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COMO É QUE LÊ QUEM NÃO ENXERGA E A IMPORTANCIA DA LEITURA PARA OS DEFICIENTES VISUAIS ,por Sérgio Sá, que nasceu cego: Criado há 150 anos, o alfabeto Braille tornou-se meio indispensável na educação de cegos no mundo inteiro.Sua estrutura, baseada em códigos de guerra, dispõe 63 sinais criados a partir de duas colunas de 3 pontos cada. Os pontos são obtidos perfurando-se a superfície; os pequeninos orifícios são perceptíveis ao tato. Consideremos então as duas colunas de 3 pontos, uma ao lado da outra, ou seja, os pontos 1, 2 e 3, dispostos verticalmente ao lado dos pontos 4, 5 e 6. Os sinais nascem da análise combinatória, levando-se em conta a posição e o número de pontos utilizados.Assim a letra A é representada pelo ponto 1, a letra B pelos pontos 1 e 2, o C serão os pontos 1 e 4, etc. É portanto natural concluir que a alfabetização de cegos dependa fundamentalmente do desenvolvimento de seu tato, não apenas da percepção tátil mas também da ligação entre o sentido e o cérebro. Os métodos anteriores de alfabetização constituíam-se na recriação das letras com varetas, apenas para que o cego pudesse ter noção de seu desenho, ou enormes volumes produzidos por folhas grossas de papel onde as letras de fôrma eram premidas em alto relevo. Além disso,antigamente se pensava, para que alfabetizar um cego, que utilidade teria para ele reconhecer as letras ou ler qualquer coisa? Luís Braille, filho de sapateiro, perdeu a visão na infância, num acidente em que perfurou o nervo ótico com um estilete brincando de recortar um animalzinho de couro. Seus pais ainda tiveram a iniciativa de colocá-lo na única escola existente na França onde o menino foi, por assim dizer, alfabetizado. Mas Luís queria muito mais: sua aptidão para música logo despertou, e ele, a despeito das negativas, sempre arranjava um jeito de aproximar-se de um órgão. Mais tarde, com a maturidade, tornou-se um dos mais renomados organistas de Paris. Fugido da escola, vivia de restos de feira e só começou a ganhar algum dinheiro quando fez apresentações tocando órgão em paróquias regionais. Sensível, espírito inquieto, indomável, Luís percebeu o que nem os que tanto enxergavam eram capazes de perceber: a falta da visão não aprisionaria aqueles que buscassem de fato aprender e evoluir. Era necessário criar condições de acesso à leitura e escrita, abrindo de vez as portas do conhecimento a todos os cegos. O código Braille foi logo adotado na Europa e dezenas de escolas para cegos proliferaram pelo mundo até que chegássemos ao século 20 superando a marca de 100 centros educacionais para deficientes visuais. COMO É QUE LÊ QUEM NÃO VÊ? Alfabetizar um cego através do sistema Braille quer dizer inicialmente preparar seu tato para identificar os caracteres; o que não é, como poderá parecer à maioria, tarefa fácil. Com os avanços da ciência, descobriu-se recentemente que o cérebro institui caminhos neurais pelos quais os sentidos se conectam e interauxiliam uns aos outros. No caso dos deficientes visuais, por exemplo, o tato será o primeiro sentido a receber apoio do setor cerebral responsável por decodificar mensagens da visão. Mas imaginemos o contexto em que o Braille chegou ao mundo: metade do século 19, França ainda abalada pelas peripécias napoleônicas, toda a lentidão nas comunicações e transportes, a ignorância e descaso quanto aos portadores de deficiências físicas e mentais. Foram necessários mais de 20 anos para que o alfabeto Braille fosse de fato reconhecido como engenhosa ferramenta de alfabetização e só na última década (desde 1890), foram desenvolvidas as regletes e punções, aparelhos menores com que se poderia escrever mais fluentemente os sinais. Também se fazia fundamental a mudança no modo de encarar um cego; não mais como um inválido, incapaz de se gerir e produzir, mas um cidadão útil à sua comunidade, pronto a crescer e se instruir. Assim sendo, as famílias e