COLÉGIO TOCANTINS MIRACEMA DO TOCANTINS PROFESSORA: MILENA - TopicsExpress



          

COLÉGIO TOCANTINS MIRACEMA DO TOCANTINS PROFESSORA: MILENA AZEVEDO DISCIPLINA: FILOSOFIA 2° MB TEXTO BASE SOBRE VIDA E OBRA DE NICOLAU MAQUIAVEL, BASE PARA FUNDAMENTAÇÃO DO JÚRI SIMULADO QUE OCORRERÁ NO DIA 08/10/2013. Nicolau Maquiavel (1469-1527) Maquiavel nasceu em Florença, na Itália. Foi um intelectual, estudou e traduziu obras clássicas, além de ter escrito uma tese original na esfera da teoria política. Participou ativamente da vida política de sua cidade, observando atentamente como grandes homens agiam para conquistar e manter o poder. Além disso, encontrou na história uma fonte de grandes conselhos, pois acreditava que o passado era exemplar, servia de referência para poder compreender o presente e orientar melhor as ações do futuro. Chegou a afirmar que embora os homens, seus reinos e suas glórias passassem, a natureza humana permanecia. A partir do que viveu e leu, concluiu que a vida política era um grande combate e escreveu como os governantes agiam de fato e até que limite eram capazes de usar a força para conquistar e manter o poder. O filósofo buscou demonstrar o que ele chamava de “verdade efetiva das coisas”, diferenciando-se assim dos filósofos idealistas e utópicos e caracterizando-se como um pensador realista. Maquiavel acreditava que era a realidade que determinava a ação dos governos, e não os princípios morais ou religiosos. Por esta perspectiva realista, as considerações que fez no campo da moral se tornaram polêmicas e precisaram ser interpretadas, pois ao mesmo tempo em que o filósofo escreve que não se pode considerar uma ação admirável assassinar seus concidadãos, trair os amigos, não ter fé, piedade nem religião, ele afirma que o governante não pode observar todas as ações pelas quais os homens são considerados bons, e precisa, portanto, ter o espírito preparado para saber praticar o mal, se necessário. Para não fazermos uma interpretação equivocada sobre a teoria de Maquiavel, devemos observar que as afirmações sobre a forma de conduta do governante estão sempre orientadas pela ideia de necessidade. Outra observação importante que deve ser feita é em relação ao contexto histórico: para compreender sua teoria não podemos deixar de analisar o momento político que o autor viveu, pois foi nessa época que escreveu sua obra O príncipe. Nicolau Maquiavel “Os homens ofendem mais aos que amam do que aos que temem”. Nicolau Maquiavel Quando ouvimos alguém falar que certa pessoa é maquiavélica, acabamos deduzindo que o indivíduo referido é inescrupoloso e não mede consequências para conseguir realizar seus objetivos. Este fato tem origem no adjetivo em questão, que saiu do nome de Nicolau Maquivel um dos mais importantes estudiosos políticos que já existiu. Para entender melhor sua obra e suas ideias, é necessário saber que sua importância no estudo da política está na forma como realizou a separação entre ética e política e abandonou as concepções tradicionais herdadadas dos gregos. Na verdade, o que Maquiavel fez foi estudar a política baseado em fatos, e não em ideias preconcebidas sobre o que seria uma forma de política ideal. Desta forma, nota-se em sua obra algumas ideias mais práticas, partindo “das condições nas quais se vive e não das condições segundo as quais se deve viver”. Isso causou uma tremenda reviravolta entre os intelectuais da época, sempre acostumados aos velhos ideais da Grécia antiga. Com sua renovação em estudos sobre políticas e formas de agir, Maquiavel destriu pretensões morais e religiosas e, ao contrário do que se pensa, ele não tinha a intenção de criar um modo de tirania perfeita. Famoso por seu principal livro, “O Príncipe”, Maquiavel nasceu em uma família que estava em plena decadência em Florença no dia 3 de maio de 1469. Recebeu educação formal e iniciou suas atividades políticas após a derrocada de Girolamo Savonarolla no Governo de Florença. Foi nomeado para diversas missões diplomáticas e exerceu muitos cargos dentro do governo, o que lhe deu as bases de seu pensamento filosófico e foi o combustível para suas obras. As ideias de Maquiavel vieram da prática e da observação, pois isso são consideradas de certa forma mais realistas e adaptáveis