COMPOSIÇÃO: A MINHA PRIMEIRA VIAGEM AO MALAWI Hoje chego ao - TopicsExpress



          

COMPOSIÇÃO: A MINHA PRIMEIRA VIAGEM AO MALAWI Hoje chego ao facebook e vejo não sei quantas mensagens preocupadas com o meu paradeiro - passo a explicar a minha ausência. Domingo ao jantar, apreciando uma assa do frango semanal [que matar animais é só no domingo, o resto da semana ou se come peixe-seco-insuportavelmene-mal-cheiroso ou se é vegetariano, e com todo o prazer], chamam-me do hosital – havia a necessidade de um carro particular fazer o transporte de uma parturiente até Mandimba, porque a única ambulância do distrito estava não sei onde, e eu sou a única que tem carro em Mitande, e a única habilitada para o conduzir. É certo que as irmãs fizeram cara feia quando lhes contem, com um sorriso de orelha a orelha, a necessidade do transporte. Mas fui. Entre preparar e não preparar a mulher, puncionar à luz da vela, transformar o meu “anticristo” numa ambulância a reunir o material necessário para um eventual parto em pleno mato, lá fomos. Chegados ao hospital de Mandimba, depois e uma hora de caminho de pó e saltos entre uma data de escuro, fomos recebidos por uma enfermeira muito calma, que avaliou a situação, mandou sentar [que assuntos sérios NUNCA são falados em pé]: a situação não se iria resolver ali. Tínhamos três hipóteses: 1. Lichinga, a 3horas dali, em caminhos terríveis; 2. Malawi, a 20km, onde se paga bastante para as possibilidades do meu povo [na sua maioria bem abaixo do limiar da pobreza]; 3. Deixar os antepassados decidirem o que fazer e qual o destino a dar, esperando por evolução ali. Lembrei-me da cara feia das irmãs: desobedecer-lhes ou fazer coisas que elas não gostam é como faze-lo à minha mãe, e acreditem ou não, eu não gosto… assim eu optaria pela opção 3 e voltaria para casa com o meu dever cumprido… mas não me pareceu bem deixar aquelas vidas ao cuidado e capricho dos antepassados, e lá decidi que iria voltar a casa depois da meia-noite. Ir até Lichinga significava matar o feto, já em sofrimento. Então, resposta pronta, depois de verificar que a família até tinha dinheiro: vamos conhecer o Malawi! Recomendações antes de sair, enquanto, a altas horas da noite, os homens procuravam alguém que troque meticais para dinheiro do Malawi: - Ligas os 4 piscas para passar na fronteira. - Não têm um pirilampo azul para pôr por cima do carro? Assim parecia mais realista… e vão-me carimbar o passaporte? Se não carimbarem, como é que eu um dia hei-de comprovar que fui ao Malawi?! - Eles não complicam na fronteira. Vai aqui a guia escrita, lá não vão entender porque não falam português. Obviamente era impossível destrocar dinheiro aquela hora. Metemo-nos todos no carro e seguimos. Na fronteira não complicaram, de facto, - nem pediram sequer o passaporte para carimbar :( - a única coisa complicada foi acordar os seguranças e descobrir as chaves das portas em ambas as fronteiras. Primeira frase dita no Malawi: “conduz-se à direita ou à esquerda?” - Ninguém sabia.. Também, pouco importa, tenho os 4 piscas ligados! [agora já sei que se conduz à esquerda, porque os sinais estavam virados para mim desse lado]. Do Malawi, tenho pouco a dizer: só vi uma data de escuro, e uma linha branca ao meio das estradas alcatroadas, coisa que faz hoje 5 meses que vi pela última vez. Às histórias más que ouço falar do Malawi e que não ouso publicar, junto esta má experiência de 1 hora no hospital tentando fazer-nos explicar a três enfermeiras parvas que se tratava de uma emergência e que àquelas horas era impossível trocar dinheiro, que podiam ficar com os meticais que correspondiam ao mesmo valor. Valeu-nos um cirurgião que chegou entretanto. Alguns cirurgiões têm bom coração [isto é uma boca direccionada :P ]. Vá, e ontem tive a cuidar de uma eclâmpsia à luz das velas, mas já estou farta de escrever, não vou contar.
Posted on: Tue, 02 Jul 2013 18:47:37 +0000

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