A reportagem é antiga - de 2007 - mas é o tipo de leitura que é - TopicsExpress



          

A reportagem é antiga - de 2007 - mas é o tipo de leitura que é assustadora. Ela aponta para muitas questões grandes e que são vivenciadas cotidianamente em muitos municípios brasileiros. Pode-se falar de violência, pode-se falar desse processo histórico e trágico chamado expansão agrícola no Brasil (nesse sentido, está acontecendo no norte do Mato Grosso, agora, o que aconteceu no oeste do Paraná há 60 anos atrás), pode-se falar da corrupção do Estado, enfim, mil temas. Mas eu li isto numa perspectiva histórica um pouco mais ampla, que eu gostaria de compartilhar. Recentemente li um texto de Thomas Laqueur chamado "Corpos, detalhes e narrativa humanitária", sobre o desenvolvimento, nos séculos XVIII e XIX, das narrativas sobre condições de trabalho e sobre o corpo. O objetivo do autor era mostrar como as narrativas - ele trabalhou com relatórios estatais na Inglaterra e autópsias - foram ficando mais técnicas e de tal forma detalhadas que criavam no leitor um sentimento humanitário. Era impossível não se revoltar com os relatórios produzidos pelo Estado inglês nas fiscalização das condições dos trabalhadores na minas de carvão do começo do século XIX. Quando li, lembrei de Marx, que, obviamente, tinha nas mãos este tipo de material. Uma passagem da reportagem da Rolling Stone (que, de vez em quando, acerta a mão em seus textos...) me chamou a atenção: quando ela fala que a madeira brasileira vai ser usada em pisos de residências chinesas. Ou seja, toda essa tragédia (quem se dignar a ler vai ver que isto é uma tragédia) se funda nisto: no direito que cidadãos chineses abastados tem de comprar sua casa, com o dinheiro do seu trabalho - diga-se. Tem mais direito envolvido: há uma empresa em Curitiba (fui no site deles e está fora do ar) com pessoas trabalhando - eu diria, inclusive, honestamente. Tá lá uma secretária. Provavelmente um estagiário. Alguns executivos formados na UFPR, no curso de administração, que fazem negócios com a China. Nenhum deles sabe sequer onde é Colniza. Nunca estiveram lá e tudo bem. Simplesmente fazem negócio. Vão dizer: é o direito deles. Ninguém pode intervir nisto. Mas há uma tragédia na base disto tudo. Tudo para que no fim do mês, com o dinheiro do seu trabalho, alguém - de preferência bem longe de Colniza - possa comprar uma casa com um piso bacana. Quem vai negar a essas pessoas esse direito?
Posted on: Thu, 15 Aug 2013 17:08:44 +0000

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