Bruxaria como religião Muito recentemente estive num diálogo - TopicsExpress



          

Bruxaria como religião Muito recentemente estive num diálogo sobre religião como bruxaria ou como ofício ou prática. Sempre discordei da definição de bruxaria como ofício e como prática e defendo o ponto de vista de que bruxaria é religião. Abaixo vão as minhas reflexões sobre o assunto, em resposta dirigida aos digníssimos colegas de debate. Oi Senhores, Luís Gustavo Pereira, Dynho Oliveira, Odir Fontoura, Foi muito bom ler seus pontos de vista sobre a questão da bruxaria como ofício e se me permite(m), vou debater o argumento do Odir e do Lugus sobre o tema e tentar mostrar gentilmente a minha discordância. Observem por um instante que quando nos referimos a bruxaria como um culto marginal, e fundamentalmente um oficio, temos que situar a origem desses dois argumentos, que é em larga medida os trabalho de Andrew Chumbley e a Cultus Sabbati. Tenho poucas duvidas quanto ao argumento de que Bruxaria européia FOI um ofício. Os indícios são fortes o bastante para isso, mas tenho alguns questionamentos. Todavia, antes de definir a Bruxaria como ofício, necessariamente devemos lembrar os usos desse termo. Ofício, caríssimos, é um termo necessário a formas especificas de organização medieval do trabalho. Não há ofício sem corporação, sem mestres, irmãos ou aprendizes. Exceto a maçonaria/"arquitetura"/trabalho de pedreiro, não há ofício sem oficina. E possivelmente outra exceção, a bruxaria. E por que pensar a bruxaria como um ofício? Parece-me que um sistema de crenças tão plastico quanto a Bruxaria absorveria para si as formas de organização mais comumente conhecidas. E neste caso, se bruxaria é ofício, certamente não é um fenômeno rural, pois a experiência das oficinas e lojas é intimamente urbana, das vésperas do renascimento urbano do século XIV-XV. Ou seja, se a bruxaria é oficio, dificilmente é um fenômeno rural, exceto se o for por imitação dos camponeses de práticas e formas de organização urbana. Meu questionamento portanto leva a duas conclusões: ou bruxaria nunca foi oficio, ou (como acho bastante plausível) a organização por ofício é uma imitação camponesa do modelo urbano e por isso tardia, provavelmente dos século XVI ou XVII se admitirmos a noção de circularidade cultural de Mikail Bakhtin. De fato, também se tomarmos os argumentos de Edward Thompson em Costumes em Comum (Cap 3) sobre o mundo do trabalho, lembraremos que trabalho e cultura nunca estão separados sob forma nenhuma, e que normalmente elementos do mundo do trabalho informam diversas práticas culturais e vice-versa. Nem tão pouco, eu duvido da marginalidade da bruxaria como um todo enquanto culto, mas discordo de qualquer uniformidade nesse sentido quanto a práticas de bruxaria no mundo todo. Se uma coisa não é uniforme, certamente é a bruxaria praticada através do globo e definí-la apenas como culto marginal colocaria mais problemas do que respostas. Para citar um exemplo, Candomblé foi um culto marginal no Brasil, e suas associações com a Bruxaria provinham apenas do preconceito dos brancos no século XIX. Adicionemos o Candomblé a essa lista? Ou o mesmo vale para a Umbanda, que apesar de ter integrado elementos diversos das variadas formas de feitiçaria popular no Brasil, tem muitos elementos próprios para ser considerada uma forma de bruxaria. E é um culto marginal. Portanto, se for para construir uma tipologia das características intimas da Bruxaria, culto marginal me parece um bom elemento, mas nunca se resume a isso. Minha hipótese é que Chumbley apenas descreveu o cenário inglês vivido por ele, e não a totalidade do problema. Hipótese a ser testada, claro. Se bruxaria não é ofício, e nem mesmo há como concordar quanto a sua marginalidade, como defini-la? O melhor conceito para isso é o de Religião, admitindo que o conceito em nada deve a definição agostiniana de "religare". Nota: os autores romanos produziram ao menos 5 definições distintas sobre o termo religião. Nunca entendi porque pagãos modernos sempre escolheram justamente a definição do santo cristão. Me recuso a admitir que é porque estava no dicionário. Dado isso, podemos definir religião como um conjunto de práticas culturais de um determinado grupo que oferecem elementos de ordem simbólica e material para a expressão da espiritualidade desse mesmo grupo. Nesse sentido, espiritualidade consiste no sentimento de sagrado individualizado, mas que pode ser compartilhado através da religião. Enquanto a espiritualidade é individual e afetiva, a religião é parte integrante da cultura de um povo, formando um tipo especial de linguagem para expressar o sentimento de sagrado. Portanto, como disse antes, Bruxaria é (e agora ressalvo, nem sempre foi) religião.
Posted on: Tue, 09 Jul 2013 23:52:40 +0000

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