Ascensão e queda da Universidade Independente Viagens em jactos privados, almoços com vinhos de 500 euros, carros, jóias, mobiliário e casas. Tudo era pago pela Independente, que fechou portas em 2007. Um acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, baseado em milhares de provas, conta como durante anos os responsáveis da universidade, onde José Sócrates se licenciou, levaram uma vida faustosa, cometeram burlas e até inundaram uma cave para destruir documentos. A 26 de Fevereiro de 2007, o país acordou com mais um escândalo numa universidade privada. As aulas na Independente estavam suspensas e as entradas e saídas no edifício-sede, em Lisboa, na antiga zona industrial de Cabo Ruivo, eram controladas por skinheads e outros elementos de extrema-direita do Grupo 1143, ligado a uma das claques do Sporting. A mando do reitor, Luís Arouca, estavam ali para impedir a entrada de Rui Verde, vice-reitor e presidente da SIDES (Sociedade Independente para o De- senvolvimento do Ensino Superior), empresa dona da universidade, e dos que tomassem o seu lado. Arouca reclamava tentar evitar «a débacle» da instituição, na bancarrota. A confusão era total e os acontecimentos sucederam-se a um ritmo vertiginoso. Arouca, Verde e uma terceira figura da direcção, Amadeu Carvalho, até aí um desconhecido, davam sucessivas entrevistas em que trocavam acusações de má gestão, burlas e falsificação de documentos para controlar a Independente, além de reclamarem representar a maioria do capital. Quem fizesse as contas, e somasse as parcelas que cada parte dizia ter, obtinha um valor superior a 160%... A Universidade Independente (UnI) tinha então cerca de dois mil alunos, repartidos por 14 licenciaturas – que anos antes até granjearam reputação entre as privadas, sobretudo na área das engenharias. Com os alunos a protestarem pela falta de aulas e pela indefinição do seu futuro, o ministro Mariano Gago lá mandou avançar a inspecção-geral do ensino superior, que um mês depois faria um relatório demolidor. Ninguém sabia então, mas o Ministério Público (MP) e a Polícia Judiciária (PJ) tinham já aberto um inquérito e as principais figuras estavam sob escuta. A 21 de Março, Rui Verde, Amadeu e Arouca foram detidos, tendo os dois primeiros ficado presos preventivamente. O rol de suspeitas não tinha fim: associação criminosa, burla, fraude fiscal, abuso de confiança, corrupção, falsificação, recepção ilícita de depósitos, branqueamento de capitais... ‘Como é isto possível?’ – era a pergunta que corria o país. Um dia depois, rebentou outro escândalo: o jornal Público revelava que a licenciatura em Engenharia Civil de José Sócrates fora obtida na UnI, em 1996, graças a uma ‘generosa’ atribuição de equivalências, sem respeitar as regras académicas, e com notas dadas por um mesmo professor com quem tinha relações antigas. Passado um mês, Mariano Gago ameaçava encerrar a universidade se as aulas não fossem retomadas. Um grupo de antigos professores denunciou ao SOL que já um ano antes tinha alertado o Ministério para o caos que ali se vivia: serviços administrativos desorganizados, salários em atraso, pautas com notas de exames alteradas, provas de conteúdo desadequado, afastamento compulsivo de professores e substituição por outros sem qualificações académicas, fuga ao Fisco e à Segurança Social. Agora, com a inspecção finalmente nos serviços, já não era possível fechar os olhos – e a UnI fecharia portas, seguindo uma ordem do ministro, a 2 de Agosto seguinte, «por manifesta degradação pedagógica». Para trás ficaram alguns bancos e particulares a ‘arder’ em muitos milhões de euros com a falência. E centenas de jovens obrigados a mudar de universidade, muitos repetindo grande parte do curso. Os que já se tinham licenciado passaram a conviver, justa ou injustamente, com um anátema, bem expresso então por Manuela Ferreira Leite: «Uma pessoa formada em Engenharia pela Independente, se calhar não tem muitos a dizerem-lhe: ‘Olhe, venha-me ali construir uma ponte’. Têm algum receio da sua qualificação». Como foi tudo isto possível?
Posted on: Fri, 12 Jul 2013 14:48:31 +0000
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