As manifestações são a vida ante uma cidade que morre Não vou - TopicsExpress



          

As manifestações são a vida ante uma cidade que morre Não vou mencionar o fato de que a grande mídia no Brasil não entendeu nada do que está acontecendo ou o que significa estas manifestações. Nem que a cada dia que passa ela fala uma coisa e tenta se apropriar de algo que não entende. Nem vou mencionar o fato de que os partidos políticos inclusive a juventude destes mesmos partidos, ficaram ainda mais anacrônicos e obsoletos diante do que está acontecendo. Não vou mencionar também que estas manifestações são o último prego no caixão da UNE, a grande ausente de tudo, e que hoje é departamento do governo federal, que anda pelo país arregimentado estudantes universitários com dinheiro público propondo um peleguismo com a etiqueta de participação política. Mas quero mencionar que estas manifestações acontecem em dois níveis. O concreto e o subjetivo. Aquilo que se tem e o que se espera, o que não controlamos e aquilo que não podemos perder o controle. É claro que o preço do transporte e sua não qualidade, as escolas públicas falidas, as universidades particulares e sua precariedade, a universidade publica e sua burocracia engessada e hierarquizada, a saúde, a insegurança pública tudo isso é o caldo de onde sai o ímpeto para o protesto, para a manifestação. Mas o sentimento que alimenta a alma para as multidões que saem às ruas Brasil afora tem suas raízes num ponto mais fundo. A grande questão é o fato de que a vida na cidade saiu do controle das pessoas, que se tornaram apenas peças numa engrenagem que se move contra a vida, contra a alegria, contra o afeto, contra o encontro. De repente a cidade é dominada pela especulação imobiliária e as grandes construtoras que impõe seu desenho urbano que isola, afasta, segrega, degrada. Especulação que vende o sonho da boa morada e entregam guetos, prisões, panópticos, distâncias sem fim, isolamento e solidão. O sentimento que corre na veia dos manifestantes é a angústia de viver em cidades onde as pessoas são transportadas como gado todos os dias, em ônibus abarrotados, quentes, barulhentos, numa indignidade tão grande, tão aviltante que a vida perde a luz, perde o encanto. Cada vez mais longe, cada vez mais sozinhos, cada vez mais indigno ao andar pela cidade. O que emerge nestas manifestações é o sentimento de que a cidade é apenas o lugar concreto onde os acertos, os acordos, os negócios se concretizam de fato. Acertos e negócios decididos lá nos gabinetes, nos salões, nas assembleias e congressos, nos voos internacionais. Negócios costurados pelo grande capital, pelos políticos seus capachos, pelas máfias dos transportes, da saúde privada, da construção e tudo isso coroado por eleições fajutas, corrompidas, compradas numa democracia micha dominada pelo marketing eleitoral. E a população que arque com as consequências de viver numa cidade onde ela não tem voz nem vez. É o desespero de ver a cidade se transformar, mudar, morrer e nada se poder fazer é que trouxe a juventude à rua. É o contraste de viver num lugar onde se paga por tudo e por todas as consequências e estar impotente para discordar, negar e não querer. É o desejo de se reapoderar da cidade o grande sentimento que entrecorta todos que nas ruas estiveram. Não é mais possível continuar vivendo num lugar onde o poder, o dinheiro, o capital dominado por poucos e que fratura, estupra e esquarteja a cidade continue solto e ensandecido produzindo mortes, tristezas, solidão e desespero. É a luta pelo controle da cidade pelas pessoas comuns, pelas pessoas que fazem vida na cidade e não negócio com ela. É a mentira da vida urbana privatizada, cercada, murada, segregada e blindada que se denuncia nestas manifestações. É a luta contra a morte da cidade. É o desejo de vida que se impõe. O sucesso destas manifestações não é alcançar agora o que ela sente e sonha, mas deixar claro o que ela já não quer mais.
Posted on: Thu, 20 Jun 2013 03:49:23 +0000

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