às condições do homem. Um das ideias de Maquiavel era de que os mais hábeis deveriam usar as ideias religiosas para governar o povo, arracando dos homens a sua maldade intríseca e torná-los bons. No ano de 1520, torna-se o historiador oficial da cidade-estado e neste mesmo período produz livros e peças de teatro, revelando sua capacidade de atuar em diversas áreas, pelas quais pôde pincelar algumas de suas ideias. Exemplos de criações desta época são a peça “A Madrágora” e o conto “Belfegor”, em que crítica com bom humor a sociedade de consumo daquele período. Em 1527, após a queda dos Médici, Maquiavel acabou sendo identificado pelos jovens republicanos como alguém ligado aos tiranos que haviam sido despostos. Acabou vencido, adoeceu e morreu no mesmo ano. Maquiavel e a autonomia da política O intelectual Nicolau Maquiavel tratou principalmente sobre política na obra “O príncipe”, descrevendo como o governante deveria agir e quais virtudes deveria ter a fim de se manter no poder e aumentar suas conquistas. Maquiavel ensinou como o governante deveria agir e quais virtudes deveria ter a fim de se manter no poder e aumentar suas conquistas Nicolau Maquiavel, nascido na segunda metade do século XV, em Florença, na Itália, trata-se de um dos principais intelectuais do período chamado Renascimento, inaugurando o pensamento político moderno. Ao escrever sua obra mais famosa, “O Príncipe”, o contexto político da Península Itálica estava conturbado, marcado por uma constante instabilidade, uma vez que eram muitas as disputas políticas pelo controle e manutenção dos domínios territoriais das cidades e estados. Conhecer sua trajetória como figura pública e intelectual é muito importante para que as circunstâncias nas quais este pensador pensou e escreveu tal obra sejam compreendidas. Maquiavel ingressou na carreira diplomática em um período em que Florença vivia uma República após a destituição dos Médici do poder. Contudo, com a retomada dessa dinastia, Maquiavel foi exilado, momento em que se dedicou à produção de “O Príncipe”. Esta sua obra seria, na verdade, uma espécie de manual político para governantes que almejassem não apenas se manter no poder, mas ampliar suas conquistas. Em suas páginas, o governante poderia aprender como planejar e meditar sobre seus atos para manter a estabilidade do Estado, do governo, uma vez que Maquiavel conta sucessos e fracassos de vários reis para ilustrar seus conselhos e opiniões. Além disso, para autores especializados em sua vida e obra, Nicolau Maquiavel teria escrito esse livro como uma tentativa de reaproximação do governo Médici, embora não tenha logrado êxito num primeiro momento. Outro fator fundamental para se estudar o pensamento maquiaveliano é o pano de fundo da Europa naquele período, do ponto de vista das ideologias e do pensamento humano. Ao final da Idade Média, retomava-se uma visão antropocêntrica do mundo (que considera o homem como medida de todas as coisas) presente outrora no pensamento das civilizações mais antigas como a Grécia, a qual permitiu o despontar de uma outra ideia política, que não apenas aquela predominante no período medieval. Em outras palavras, a retomada do humanismo iria propor na política a “liberdade republicana contra o poder teológico-político de papas e imperadores”, como afirma Marilena Chauí (2008). Isso significaria a retomada do humanismo cívico, o que pressupõe a construção de um diálogo político entre uma burguesia em ascensão desejosa por poder e uma realeza detentora da coroa. É preciso lembrar que a formação do Estado moderno se deu pela convergência de interesses entre reis e a burguesia, marcando-se um momento importante para o desenvolvimento das práticas comerciais e do capitalismo na Europa. Assim, Maquiavel assistia em seu tempo um maior questionamento do poder absoluto dos reis ou de alguma dinastia, como os Médici em Florência, uma vez que nascia uma elite burguesa com seus próprios interesses, com a exacerbação da ideia de liberdade individual. Questionava-se o poder teocêntrico e desejava-se a existência de um príncipe que, detentor das qualidades necessárias, isto é, da virtú, poderia garantir a estabilidade e defesa de sua cidade contra outras vizinhas. Dessa forma, considerando esse