Acho que muito das reclamações contra o Programa Bolsa Família vêm do fato de que as pessoas não concebem que esse programa - com todas as suas falhas e insuficiências - é tecnicamente um programa de redistribuição de renda. Ele se dá em um país onde a renda é concentradíssima, não só a renda direta, mas também a renda na forma de patrimônio (bens, ativos financeiros, inclusive a simples conta bancária, herança...). No Brasil, a pessoa que ganha 20 salários mínimos paga pelo remédio o mesmo que paga alguém que ganha 1 salário. O Bolsa não pode ser o único programa de transferência de renda (existem outros, como as aposentadorias rurais por exemplo) e, por certo, deve se acompanhar de programas de geração de renda e emprego, além de educação. Mas, por si, é uma gota de água em um mar de desigualdade. Leva um pouquinho de dinheiro moeda em lares onde ele é escasso. E, convenhamos, ninguém sonha em receber bolsa-família para deixar de trabalhar. Primeiro, porque não dá. Segundo, porque o trabalho tem também a ver com a noção de dignidade pessoal, de participação na vida da comunidade, de auto-estima, enquanto o recebimento de ajudas de governo, sejam quais forem, pode ser associado ao estigma, de ser pobre, de ser dependente etc. De todo modo, o programa merece críticas para seu aperfeiçoamento, é concebido como provisório e, por transferir um pouquinho de renda da sociedade para os mais desprovidos, apenas por essas razões, merece atenção, vigilância com vistas ao seu aprimoramento e aplicação segundo critérios técnicos, fora das tradicionais teias de clientelismo que vicejam no Brasil profundo e não tão profundo. Valeu a postagem de Luzia Miranda.
Posted on: Sat, 13 Jul 2013 13:36:43 +0000
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