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APROVEITEI ESSE TEXTO - REFERENTE ÁS AULAS DE HISTÓRIA , TURMAS : PRÉ PUC - PRÉ UFMG - DO DIA 25 DE JULHO - É UM POST MUITO INTERESSANTE... Olhar Literário - Laerte Levai A cachorra baleia de “Vidas Secas” 11 de abril de 2013 às 16:00 Graciliano Ramos escreveu, em 1938, o livro que se tornaria um dos maiores clássicos da nossa literatura: “Vidas Secas”. A começar pelo título, tudo nele é de um realismo que faz doer na alma. Como se ensina desde os bancos escolares, este romance trata do flagelo da seca nordestina. Na descrição do drama dos retirantes, as personagens Fabiano, Sinhá Vitória, Menino mais velho, Menino mais novo e cachorra Baleia transitam em meio a um cenário desolador, demasiadamente brutal, em que a busca pela sobrevivência põe frente a frente, em toda a sua rudeza, a miséria do ser. A cachorrinha Baleia faz parte daquela família, agitando o rabo e de olho nas brasas do fogareiro, à espera de alguma sobra que lhe engane a fome. Com a estiagem impiedosa, a paisagem agreste torna-se cada vez mais chamuscada. Caminhando em busca de salvação, os então sobreviventes pai, mãe, filhos e cachorrinha atravessam a aridez de um sertão sem fim. A estrada torna-se um incessante buscar, de sol a sol, em que os gestos instintivos de homens e animais procuram qualquer lugar que lhes acolha e redima. Mas as forças dessa gente humilde aos poucos vão minando e Baleia enfraquece a olhos vistos. Fabiano incomoda-se ao vê-la magra, com a pelagem falhada e as costelas à mostra, concluindo que o animal devia estar hidrofóbico. Por isso resolveu sacrificá-la. A narrativa, a partir daí, torna-se pungente. Intercalam-se as cenas. De um lado, enquanto Fabiano municia a arma, Sinhá Vitória segura os meninos para que eles não ouvissem o tiro. De outro lado, no quintal, a cachorrinha esgueira-se do homem que lhe apontava a espingarda, como que a pressentir o pior. E o homem não desistiu de fazer o que achava que devia fazer, “para a cachorra não sofrer muito”. Seguiu-a até o curral, adiantou alguns passos, fez mira e apertou o gatilho: “A carga alcançou os quartos traseiros e inutilizou uma perna da Baleia”. A cachorra uivava e corria em desespero, perdendo sangue, com um medo terrível sobre si e sem entender o gesto de Fabiano com sua arma mortal. Descreve assim o autor, com fortes tintas poéticas, o delírio do animal cuja vida se esvaía gota a gota. Há trechos antológicos, de uma plasticidade tão realista quanto cruel: “Uma sede horrível queimava-lhe a garganta. Procurou ver as pernas e não as distinguiu: um nevoeiro impedia-a a visão. Pôs-se a latir e desejou morder Fabiano, realmente não latia: uivava baixinho, e os uivos iam diminuindo, tornavam-se quase imperceptíveis (…) Ficou assim algum tempo, depois sossegou. Fabiano e a coisa perigosa tinham-se sumido. Abriu os olhos a custo. Agora havia uma grande escuridão, com certeza o sol desaparecera (…) Baleia tremia toda, a cabecinha fatigada na pedra. Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás…”. Tudo então se mistura em “Vidas Secas”. Social e natural. Morte e vida. Ódio, compaixão, ternura, violência, animalidade e alheamento. A natureza estéril crua esquálida e os sentimentos contraditórios daquele que, a pretexto de fazer o bem, causa tanta dor. O latifúndio do romance de Graciliano Ramos também pode ser a metáfora de um país. Drama social dos retirantes sobre a terra agreste que, cedo ou tarde, a todos engolirá. Viver em sofrimento. Morrer em agonia. E Fabiano nem sentia remorsos, por acreditar que a cachorrinha tinha mesmo de ser abatida: “Matara-a forçado, por causa da moléstia”. Há muitas interpretações literárias sobre o animal-personagem deste livro. Uma delas diz respeito aos sentimentos da cadela Baleia, que na narrativa ganham uma extraordinária dimensão humana. “Vidas Secas”, também por isso, é um das obras fundamentais da literatura brasileira.
Posted on: Fri, 26 Jul 2013 14:31:15 +0000

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