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AVC - Aprendendo a Voar Caindo (ARTIGO DO PROFESSOR LUIZ CLÁUDIO JUBILATO – 24/09/2013) As águias atiram seus filhotes no abismo, pois lhes aplica a lei da iniciação, para que aprendam a voar. Ao serem projetados contra a morte, abrem as asas para se salvar. A isso chamamos defesa. A experiência transformará o medo em destreza, voos cada vez mais altos alcançará, limites só a luta pela sobrevivência lhes imporá. As mães humanas têm outro hábito, o de amparar seus filhos segurando-0s pela mão. Ao soltá-los, cairão e, se deixá-los sozinhos, como atirá-los no abismo sem asas, não sobreviverão. A aprendizagem dos seres ditos humanos é bem diferente. As crianças, desde cedo, amarão o status, brigarão para serem admiradas, adquirirem respeito, serem invejadas, mesmo tudo isso sendo conquistados à custa de maltratarem a mente. A mãe cria seus filhotes para ensiná-los a andar, a vencerem na vida, a sustentarem-se, a terem garras, a não abaixarem a cabeça, a terem metas grandiosas, a conquistar. Acredita que, valorizando a fama, a beleza, a riqueza, e, como todo predador, nunca fraquejar. As verdades não lhes interessarão, abraçarão, para jamais largar, a sua tão sonhada grandeza. Assim não sentirão medo, estresse, depressão, sustentados, mesmo sem asas, pelas suas armas, pela sua inabalável certeza. Apenas perceberão sua fraqueza quando, em desespero, estiverem caindo. As amizades sinceras, a diversão, a convivência com a família não importarão, enquanto receberem parabéns porque estão subindo. A pressa, a pressão do trabalho, os compromissos, as festas, o dinheiro, os puxa sacos lhes satisfarão. A educação dos filhos ficará para a escola, o porteiro do prédio, o motorista da van, os avós, a televisão. Vem a vida, de repente, e desconhece tudo isso. Aproveita do fato de esse ser onisciente, onipresente não perceber o tamanho do risco. Volta, com punhos cerrados, para nocauteá-lo, impor-lhe seu maior revés, pois, quando se dá conta, ela lhe tira o chão debaixo dos pés. Vencer, a partir daí, ganha novo significado. Vitória torna-se sinônimo de esperar, porque forçosamente a pressa acaba, seus dias se limitam a tentar falar, ganhar equilíbrio, mexer, no mínimo, o dedo mindinho e até mesmo andar. Volta o onisciente, o predador onipotente a ser bebê, pois alguém precisa alimentá-lo e, se for fazer cocô, alguém tem de limpá-lo. Vergonha vira sensação inexistente: se algum paciente dizer que a sente, pode acreditar que são efeitos da arrogância ainda resquício do status adquirido antes do acidente. Verdade, às vezes, mente. Ver o mundo por outro prisma, aprender a se aceitar, é muito fácil propor a esse novo ser humano, o difícil é convencê-lo de que ele precisa se reinventar. Voltar a ser como era, torna-se uma obsessão, uma tortura, o maior desafio. Vê-se, com o passar das noites, perdido numa luta inglória, como uma pessoa a nado, sem os braços, atravessar um rio. Vontade de tentar, desejo de parar; às vezes euforia, às vezes frustração. Vislumbram uma caminhada solitária, como um cego numa multidão. Varrer os maus pensamentos, deixar de ser descontente faz dos psicoterapeutas, remédios, médicos, fisioterapeutas uma espécie de bengala. Vibram, como crianças diante de um brinquedo com fonoaudiólogos, quando eles os ajudam a recuperar a fala. Contrariando tudo o que pensamos, não temos asas, porém a obrigatoriedade de vencer, impulsiona-nos a voar. Cremos, no entanto, que nunca há muros suficientemente fortes capazes de nos parar, nem obstáculos tão espinhosos a ponto de nos arranhar. Como nascemos num planeta cortado pelo meridiano de Greenwich, uma linha imaginária, nem nos damos conta de que há um meridiano nos cortando ao meio que passa pelo nosso nariz. Cada um de nós é parido partido ao meio, mas essas partes tão díspares estão grudadas a uma raiz. Cérebro, agora sinônimo de árvore, frutífera, cuja seiva compensa deficiências exacerbando os sentidos de um cego, um surdo, um mudo. Convence-nos a cada instante que, para darmos passos, temos de costurar cada parte, juntar tudo. Conscientemente, nossos pais nos incentivam a divisar o branco do preto, a felicidade da tristeza, o açúcar do sal. Cultuamos dentro de nós a luta entre o bem do mal. Caminhamos sabendo que alguns filhos nascem destros, outros sinistros: para os primeiros, a Igreja reservou o perdão e um terreno no céu; os outros, as fogueiras da inquisição, o inferno, o breu. Cientistas, economistas justificam suas teorias afogados na argumentação; artistas, místicos não se justificam, afogam-se na mais pura emoção; algumas pessoas sozinhas, são multidão; outras são o tempo todo solidão. AVC (acidente vascular cerebral), sigla assustadora. A cada minuto mata um paciente. Estamos numa civilização de pessoas doentes. Vamos mudar o significado dessa sigla para os sobreviventes. Dar a ela, em nome deles, novos conceitos: AVC – Acordar para Vivenciar a Construção de um novo ser. Ávidos para Vislumbrar novos Caminhos. Amarmos a Vida Compensa. Amarmos a Vitória Compensa. Aprenderemos a Viver Construindo. Aprenderemos a Voar Caindo.
Posted on: Tue, 24 Sep 2013 21:27:17 +0000

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