cenário, Maquiavel produziu sua obra com vistas à questão da legitimidade e exercício do poder pelo governante, pelo príncipe. A legitimação do poder seria algo fundamental para a questão da conquista e preservação do Estado, cabendo ao bom rei (ou bom príncipe) ser dotado de virtú e fortuna, sabendo como bem articulá-las. Enquanto a virtú dizia respeito às habilidades ou virtudes necessárias ao governante, a fortuna tratava-se da sorte, do acaso, da condição dada pelas circunstâncias da vida. Para Maquiavel “...quando um príncipe deixa tudo por conta da sorte, ele se arruína logo que ela muda. Feliz é o príncipe que ajusta seu modo de proceder aos tempos, e é infeliz aquele cujo proceder não se ajusta aos tempos.” (MAQUIAVEL, 2002, p. 264). Conforme afirma Francisco Welffort (2001) sobre Maquiavel, “a atividade política, tal como arquitetara, era uma prática do homem livre de freios extraterrenos, do homem sujeito da história. Esta prática exigia virtú, o domínio sobre a fortuna”. (WELFFORT, 2001, p. 21). Contudo, a forma como a virtú seria colocada em prática em nome do bom governo deveria passar ao largo dos valores cristãos, da moral social vigente, dada a incompatibilidade entre esses valores e a política segundo Maquiavel. Para Maquiavel, “não cabe nesta imagem a ideia da virtude cristã que prega uma bondade angelical alcançada pela libertação das tentações terrenas, sempre à espera de recompensas no céu. Ao contrário, o poder, a honra e a glória, típicas tentações mundanas, são bens perseguidos e valorizados. O homem de virtú pode consegui-los e por eles luta” (WELFFORT, 2006, pg. 22). Assim, essa interpretação maquiaveliana da esfera política foi que permitiu surgir ideia de que “os fins justificam os meios”, embora não se possa atribuir literalmente essa frase a Maquiavel. Além disso, fez surgir no imaginário e no senso comum a ideia de que Maquiavel seria alguém articuloso e sem escrúpulo, dando origem à expressão “maquiavélico” para designar algo ou alguém dotado de certa maldade, frio e calculista. Maquiavel não era imoral (embora seu livro tenha sido proibido pela Igreja), mas colocava a ação política (construída pela soma da virtú e da fortuna) em primeiro plano, como uma área de ação autônoma levando a um rompimento com a moral social. A conduta moral e a ideia de virtude como valor para bem viver na sociedade não poderiam ser limitadores da prática política. O que se deve pensar é que o objetivo maior da política seria manter a estabilidade social e do governo a todo custo, uma vez que o contexto europeu era de guerras e disputas. Nas palavras de Welffort (2001), Maquiavel é incisivo: há vícios que são virtudes, não devendo temer o príncipe que deseje se manter no poder, nem esconder seus defeitos, se isso for indispensável para salvar o Estado. “Um príncipe não deve, portanto, importar-se por ser considerado cruel se isso for necessário para manter os seus súditos unidos e com fé. Com raras exceções, um príncipe tido como cruel é mais piedoso do que os que por muita clemência deixam acontecer desordens que podem resultar em assassinatos e rapinagem, porque essas consequências prejudicam todo um povo, ao passo que as execuções que provêm desse príncipe ofendem apenas alguns indivíduos” (MAQUIAVEL, 2002, p. 208). Dessa forma, a soberania do príncipe dependeria de sua prudência e coragem para romper com a conduta social vigente, a qual seria incapaz de mudar a natureza dos defeitos humanos. Assim, a originalidade de Maquiavel estaria em grande parte na forma como lidou com essa questão moral e política, trazendo uma outra visão ao exercício do poder outrora sacralizado por valores defendidos pela Igreja. Considerado um dos pais da Ciência Política, sua obra, já no século XVI, tratava de questões que ainda hoje se fazem importantes, a exemplo da legitimação do poder, principalmente se considerarmos as características do solo arenoso que é a vida política. Paulo Silvino Ribeiro Colaborador Brasil Escola Bacharel em Ciências Sociais pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas Mestre em Sociologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" Doutorando em Sociologia pela UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas Ética: a controversa moral