. Normalmente chegam carregados de todos os conhecimentos burocráticos e com a cabeça cheia de ciências da educação, mas com conhecimentos paupérrimos no domínio científico. Aliás ouve-se um jovem destes falar fluentemente sobre as siglas nascidas da burocracia que a tutela impõe (PCT, APA, PCA, Grelhas, decretos, circulares, portarias, etc) fica-se estarrecido com tanto conhecimento, mas apetece perguntar no fim ”já agora, os alunos aprenderam alguma coisa na sua disciplina, ensinou matemática, português ou inglês com a qualidade mínima exigida? Mostre-me os testes, deixe-me ver as suas aulas, mostre-me os resultados”. Acresce a isto que os estágios da maioria das escolas superiores de educação são para esquecer. Como a tutela há muito deixou de investir nos estágios remunerados, como as escolas se cansaram de ter no seu seio autênticos enxames de alunos estagiários, que prejudicam o normal desenrolar das actividades lectivas, ou não há estágio de nenhum tipo, ou vão assistir a duas ou três aulas de um professor e chamam a isso pomposamente “estágio”. Mas mais grave é que a própria máquina política e administrativa do Ministério da Educação é ela própria fruto destes percursos formativos. Assim se não há coragem para corrigir as estruturas que fazem a formação inicial, é caso para dizer que não se deve bater na mãe que nos deu à luz e que me deu o pão do meu sustento. Mas como as evidências dos que entram na escola e no processo docente é de manifesta desadaptação cria-se uma prova de ingresso. Que de forma aleatória será o remédio para as deficiências da formação inicial. Não se intervém a montante, intervém-se a jusante e pouco preocupa que no percurso se engane e crie falsas expectativas a alunos e familiares. essenciaepreconceito.blogspot.pt/2013/11/formacao-actual-de-professores.html#more
Posted on: Thu, 07 Nov 2013 17:38:30 +0000

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