COMPROMISSO AFETIVO, CONSCIÊNCIA e DESTINO Caminhando entre - TopicsExpress



          

COMPROMISSO AFETIVO, CONSCIÊNCIA e DESTINO Caminhando entre sonhos, nos pegamos muitas vezes em pesadelos. Os momentos que pareciam terem sido desenhados por uma mão divina, foram rasurados, apagados e manchados. E de repente, você se pega, dias, meses ou mesmo anos após um desastre, com sequelas, movimentos interrompidos, dores e feridas que à luz do dia não são visíveis para aqueles que olham sem ver. À noite, ao dormir, você se vê em um sonho, caminhando por uma cidade estrangeira, só, repleto de lembranças dentro de si e sua visão é tão real e sua aflição tão verdadeira que você vive o vivido mais uma vez – agora como pesadelo - no coração. E quando você acorda, você sabe que não foi um sonho. Muitos relacionamentos assemelham-se a acidentes. É como se você entrasse em um carro, a pessoa que está dirigindo diz que não está bêbada, que tem consciência da direção, que sabe o que faz e você confia. Você a questiona mais de uma vez, a resposta não muda. E de repente, em uma curva, ou reta...um desastre ocorre. Você nunca mais entrará em um carro da mesma forma. Nunca mais passará por uma curva sem sentir calafrio. Palavras ditas. Bilhetes escritos. Desenhos rabiscados. Músicas ouvidas. Datas comemorativas. É como se você lembrasse de tudo mas duvidasse se de fato aconteceu. Como pode ter sido? Como não vi...Por quê? Mas algo no dia a dia o lembra que tudo ocorreu. Um bilhete de metro encontrado ao acaso num casaco...uma imagem...um local ou mesmo alguém sentado a sua frente o observando enquanto você fala. E à noite, talvez o pior momento, quando você é alcançado nos sonhos e sonhando, volta a viver... Há um grito dentro de ti que não foi gritado. Há um choro que não foi chorado. A saudade que você sentiu sozinho...as perguntas que você se perguntava...enquanto a outra parte já sorria e tinha seus brindes etílicos seja lá com quem for. Tudo muito rápido, tudo desdito, tudo eliminado, tudo descartado. Inclusive você. E o carinho? E os planos? E a amizade? Pedidos de desculpas não poderão apagar isso...mas podem sanar um pouco, desde que sejam de fato sinceros, vindos do coração. Em sua mensagem COMPROMISSO AFETIVO, Emmanuel nos fala: “Em matéria de afetividade, no curso dos séculos, vezes inúmeras disparamos na direção do narcisismo e, estirados na volúpia do prazer estéril, espezinhamos sentimentos alheios, impelindo criaturas estimáveis e nobres a processos de angústia (...), depois de prendê-las a nós mesmos com o vínculo de palavras brilhantes, das quais nos descartamos em movimentação imponderada.” Lendo este trecho, nos lembramos do quanto podemos ainda manipular nossas próprias consciências, alegando “não terem iniciado a relação”, “não era essa a intenção inicial” ou qualquer outra frase que apenas demonstra uma consciência desesperada em se anestesiar, fraca demais para olhar a si mesma. Podemos lembrar também a advertência de um autor que muito admiramos, o sociólogo Bauman, que em seu livro Amor Liquido descreve o que são os relacionamentos humanos em tempos como estes que vivemos: superficiais, descartáveis. Não mais nos relacionamos, mas nos consumimos. Em suas palavras: “Amor líquido é um amor “até segundo aviso”, o amor a partir do padrão dos bens de consumo: mantenha-os enquanto eles te trouxerem satisfação e os substitua por outros que prometem ainda mais satisfação. O amor com um espectro de eliminação imediata e, assim, também de ansiedade permanente, pairando acima dele. (...). É bom lembrar que o amor não é um “objeto encontrado”, mas um produto de um longo e muitas vezes difícil esforço e de boa vontade”. ---//--- A Serendipitia – o acontecimento inesperado e maravilhoso – pode se transformar em um uma profunda tristeza. Emmanuel e Bauman mostraram acima como isso é possível. Quando nos olharmos de verdade no espelho e entendermos porque agimos como agimos, compreendermos nossa personalidade, nossos impulsos, nossos complexos, egoísmos e falhas de caráter disfarçados e ocultados de outros e mesmo de nós, estaremos a caminho de relacionamentos verdadeiros. O processo de autoconhecimento não é simples, muitas vezes doloroso e requer esforço e coragem: as mentiras mais perigosas são aquelas que contamos a nós mesmos sobre nós mesmos. Somente assim, trataremos a nós mesmos e aos outros como pessoas e não como coisas. Cuidaremos um dos outros e não mais nos jogaremos fora. Nos relacionaremos e não mais nos consumiremos. Emmanuel nos lembra de algo: “Não dispomos de recursos para examinar as consciências alheias e cada um de nós, perante Deus, é um caso particular, em matéria de amor, reclamando compreensão”. Nem tudo é maldade de caráter: há fraquezas no outro (e em nós!), há muita falta de autoconhecimento, há neuroses agindo, há complexos ignorados, há egoísmo...mas também há bondade em maior ou menor grau. Há luz, e é a essa luz que habita em maior ou menor grau a todos - em nós mesmos e naqueles que mais erraram conosco - que devemos dirigir nossas palavras, nossa lembrança sempre que possível pois somente essa parte de nós possui lucidez, honra e sabedoria. Um dia essa parte luminosa brilhará mais forte em todos nós. Um dia toda a Harmonia e o Amor será reconstituído. _/\_ P.S.: Texto de Rodrigo Siqueira, autor do Livro "A Outra Margem"
Posted on: Sat, 07 Sep 2013 02:15:39 +0000

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