Artigo sobre Filosofia e Estética submetido à Revista - TopicsExpress



          

Artigo sobre Filosofia e Estética submetido à Revista Viso.* ESTÉTICA E A INTERNET – O OBJETO DA ARTE QUE NOS AFETA Por Eduardo Ribeiro Toledo Ao debate existencial clássico acerca das perguntas – se eu existo, se o outro existe, ou o que seria a realidade – eu respondo – em livre paráfrase – um mote da escola de filosofia da fenomenologia. Algo como: eu não posso afirmar se você (ou algo) existe, mas posso lhe dizer como você (ou algo) me afeta. Assim, a realidade se constituiria de “como” (noesis) um determinado “algo” nos afeta (noema) . Mesmo porque, os sentidos humanos não nos permitiriam ir além da nossa própria experiência, para um estar consciente de algo (redução fenomenológica) . A apreciação e o julgamento sobre a estética das artes seguiriam o mesmo rationale. Ao pensar em estética, vejo um dilema. Não se poderia afirmar que um objeto (tal como uma obra de arte) teria, per se, o atributo do belo; ou, a sua ausência. A tal “afetação” individual poderia indicar à consciência de um receptor que determinado objeto (ou obra de arte) seria belo. É nítida a importância do debate, tal como o viés explorado atualmente pelas ciências das letras e escolas de literatura, por meio do qual se indaga a alteração de abordagem acadêmica, do ponto de vista do autor do texto para o ponto de vista do receptor-leitor. E a forma “como” o objeto da arte afetaria um indivíduo determinaria apenas parte da resposta. Haveria, ainda, um “bolsão de afetação” coletiva, concorrente em direção e sentido, uniforme ou não identificável, o qual não corresponderia à mera soma das afetações individuais. Tal como na sociologia de Weber – a sociedade não seria a mera soma dos seus indivíduos –; o belo artístico não seria a mera soma das afetações de valores positivos individuais, mas de suas correlações coletivas. Se o objeto de estudo da estética partisse de “como” determinado objeto artístico nos afeta, seria impossível negar a correspondência da relação objeto x sujeito (e sujeitos coletivos) de vontade subjetiva. E, ao falar de “afetações subjetivas”, seria inarredável a consequência lógica que geraria a pergunta: existiria um conceito de estética, de forma a eliminar o sujeito (ou uma coletividade) enquanto arbítrio subjetivo? De autor para autor, escolas a escolas, classificações ou sistematizações filosóficas da estética – divisões e abordagens procedentes, de acordo suas respectivas abordagens –, em qualquer ramo hodierno por meio da qual a estética seja entendida – nas relações entre “arte e natureza”, “arte e ser humano”, ou “arte e funções atribuídas à arte”, a preponderância do julgamento axiológico manifestado, individual ou coletivamente, pelos sentidos humanos – definição do termo via sujeito enquanto arbítrio subjetivo – encontra-se presente de forma incontroversa. Se retornarmos a Kant, a ideia da “afetação” subjetiva, no que tange à estética, não seria antagônica à abordagem fenomenológica. Segundo ele, o belo seria aquilo que traz, por meio da arte, o ideal para o real. O juízo axiológico funcionaria como meio intermediário ao sentimento humano, o qual faria a ponte entre a razão e o intelecto . E, se Kant fala de “sentimento”, diz, ainda, sobre arbítrio subjetivo. Ainda que um tipo de “universalização” dos juízos individuais resultasse na conclusão do belo estético em si – o que, salvo melhor juízo, não se poderia admitir, pois as relações entre os juízos individuais poderiam conter aspectos difusos entre si; i.e., para muitos sujeitos o belo estético estaria em um determinado aspecto da obra de arte (os olhos da Mona); enquanto que, para tantos outros, o belo estético poderia estar em aspecto diverso (o sorriso da Mona) – ao se determinar que o juízo axiológico exista como meio intermediário ao sentimento humano remete-se a análise da estética, inexoravelmente, ao plano sensorial