maquiaveliana Ao vincularem a política, a justiça e o bem comum, os antigos davam conta de explicar o motivo pelo qual a primeira seria necessária. Para Platão, em A República, especificamente na “Alegoria da Caverna “, a justiça estaria relacionada ao conhecimento do verdadeiro, sendo incumbência do rei-filósofo, detentor desse conhecimento, estendê-lo aos demais por meio da ação política. É o regressar do escravo liberto à caverna para alertar aqueles que lá permaneceram; para lhes mostrar que a realidade é diversa daquela que eles acreditavam conhecer. Sendo o filósofo conhecedor da verdade e, portanto, da justiça, caberia também a ele administrar a última, pautado na noção de “bem em si”, ou seja, na noção daquilo que é bom em si mesmo. Ser um “bem em si” mesmo significa que algo não é bom por fatores externos, como, por exemplo, porque é útil ou agradável, mas apenas porque é bom. Nesse sentido, ele administraria a cidade com justiça para além das concepções vulgares e distorcidas que as demais pessoas teriam sobre ela, promovendo assim a cidade perfeita, ideal. Outra característica importante da filosofia de Platão é que o governo da cidade ideal não é realizado por qualquer um, mas por uma classe de dirigentes, especialmente educada para tanto, a qual representaria o governo da racionalidade sobre os apetites (paixões). Esses líderes seriam especialmente selecionados e instruídos desde muito cedo para esse ofício. O regime ideal para Platão seria o da Politeia, ou seja, a república dos sábios e virtuosos. Essa concepção do governo dos mais preparados, sábios ou virtuosos é perpetuada na obra de Aristóteles, mas completamente desqualificada na de Maquiavel. Para Aristóteles, “apenas os deuses e os brutos bastam a si mesmos “, o que significa que o convívio em sociedade é algo natural e necessário ao homem. Para o autor, toda a cidade seria uma forma de associação e toda associação se estabeleceria tendo como finalidade algum bem. Assim, a comunidade política se formaria de modo natural em virtude da tendência das pessoas em se agruparem. Com base nisso, a política deveria promover o bem comum por meio da justiça, observando as diferenças estabelecidas por Aristóteles no que tange às diversas formas de bens e de justiça. O melhor regime para Aristóteles seria a aristocracia. Como sabemos, a palavra aristocracia vem do grego Aristói, derivação do termo Areté, que significa “ser o melhor”, designando, portanto, a classe dos melhores, dos nobres, virtuosos e superiores. Assim, em virtude de sua excelência, esses homens deveriam estar à frente do governo da cidade, o que lembra em partes Platão. A diferença é que, em Platão, a elite à frente da cidade seria uma casta intelectual, selecionada pelos dirigentes da cidade com base em suas habilidades e preparada especificamente para o governo. No sistema platônico, as crianças seriam separadas de seus pais aos oito anos de idade e criadas de forma comum pelo Estado, aprendendo todas as habilidades necessárias para integrar o governo. Já nas obras de Aristóteles, a aristocracia mencionada não é apenas uma elite cultural, mas também econômica, uma vez que, segundo o autor, a participação política caberia aos cidadãos da pólis. Entretanto, na Antiguidade, em especial em Atenas, eram considerados cidadãos apenas uma pequena parcela da população que compreendia os proprietários de terra, os eupátridas, pertencentes à alta aristocracia, com direito à cidadania. Os metecos, pequenos comerciantes, em geral estrangeiros, e os escravos (prisioneiros de guerra, condenados por crimes e escravos por dívidas) não possuíam direitos de cidadão. Além do mais, segundo a concepção aristotélica, o trabalho embrutecia o espírito, sendo um ofício próprio dos escravos. Para participar ativamente da política, o cidadão não poderia ter esse tipo de perturbação, tendo de dedicar seu tempo ao estudo da política. Nesse sentido, preservando-se as diferenças de um e outro, tanto Aristóteles quanto Platão defendiam um regime político no qual os líderes fossem reconhecidamente honrados e virtuosos, preocupados com a satisfação do bem público. Assim, os líderes das cidades idealizadas por Platão e Aristóteles deveriam possuir as qualidades designadas de virtudes cardeais: a