Amigos, em tempos de hiperconectividade e muita forças das redes virtuais é preciso tomar cuidado e ir devagar com o andor nas análises mais taxativas do momento em que estamos vivendo. Estamos presenciando um levante da juventude no Brasil e os motivos que levaram a isso - aumento das passagens e do custo de vida, obras da Copa e repressão policial - colocaram os movimentos frontalmente contra os governos e seus financiadores, independentemente da sigla partidária. Em São Paulo, por exemplo, estivemos contra PT e PSDB. Essa sublevação popular que em São Paulo começou com o Movimento Passe Livre apoiado desde o início pelo movimento Juntos - que já no início do ano havia caracterizado que essa luta poderia incendiar de juventude e esperança a juventude da cidade - ganhou em pouco tempo apoio ativo de dezenas de milhares de pessoas. Posteriormente, o movimento de São Paulo insuflado pela vitória que Porto Alegre já havia obtido contra o aumento das passagens, atingiu as periferias da cidade, reunindo milhares de pessoas no Grajaú e tendo apoio do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto com bloqueios nas principais vias das periferias paulistanas. Conquistou mais de cem mil pessoas, nacionalizou-se. Ganhou apoio internacional e conseguiu vitórias expressivas como a reversão do aumento em dezenas de cidades, a reversão da lei contra manifestações em BH, entre outras tantas mudanças. Hoje a imprensa dizia que mais de 1 milhão de pessoas estariam nas ruas do país. Com a massificação e nacionalização dessa revolta popular sem uma direção consolidada politicamente e reconhecida amplamente é evidente que as elites do país entenderam que deveriam se relocalizar. Passaram a disputar a pauta do movimento - trazendo pras manifestações temas como a "redução dos impostos", por exemplo - e utilizar a mídia corporativa para dividir os manifestantes entre partidários e não partidários, o oposto do que forjou a luta paulistana, por exemplo. Essa disputa, aliás, não é nenhuma novidade. Basta ver o exemplo da Grécia, que quase elegeu um governo da esquerda socialista mais legítima ao mesmo tempo em que um grupo de extrema direita tem se organizado no país. Embora haja essas armadilhas e a ação de grupos fascistoides, é um erro imenso generalizar a ideia de que a maior parte dos manifestantes são reacionários, de direita, que os que gritam contra os partidos estão nas ruas a serviço de um pretenso golpe de estado, etc. Um erro que pode comprometer todo o potencial que essa luta tem. Essa generalização só serve pra esconder um sistema apodrecido dos velhos partidos, corrompidos pela negociação suja dos nossos direitos - como naquela feita pelo PT que colocou Marco Feliciano na presidência da comissão de Direitos Humanos -, pela subserviência ao grande capital - como no caso da realização dos megaeventos no país -, pela ausência de democracia real e a participação social que vemos pipocar nas ruas. Esse levante tem um elemento radicalmente novo, que contradiz as velhas fórmulas e deve ser entendido assim, sob pena de estarmos nos colocando na contramão da história que em outros países já tem dado exemplos importantes de organização e luta. Sua sorte está em sua capacidade de se moldar em um instrumento de transformações radicais e estruturais, com uma clara pauta que aprofunde a luta por direito à cidade, por passe livre, pela liberdade na Internet, pela desmilitarização da polícia, pelo alargamento democrático do estado para a participação popular, por congressos das cidades que decidam sua gestão inclusive durante os megaeventos, pela institucionalização dos direitos humanos e combate frontal às formas de preconceito entre tantos outros temas. Isso é, precisamos de um programa que nos faça avançar e esteja comprometido com a radicalidade progressista e democrática que marcou o início dessa luta. E, aliado a isso tudo, temos que voltar às ruas porque só lá é possível seguir o nosso curso e impor derrotas ao projeto das elites do país.
Posted on: Fri, 21 Jun 2013 03:25:42 +0000
Trending Topics
Recently Viewed Topics
© 2015