das emoções. Hegel, outro importante filósofo que abordou a estética, pretendeu sistematiza-la como objeto de estudo científico preciso. Todavia, não se poderia inferir que, com maior precisão do que havia sido enunciado, anteriormente, por Kant, modificar-se-ia a abordagem da estética aqui, porque, ao colocá-la na categoria de conceito sem realidade “física”; e ao afirmar que a estética pertence ao plano espiritual (a noção de “espírito absoluto”), a qual se manifestaria “no plano da observação dos sentidos humanos” – repete-se, para a caracterização do belo estético, a necessidade da presença das afetações de valores (na esfera do arbítrio subjetivo humano), ainda que de forma, peremptória, a se manifestar no plano coletivo, no plano da observação dos sentidos humanos. Hegel teria intentado dizer que o “espírito absoluto” se manifestaria etapas após etapas, em direção à perfeição da apreciação estética (esta ilação, nota-se, controversa, no que se refere à estética e à apreciação da arte), estética esta que somente por meio da filosofia da arte poderia ser abordada . Ao trazer o sentido da estética para a filosofia da arte, o filósofo concluiu que o conceito da estética seria objetivo e não subjetivo. Para a filosofia da arte; talvez, sim, poder-se-ia tratar o tema com uma abordagem objetiva; mas a apreciação do belo e o julgamento de valores axiológicos dependeriam da observação subjetiva dos sentidos humanos, repita-se, como dito pelo filósofo, manifestada “no plano da observação dos sentidos humanos”. Embora não seja a intenção deste artigo enquadrar a abordagem da estética, conforme as relações mencionadas acima (entre esta e a natureza, o ser humano, ou como função da arte), John Dewey poderia ter cunhado um preceito imprescindível para o estudo acadêmico. Pode-se entender, sem maiores questionamentos, que Dewey propôs que objeto da arte, para a estética, seria não somente o objeto da arte em si, tampouco sua manifestação física, nas características ou no processo que englobariam a criação da arte, mas, sim, no processo de desenvolvimento que afetaria a experiência pessoal (do receptor – e não haveria outro destinatário) da vida de um sujeito . E Dewey operaria os termos da estética atual, incluindo, como se não bastasse, a nova mídia e expressões da arte contemporânea. A experiência da arte, com base em teorias das ciências da biologia e psicologia, afetaria o sujeito por estímulos (“inputs”) ou absorção de dados via canais de condução internos aos sentidos orgânicos (“summation”) . Indo além e de encontro à chamada “uniformização do belo” enunciada anteriormente, Dewey propôs que as possibilidades de apreciação da obra de arte seriam ilimitadas e independeriam, inclusive, do “gosto” predominante em uma dada coletividade. Ou seja, ainda que se houvesse uma uniformidade no “gosto” de uma coletividade, sendo a obra de arte ilimitada, haveria permanentemente a criação (ou poiesis) de uma nova realidade estética, para além de novos modos de usufruir a arte, por parte de inumeráveis e, ainda, novos e diferentes receptores. A obra artística se expandiria em emoção e sentido, ao afetar um novo indivíduo, uma nova coletividade uniforme, ou indeterminada. Segundo o autor, se a arte é sentida diferentemente pelo público, a arte ganharia identidade própria e teria um apelo popular mais amplo . Seria interessante, pois, sobrepor o que a ciência das letras (literatura) chama usualmente de a “autonomia do texto literário” com o conceito de arte independente (“live creature”) descrito por Dewey. Esta criatura viva chamada arte, para uma abordagem autônoma, coerente e sistemática, deveria se feita, pela academia, do ponto de vista do receptor. Não haveria, salvo melhor juízo, forma de se entender a autonomia da arte (e do texto literário) sob o ponto de vista do autor, sob a abordagem que hoje se faz, equivocadamente. Se a arte (ou o texto literário) é autônoma, pode-se