honra, a temperança, a coragem, a impetuosidade, o caráter, entre outras.. Tal concepção é perpetuada na Idade Média, por meio da ideia do príncipe virtuoso, honrado, caridoso, humilde e benevolente, cujas ações servissem de espelho, refletindo a moralidade a ser seguida pelos seus súditos. Essas qualidades foram designadas como virtudes principescas. Na Renascença, a elite intelectual frequentadora dos debates do núcleo de estudos de Leonardo Bruni, inspirada pela leitura dos antigos, defende o abandono dos valores cristãos e volta-se aos princípios morais cultivados pelos antigos, defendendo que justiça, bem comum e virtus (virtude) deveriam figurar na lista de atribuições do governante. Maquiavel, pautado no que denomina ser la verità effetuale (a verdade efetiva), afirma que é louvável que um príncipe seja caridoso, benevolente, honrado e que mantenha sempre a palavra dada. Contudo, se seguir essa diretriz indiscriminadamente, não raro perderá seu governo. Abandonando, assim, a noção de política voltada à satisfação do bem público e da justiça, exigente de um governante de virtudes morais infalíveis, o autor defende que a política seria um espaço de disputa de interesses privados e que um príncipe que se atenha aos limites éticos estabelecidos pela Igreja ou pelos antigos dificilmente conseguirá assegurar seus domínios. Maquiavel executa, desse modo, uma cisão (ruptura) entre política e moralidade, as quais estariam irremediavelmente separadas daí em diante. Para o autor, a virtù (virtus) do príncipe não deveria consistir nos princípios morais das virtudes cardeais ou principescas, mas sim num conjunto de qualidades políticas entre as quais a estratégia, a maleabilidade moral, a capacidade de antecipar-se ao acaso (fortuna), entre outras, as quais tornariam possível assegurar seus domínios e perpetuar seu poder. Em uma célebre passagem do capítulo XVIII d’O Príncipe, destinado à análise dos modos pelos quais o príncipe deve manter a fé da palavra dada, Maquiavel parafraseia um conhecido trecho de Aristóteles, na qual o grego avalia quais virtudes são próprias do homem como ser racional e quais vícios o rebaixariam a uma condição animalesca. Para Aristóteles, a força e a astúcia seriam esses vícios. Entretanto, o florentino se apropria dessa passagem clássica da teoria moral aristotélica para realizar mais uma crítica às concepções idealizadas da política. Segundo Maquiavel, o príncipe de verdadeira virtù deve saber quando recorrer à astúcia da raposa e à força do leão, para salvaguardar seu reino, camuflando essa astúcia sob a forma da lei, ou utilizando métodos extraordinários (violência e coerção), para que de uma forma, ou de outra, a conquista, manutenção e perpetuação do seu poder sejam possibilitadas. O mesmo valeria em um governo republicano, ou a quem reforma ou institui uma república, valendo-se do célebre exemplo de Rômulo (mitológico fundador de Roma) na conspiração e assassinato de seu irmão Remo: [...] E nenhum sábio engenho repreenderá ninguém por alguma ação extraordinária que tenha cometido para ordenar um reino ou constituir uma república. Cumpre que se o fato o acusa, o efeito o escuse; e quando o efeito for bom, como o de Rômulo, sempre o escusará. Nesse sentido, segundo o florentino, a política seria uma instância de articulação de interesses e na medida em que o príncipe ou o conselho de cidadãos conseguem articulá-los, no caso do principado, em proveito do monarca, e no caso de uma república, em instituições que preservem a liberdade das diversas classes sociais, torna-se possível a governabilidade, em vez da conjuntura de instabilidade e violência. Se para ordenar uma cidade, houvesse necessidade de depor o principado, mereceria alguma desculpa quem não a ordenasse para não cair de tal posição, mas, sendo possível manter o principado e ordená-la, não merece desculpa quem não o faça. A Filosofia no Renascimento Ascensão burguesa, Humanismo e antropocentrismo: aspectos do movimento renascentista Entre os séculos XIV e XVI, o poder secular da Igreja Católica na Europa entra em seu estágio derradeiro, perdendo terreno para a nobreza e, principalmente, para a nova classe social em ascensão: a burguesia. Na Itália, local de início do movimento renascentista — o