educadores começaram aos poucos a compreender que precisavam desenvolver nas crianças cegas sua acuidade tátil e perceberam que a alfabetização obedecia a certos parâmetros específicos: o Braille não permite que se leia uma palavra inteira ou grupos de letras de uma vez só. É necessário que o cego apalpe letra por letra e forme a palavra gradativamente, exigindo maior concentração. No sistema, os algarismos são representados pelas letras de A a J, precedidas de um sinal chamado sinal de número. Assim, ao invés do leitor ter de aprender os símbolos numéricos, terá de decodificar, por assim dizer,as letras ou grupos de letras como algarismos. A utilização de figuras associadas às palavras, recurso que tornaria mais fácil a assimilação, fica restrita aos desenhos que possam ser feitos e identificados em alto relevo. Não há como se produzir sinais Braille maiores ou menores, eles têm de ser escritos num tamanho padrão para que os dedos possam reconhecê-los. Desta forma, não se poderá usar letras grandes ou diferentes no formato para ressaltar frases ou palavras. Tudo que for maiúsculo será anunciado por um sinal. A velocidade da leitura também está condicionada à identificação das letras e montagem das palavras; difícil será encontrarmos um leitor cego, por mais rápido que seja, capaz de se equiparar em velocidade a um leitor comum. Em muitos países desenvolveram-se e são adotados sistemas baseados no Braille nos quais sufixos como _MENTE ou _AÇÃO, por exemplo, são substituídos por um único sinal. Estes novos sistemas, no entanto, geram polêmicas quanto à sua eficiência pois, ao mesmo tempo em que representam economia de espaço e abreviam a compreensão, constituem-se em códigos sobre códigos, obrigando os aprendizes a familiarizarem-se com dois ou mais modos de escrever, prejudicando também a assimilação da ortografia. A evolução dos tempos trouxe-nos o livro falado, valiosa forma de acréscimo no universo literário dos cegos. Com a popularização dos gravadores, familiares, professores e amigos, passaram a gravar obras didáticas e de ficção até que instituições, ao longo dos anos 50, aderiram e se prepararam criando estúdios e congregando voluntários. Hoje são muitos os processos de digitalização de livros; sintetizadores de voz, ledores profissionais, atores e locutores voluntários, ocupam os computadores e microfones lendo filosofia, poemas clássicos ou estórias, buscando preencher as profundas lacunas criadas pela cada vez maior produção de livros no mundo. Mas onde estará o prazer da leitura?, como está a produção de livros Braille?Quais as principais diferenças entre eles e os livros falados? Além da praticidade na produção, os livros em cassete ou CD são muito menores, de envio mais barato e, nas versões digitais, permitem fácil navegação. Custam menos do que os impressos em Braille e ainda podem ser copiados pelo próprio leitor. Livros Braille exigem grande quantidade de papel, maquinário caro e específico, revisores especializados; são de manejo delicado, necessitando cuidados no transporte. Não são copiáveis pelo leitor e ocupam grande espaço nas estantes. Mas eles proporcionam real envolvimento do leitor: pode-se determinar a velocidade e imprimir seu próprio tom na leitura sem ter de se adaptar ao ritmo alheio. Além disso, o sistema Braille é o único modo existente para alfabetizar, dar conta de como se escreve, é pura leitura, com todas as vantagens cognitivas de se estar lendo, sem contar o prazer e o aumento da auto-estima. Até que novos passos sejam dados na direção da verdadeira inclusão social, quando a educação levar mesmo em conta o cidadão, com todas as deficiências e capacidades que tem, Braille e livro falado terão seu lugar, seu grau de importância e funcionalidade. - See more at: saeditora.br/noticias/para-entender-melhor-a-leitura-em-braille/#sthash.JYpbhsNN.dpuf
Posted on: Thu, 28 Nov 2013 12:22:10 +0000

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