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Antes tarde do que nunca 29/07/2002 MINO CARTA, DIRETOR DE REDAÇÃO Três anos depois de CartaCapital, a Folha de S.Paulo descobre que houve espionagem dos EUA no Caso Sivam. Na terça-feira 23, a Folha de S.Paulo trouxe no alto de sua capa a manchete: Exclusivo. Espionagem garantiu Sivam à empresa dos EUA. Ótimo trabalho do correspondente em Washington, Marcio Aith, o material trata de documentos que, em resumo, revelam como a espionagem norte-americana ajudou a empresa Raytheon, dos EUA, a derrotar a francesa Thomson na disputa pelo US$ 1,4 bilhão do Projeto Sivam. Espantoso. Espantoso também que só agora a Folha tenha descoberto o caso. Na edição 92, de 3 de março de 1999, com a capa Os Porões do Brasil - que levaria à queda do diretor-geral da PF, Vicente Chelotti, CartaCapital relatava: em parceria com a CIA, o Centro de Dados Operacionais (CDO) da Polícia Federal, havia gravado conversas do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, enquanto se davam as negociações do Projeto Sivam. Informava - há três anos - CartaCapital: as gravações foram feitas em regime de informação compartilhada. A CIA, que pagou tijolo por tijolo na construção do CDO, tinha - e ainda tem - uma parceria com o CDO - hoje Soip. As informações foram disponibilizadas - ainda são - para a agência norte-americana. Mais: agentes, brasileiros, do CDO, agora Soip, passam pelo teste do detector de mentiras dos norte-americanos, em Washington, antes de poder integrar a seção pilotada em consórcio com a CIA. Relatava CartaCapital em 1999: "Onde está o CDO, onde estiver o CDO estará a CIA". Informava-se, ainda, há três anos: no caso das gravações do Sivam, a operação foi feita por dois agentes. O delegado Mário José chefiava o CDO. Bramson Brian era então o principal homem da CIA no Brasil. Tal conjunto de informações, com detalhes variados a cada edição e cada reportagem - todas de autoria do redator-chefe, Bob Fernandes -, foi repetido em pelo menos mais quatro capas: CIA e DEA Pintam e Bordam no Brasil, edição 97, de 17 de maio de 1999; Temos o Dinheiro, as Regras São Nossas, da edição 98, na semana seguinte; Um Espião Abre a Boca, edição 128, de 10 de maio de 2000; e A Prova: como os EUA Pagam as Contas da Polícia Federal, edição 185, de 17 de abril deste 2002. Nos relatos de CartaCapital, nomes de agentes e delegados que trabalhavam no consórcio CDO-CIA, documentos, fotos, endereços, depoimentos, e as ligações do grampo com o Caso Sivam. A Folha, quando da queda de Chelotti, até que ele caísse, valeu-se da versão do delegado. Nenhuma linha sobre como a espionagem norte-americana chegou ao presidente da República e ao Palácio do Planalto. No restante da imprensa, o já tradicional estrondoso silêncio. Tradição brasileira, escassas exceções, cada jornal, cada revista, cada emissora de tevê ou rádio, não noticia, não repercute, o eventual trabalho importante que outrem tenha realizado. Salvo quando não é mais possível esconder-se dos fatos. Salvo quando, tempos depois, se encontra uma vereda para se penetrar no assunto como se tudo fosse novidadeiro. CartaCapital descreve aqui esse episódio não apenas em defesa do seu trabalho. Tal é um serviço ao leitorado. É salutar, para quem acompanha a mídia, ter informações sobre como ela se porta, como cansa de derrapar nos mesmos princípios que cotidianamente os seus cobram dos demais humanos. A propósito de norte-americanos e seus interesses, notemos o que se passa no processo de reaparelhamento da frota de caças da FAB, em curso. Cinco modelos de caças diferentes, de quatro países, disputam o lance inicial em uma licitação de US$ 700 milhões, objeto de minucioso relato na edição 190 de CartaCapital. A proposta que grande parte dos brigadeiros da Força Aérea prefere é a do consórcio franco-brasileiro, que forneceria os Mirage 2000-5 com transferência integral de tecnologia de ponta para a Embraer. A decisão deveria ter sido tomada até o início de junho. Foi adiada. É aguardada para agosto. Segundo brigadeiros, o ministro do Desenvolvimento, Sérgio Amaral, que não quis falar com CartaCapital, pressiona para que o caça escolhido seja o Gripen JAS-39, do consórcio anglo-sueco. A tecnologia de ponta do Gripen - radares, armamentos, códigos-fonte, etc. - pertence a empresas dos Estados Unidos e, portanto, essa tecnologia não poderia, de forma alguma, ser transferida para o Brasil. Impedir acesso de outros países à tecnologia aeroespacial é parte dos interesses estratégicos norte-americanos. Mino Carta, diretor de redação.
Posted on: Mon, 08 Jul 2013 16:18:33 +0000

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