qual, posteriormente, viria a se espalhar por todo o continente europeu —, a efervescência cultural, política e intelectual suscitada pelas traduções para o latim dos textos dos antigos pensadores gregos, em especial da obra de Platão, realizadas por Leonardo Bruni e Marcílio Ficino (1433-1499), iam ao encontro dos interesses da classe burguesa, uma vez que colocavam em xeque a submissão aos princípios e valores sustentados pela Igreja, e privilegiavam o homem como ser racional capaz de compreender o mundo autonomamente. Além disso, os grandes avanços nas áreas de ciência e tecnologia, com descobertas nos campos da matemática, física e medicina, contribuem para essa significativa mudança na perspectiva da realidade, antes pautada no teocentrismo, que preconizava (valorizava) as crenças e os valores instituídos pelo cristianismo, tais como a submissão, a subserviência, o temor e a referência a Deus, a caridade e a humildade — as duas últimas em condenação ao lucro, objetivo do burguês. Assim, nomes como Galileu, Paracelso, Gutenberg, entre outros, começavam a despontar, em razão das descobertas feitas por eles. Galileu Galilei comprova a teoria heliocêntrica que dizia ser o Sol o centro do sistema planetário (defendida anteriormente por Nicolau Copérnico), Paracelso explora as drogas medicinais e seu uso, enquanto Gutenberg descobre um novo meio de reproduzir livros: a prensa. O produto dessa efervescência foi uma inversão de valores que se refletiria em diversos aspectos da vida em sociedade, como a organização política, econômica e social, atividades culturais e artísticas, e até mesmo sobre a forma como o homem se relacionava com a religiosidade. Tal inversão recebeu o nome de Humanismo e caracterizava-se pelo “debruçar do homem sobre si mesmo”, ou seja, seus interesses e atividades passaram a estar voltados à realização da racionalidade e das habilidades humanas, refletindo um antropocentrismo. Isso significa a valorização do homem e de suas qualidades, os quais passam a ser o foco ao qual todas as atividades estavam relacionadas. Neste sentido, o Renascimento é um movimento artístico, cultural, político, intelectual e social fundado a partir dos preceitos humanistas e responsável pela difusão destes da Itália para toda a Europa. Tal movimento recebe o nome de Renascimento em referência ao resgate dos princípios, dos valores, da organização social e política, das temáticas e dos problemas promovidos pela filosofia na Antiguidade greco-romana, deixados à sombra do cristianismo durante a Idade Média graças aos esforços de São Tomás de Aquino (filosofia escolástica) em conciliar a religião cristã às concepções filosóficas aristotélicas no século XIII e, de forma anterior e análoga, as tentativas da filosofia patrística, (filosofia cristã dos sete primeiros séculos) em adequar preceitos do aristotelismo, platonismo, epicurismo e estoicismo (todas elas escolas filosóficas da Antiguidade), ao cristianismo. Os reflexos dessa inversão de valores realizada com base nos preceitos do Humanismo, promovida pelo movimento renascentista, podem ser observados em três setores da maior importância: artístico, político e moral. A filosofia no Renascimento: o resgate das antigas escolas filosóficas A Filosofia, de modo similar à História, também é dividida em períodos históricos. Cada período histórico é subdividido em escolas filosóficas, que correspondem às doutrinas apresentadas naquela época. Assim, a Filosofia Antiga é o período compreendido entre o surgimento da filosofia e a queda do Império Romano do Ocidente (séc. V d.C). Contudo, o período Antigo da Filosofia estaria ainda subdividido em três momentos distintos, com base no aparecimento da filosofia de Sócrates: períodos Pré-Socrático, Socrático e Pós-Socrático. O período Socrático, também conhecido como período Clássico ou Antropológico da Filosofia Antiga, data de por volta do século V e IV a.C. e contempla os principais filósofos da Antiguidade: Sócrates, Platão e Aristóteles, sendo cada um desses autores representantes de doutrinas (teorias) filosóficas distintas. O período Pós-Socrático ou Helenístico teria se desenvolvido no século III d. C. Suas escolas filosóficas são: cinismo, estoicismo, epicurismo, hedonismo, ceticismo, ecletismo e