afirmar o dito pelo ponto de vista do receptor; e, nunca, sob o ponto de vista do autor. Se a arte seria uma “criatura” ou realidade viva, a estética existe, se e somente se, enquanto existirem os receptores. E não haveria incoerências no que se assevera acima, no campo científico, com os estudos e desenvolvimentos de técnicas que visam instrumentalizar (vide, na poesia, as figuras de linguagem e sentido) os atributos para a criação e julgamento do belo estético. Tanto como nada que se sinta antagônico à abordagem que inclui a participação do arbítrio subjetivo individual ou coletivo, determinado ou indeterminado. Para que o objeto da arte nos atinja sensorialmente, haveria, imprescindivelmente, um contato com os sentidos humanos. Esta aproximação pode se dar ao ler um livro, ao ver um filme, uma peça de teatro, exposições de arte e concertos de música. E a pergunta, da qual decorre este ensaio: como a internet promoveria o contato entre a arte (estímulos e “inputs”) e os sentidos humanos; e, como abordar tal contato? Constata-se que, ao expor o objeto da arte aos sentidos humanos, a internet surgiu e desponta, atualmente, como uma plataforma poderosa. As manifestações de cada arte e ofício, em particular, encontram uma via espantosa para aproximação com os sentidos. Observa-se, assim, nos expedientes publicados nas redes sociais, por artistas amadores e até renomados, o fato ordinário de se expressar um potencial objeto da arte conjugado com outras formas de manifestações artísticas; i.e.; a poesia que acompanha uma tela de arte, ou uma imagem, ou uma escultura selecionada, ou uma música, ou uma reunião de manifestações potencialmente artísticas. Faz-se comum, hoje, a publicação de um poema, nas redes sociais, acompanhada, não raro, de uma imagem. Tais manifestações na internet e redes sociais poderiam ser julgadas como expressão do belo, ou de sua privação. O fato que importa é que, hoje, haveria manifestações artísticas nas redes sociais que conjugam poesia, pintura, fotografia, escultura, música, em parte, ou conforme o artista deseja, em maior, ou menor, veiculações possíveis. Devido ao fato de este ensaio não ter o propósito de adentrar conceitos interdisciplinares presentes entre, por exemplo, arte e sociedade, ou arte e ideologia política, entre outras; mas, apenas, o de pensar acerca de como se daria a aproximação da manifestação artística (objeto) com a consciência volitiva afetada do indivíduo (sujeito ou coletividade), este, enquanto ente de arbítrio subjetivo – a divulgação da arte na internet em nada prejudicariam a criação e o julgamento do belo estético. Primeiro, porque, como afirmado, a noção do belo, ligada à arte e como objeto de estudo da estética, continua, inexoravelmente, vinculada à forma de como a manifestação artística afetaria a cada sujeito, em particular, ou a um conjunto de sujeitos, ou a um plano coletivo de indivíduos identificáveis ou não identificáveis. Segundo, porque o fato de conjugar formas diversas de manifestações artísticas não influiria no resultado de como, ao se obter a experimentação dos sentidos, a consciência volitiva seria afetada individualmente, em conjunto ou em um plano coletivo de determinados ou inumeráveis indivíduos. A conjugação de manifestações artísticas; como, por exemplo, um poema acompanhando de uma imagem, poderia restringir ou ampliar o conteúdo estético divulgado por um autor. Porém, bradar, ao topo da voz, que as redes sociais veiculam impropriedades artísticas, de forma generalizada, seria simplificar a questão. Se a manifestação artística na internet afeta a experiência de vida do belo, a estética estaria presente. A eficácia da arte, em se tratando de estética, faz-se via a emoção sensorial dos receptores. * notas de rodapé não entram aqui não porque eu não queira, mas porque não haveria como.
Posted on: Mon, 09 Sep 2013 05:36:46 +0000

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