Agora mesmo dois trabalhadores estavam descendo de um andaime. - TopicsExpress



          

Agora mesmo dois trabalhadores estavam descendo de um andaime. Estavam girando uma manivela. Via dança no movimento que faziam. Era uma dança de forma muito sincronizada. Quando um cansava o outro girava, um cansava o outro girava... Muito sincronizado os movimentos. Aqui em frente a janela do meu quarto tem um prédio sendo construído. Foi em um piscar de olhos que os trabalhadores levantaram esse prédio. Parece que eu dormi olhando para um terreno baldio e no outro dia acordei e tinha um prédio levantado bem em frente minha janela... Tenho vontade de montar uma apresentação de dança que retrata esses movimentos do corpo dos trabalhadores que estão construindo esse prédio. Eu queria levar esses movimentos do dia a dia do trabalhador para o palco e montar uma apresentação de dança, fazendo uma crítica a exploração do corpo, uma crítica a mais-valia... Podia ser como por exemplo Charles Chaplin faz no filme Tempos Modernos, onde ele sai girando os parafusos feito louco e faz uma crítica ao fordismo e taylorismo, mas diferente dos Tempos Modernos, não quero me utilizar de nenhuma narrativa, não é mímica... Quero trabalhar com movimentos que estejam ligados ao cotidiano desses trabalhadores que estão construindo o prédio de frente com minha janela, sem precisar tornar a obra narrável. Quero me apropriar dos movimentos, utilizar uma técnica de dança para levá-los para o palco e colocar o público a pensar sobre os movimentos dos corpos dos trabalhadores. A partir daí, levar o público a pensar em outras questões que fazem crítica ao modo de produção capitalista. Mas a dança contemporânea que é o tipo dança que costuma trabalhar com essas questões do cotidiano, é pouco assistida e muitas vezes estranhada. Não é verdade que quando ouvimos comentários sobre a dança contemporânea é muito comum dizerem: “Legal, mas não entendi muita coisa” ? Penso que não é só a dança contemporânea que é pouca assistida ou estranhada... Mas nós não nos assistimos, acredito que vivemos em um mundo estranhado e temos pouca consciência dos nossos movimentos corporais porque estamos tão alienados no trabalho do dia a dia que muitos movimentos que realizamos passam por despercebidos. Não faz parte do cotidiano do trabalhador de frente da minha janela pensar nos movimentos que ele realiza e sim executá-los. É difícil assistir um espetáculo de dança e ter uma catarse estética com algo que você não se reconhece... Com algo que você não vê sentido nenhum... Você se emociona com o que te toca e não com o que lhe é estranho. E nosso próprio corpo no mundo do trabalho de hoje, nos é estranho. A divisão social do trabalho além de ter fragmentado o conhecimento, fragmentou nosso corpo. Nosso corpo é totalmente desumanizado nesse mundo do trabalho, o que faz com que nossos gestos, nossas relações, nossa vida acabem se tornando desumanizada também... Penso que estamos tão habituados a não termos consciência corporal, estamos tão habituados a alienar nosso corpo no próprio trabalho, que os movimentos que fazemos no dia-a-dia não são observados, não são sentidos, são movimentos feitos de forma automática. Não conseguimos perceber nós mesmos, nossos próprios movimentos, só o percebemos quando a coluna começa a doer ou quando alguma doença surge em nosso corpo. O nosso corpo tem uma história, tem uma trajetória que se mostra nos nossos movimentos. Observar nossos movimentos é observar o que está ao nosso redor, é observar a nossa vida, é observar nossas emoções, nossos sentimentos, nossas ações... O problema é que o tempo livre que teríamos que ter para nos dar conta dessas questões de pensar nossos movimentos e refletir sobre eles, o capital nos rouba. O capital é o grande ladrão dos nossos corpos, o grande ladrão da nossa vida. Que loucura... Mortal Loucura... youtube/watch?v=84MlvAffIe8
Posted on: Thu, 31 Oct 2013 21:05:49 +0000

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