“A suave monotonia que transparece do prazer momentâneo do ócio…”observa apenas”. Despreocupadamente apercebo-me onde me encontro. Ignoro por completo como cheguei aqui e as razões que me impeliram para tal acto inconsciente. Dou por mim a apreciar a paisagem que me rodeia, suavemente deixo-me envolver por uma sensação de intimidade, que não passa de mera promiscuidade com a natureza. Inesperadamente uma leve aragem a maresia faz-se sentir, com o seu odor característico. Mas o seu encanto apenas só se nos dá a conhecer através da doce melancolia, que acolhe com ternura o refúgio momentâneo do espírito, com uma estranha cumplicidade do nevoeiro matinal. A ilusória agressividade que uma paisagem vazia aparenta transmitir, não é nada mais que uma mera ilusão concebida por uma mente, que vagueia perdida por entre os seus mais profundos pensamentos… A melodia murmurada persistentemente pela ondulação constante do mar, induz-me para um estado de completa abstracção. Aí permaneço, talvez por culpa da réplica monocórdica do obstinado canto das gaivotas, e atrevo-me a dizer, um certo encanto que nos embala quase hipnoticamente, conduzindo-nos para paisagens comummente referidas como paradisíacas. Tal como a lapa que se recusa a desprender-se da rocha, também eu me sinto tentado a não abandonar este local. Talvez esta sensação de tranquilidade que persiste teimosamente em não me abandonar, seja única e exclusivamente derivada da inércia a que habituei o espírito. A monotonia desperta a alma do estado de completa abstracção em que se encontrava. Sinto desesperadamente um súbita necessidade de agir, não com a intenção de fazer algo de concreto, mas simplesmente expressar essa necessidade de acção que o corpo reclama. Após uma relaxante permanência em convívio com a natureza, dirijo-me para a bicicleta abandonada sobre as dunas e rumo de encontro à civilização.”
Posted on: Tue, 10 Sep 2013 13:19:49 +0000
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