As causas de ordem cultural da criminalidade no Brasil — - TopicsExpress



          

As causas de ordem cultural da criminalidade no Brasil — Criminalidade, Cultura e Cinismo No Brasil, a famosa Lei de Gérson é conhecida de todos. Vivemos numa cultura que cultua o “jeitinho”, e o personagem-símbolo da nossa sociedade é o malandro”. Não foi por acaso que na época da 2ª Guerra, ao criaram um personagem para personificar o Brasil, os estúdios Disney escolheram um papagaio que não trabalha, não paga suas dividas e vive à custa de enganar os amigos honestos: enquanto o papagaio representa bem a fauna nacional, as características psicológicas do personagem representam bem a nossa auto-imagem, como nação. As pesquisas criminológicas enfatizam, modernamente, as razões que levam uma pessoa a não cometer crimes. Essas razões correspondem a dois controles sociais: o informal e o formal. O controle social formal consiste nas leis e no aparato repressivo. O controle social informal corresponde às normas de cultura, aos costumes, à religião, à importância que tém as opiniões alheias, a reputação, o bom nome e a honra. Robert Sampsom professor da Universidade de Chicago e estudioso da criminalidade, diz que uma das perguntas que são feitas em pesquisas criminológicas é “é normal levar vantagem sobre os outros?”. Quanto mais positiva for a resposta a essa pergunta, diz o pesquisador, maior é o cinismo da população em relação à lei e mais provável que cometam crime. Quando uma cultura incentiva esse pensamento, isso faz as pessoas pensarem que, se elas não levarem alguma vantagem, ficarão para trás. E então cada vez mais gente viola a lei. As pesquisas mostram, por outro lado, que quanto mais forte for o controle social informal - a crença na legitimidade da lei, o respeito pelo Estado, pelos outros e pela honra e conceito sociais - menor é a criminalidade. O medo do desprezo e da reprovação dos outros, da perda da reputação, da desonra, é um importante fator de desestímulo ao crime. Logo, num país onde levar vantagem sobre os outros é tido como positivo, e onde a maioria se comporta cinicamente em relação ao Estado e à lei, o controle social informal é nulo. (...) Por outro lado, quem já nasce marginalizado, ou é marginalizado por contingências socioeconômicas e vive privado da dignidade, não tem mais dignidade a perder, e fica imune ao controle social informal. Por que é mais comum um favelado analfabeto cometer um furto, do que um médico praticar o mesmo crime? Não é apenas por questões econômicas, mas também porque o médico tem muito mais a perder. Boa parte do que a pena criminal tira do indivíduo, muitos dos marginalizados não têm: conceito, respeito, dignidade, convívio familiar sadio, status, expectativa de ascensão social. Criminalidade - Causas e Soluções, Alberto Marques dos Santos.
Posted on: Tue, 15 Oct 2013 23:26:37 +0000

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