patrística, tendo esta última se estendido do séc. I ao VII d.C. dando lugar, posteriormente, à filosofia escolástica, a qual se desenvolveu por toda a Idade Média. Na Idade Média, o pensamento antigo foi bastante difundido e valorizado, em especial as teorias de Aristóteles, através das leituras do filósofo São Tomás de Aquino e, em um período anterior, pela filosofia patrística, aliando os ensinamentos do epicurismo e estoicismo ao cristianismo. Na Renascença, também se volta aos pensamentos da Antiguidade, mas em oposição ao espírito cristão. Valorizam-se as antigas escolas filosóficas, realçando-lhes o conteúdo de humanidade, presente em todas elas, apesar da grande variedade de suas orientações. Entretanto, é válido salientar que esse resgate ocorre em partes, tomando certa distância em relação à espontaneidade original destas, pois, entre o Classicismo e a Renascença, por exemplo, há quinze séculos profundamente influenciados pela mensagem cristã. São representadas, assim, quase todas as escolas filosóficas antigas: o platonismo, o aristotelismo, o estoicismo, o epicurismo, o ceticismo e o ecletismo, em especial as duas primeiras. Entretanto, o aristotelismo da Renascença exclui a interpretação de Aristóteles dada por Tomás de Aquino, a qual fazia oposição à teoria de outro filósofo escolástico anterior a ele: Santo Agostinho. Contrariamente a Agostinho — que, influenciado pela filosofia de Platão, defendia que o conhecimento seria obtido através da “iluminação divina” —, Aquino, pautado na filosofia aristotélica, sustentava que o conhecimento humano seria limitado ao mundo sensível, ou seja, limitado àquilo que o homem apreende pelos sentidos. Dessa forma, o intelecto, para São Tomás, seria concebido como uma faculdade vazia, sem ideias inatas — uma tabula rasa. O conhecimento seria, então, obtido através do exercício da alma na tentativa de compreender o conteúdo que permeia esses objetos, a partir dos dados sobre estes, apreendidos pelos sentidos. Seria o exercício de abstração da realidade, nomeado por Aristóteles de metafísica. Ainda segundo Aquino, a alma seria a parte substancial ou a essência do corpo, de caráter racional, consistindo num instrumento para o conhecimento humano, mas que dependeria dos sentidos para tanto, ou seja, da parte material e bruta do homem. Essa concepção é contrária à de Agostinho porque para a filosofia agostiniana, seguindo uma perspectiva platônica, o conhecimento seria inato, ou seja, estaria presente em nosso intelecto. Compreenderíamos as coisas na medida em que Deus as trouxesse à luz de nosso pensamento. Lembramos que Platão teria sustentado de forma análoga (semelhante) que as ideias residiriam no mundo das ideias, em contraposição ao mundo sensível, o qual perceberíamos pelos sentidos, e que teríamos acesso a ess mundo das ideias, onde tudo seria verdadeiro e sem engano, através do exercício filosófico e da dialética. Entretanto, embora São Tomás de Aquino valorize o sistema aristotélico de forma crítica e racional, construindo uma filosofia distinta e autônoma, ele conserva uma harmonia hierárquica com a fé cristã. Sua filosofia é inspirada pelo espírito científico e sistemático das teorias aristotélicas, mas sua doutrina em torno de Deus e da alma possui um aspecto demasiado cristão, o que o leva à desqualificação de sua teoria no Renascimento. Sendo assim, a leitura que se desenvolve sobre Aristóteles no Humanismo é realizada com base nas perspectivas de dois filósofos árabes: Avicena e Averroés, sendo o segundo teórico em especial celebrado. Averroés afirmava a subordinação da religião à filosofia quando as argumentações delas fossem contrastantes e considerava a religião como uma filosofia simbólica para o vulgo (inculto). Mas foi mesmo Platão o filósofo de maior influência no período. Tal influência se manifestou principalmente na política, através do resgate do ideal de república grega; nas artes, com o retorno da representação das formas humanas, com a representação de cenas cotidianas e a busca pelo belo ideal; e na ética, com as concepções platônicas de bem em si e justiça, em contraposição às noções cristãs sobre esses conceitos.
Posted on: Thu, 03 Oct 2013 11:39:35 +0000

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