CORDEL Nordeste - Tu me contas teus passos e eu te canto em mil - TopicsExpress



          

CORDEL Nordeste - Tu me contas teus passos e eu te canto em mil compassos... Eu vou contar para vocês, Num cordel bem “arretado” A história do Nordeste Onde o Brasil foi achado. Em tempos idos, remotos, Seu Cabral aqui chegou, No costado da Bahia A caravela aportou. Quando gritou “Terra à vista!” Que visão estonteante! Tanta terra, tantos montes, Nativas de grande beleza, Verdejante natureza... “Esta terra é formosa, Em se plantando, tudo dá!” Os intrépidos desbravadores, Começaram a explorar. Lançando mão das riquezas O pau-brasil, com certeza, Levaram pra tingir as vestes Da coroa portuguesa. E o indígena selvagem Foi logo catequizado, Vestido, perdeu a liberdade, Por eles foi “civilizado”. E nos bosques cheios de vida, Sentiram-se aprisionados. Nem brado retumbante, Nem tampouco clava forte, Flechas por chumbo! E o indígena aculturado, Viu dizimado o seu mundo. Outrossim Plantou-se ali a lavoura da ganância E a verdejante exuberância Em grandes engenhos se transformou, Trouxeram negros acorrentados, Amontoados, jogados Nos porões da embarcação, Com a alma em farrapo Tanto horror, tanto mau trato, Vinham para a escravidão. Depois, o gado abrindo picadas, Adentrando o sertão Aos poucos desbravando Os caminhos tão fechados Foi levando negros escravos Para o plantio do algodão. Eta sertão nordestino, Terra da seca danada, Terra dos buchos vazios, Chão da terra rachada! Gente que vive de teima Com as panelas esvaziadas... Vou cantar-te nos meus versos Neste cordel embolado Vou cantar a tua dor Teu olhar de desengano Tua tristeza chorada Em todos os meses do ano Os coronéis mandatários, Grandes latifundiários Desviam água do açude Para o gado refestelar E o pobre sertanejo Com o gado morrendo à míngua Esse fica ao deus-dará! Nem a súplica do vaqueiro Com os olhos cheios d’água Faz cair água de “riba” Na terra tão ressecada... Sua prece é um lamento Só desaba a sua mágoa Nem aboio, nem viola Só a seca excomungada! Plantar justiça neste chão, Esta é a solução! Só assim a terra seca Há de ter produção. E a miséria brota solta, Causando indignação. Cresce qual erva daninha No solo da enganação! Mas os que padecem na dor Não aguentam a desolação Juntam os trapos numa trouxa Jogam em cima de um caminhão. Outros vão marchando a pé Abandonando o sertão. Nordeste de Canudos, De Antonio Conselheiro, Da fé do “Padim Padi Ciço” Do lavrador, do vaqueiro. De um cabra afogueado, Um terrível capitão, Com ele era na bala, Não tinha conversa não! Cabra da peste arretado Robin Hood do sertão, Virgulino, o rei do cangaço, O temível Lampião! Nordeste dos literatos De Amado e Alencar Terra de Gonçalves Dias, De Bandeira e Gullar. Terra de Gilberto Freyre, Da poesia e da prosa Terra de Coelho Neto E do grande Rui Barbosa Terra de Castro Alves, Suassuna, João Cabral, Terra de Graciliano, Patativa, fenomenal! Terra de tanto expoente, Do cordel e do repente, Do frevo alegre e fremente Que chega pra incendiar. Terra do tambor-de-crioula, Do coco e do cupuaçu, Do acarajé, da buchada, Da cambinda e da cambada, Ao som do maracatu. Nordeste das emboladas, Dos repentes, dos cordéis, Da viola enluarada, Mamulengos e afoxés. Na roda da tua ciranda Vou rodando pra outras bandas E vou pras bandas de lá Pegar um Ita pro norte, Vou pra Belém do Pará Misturar o bumba-meu-boi Com o famoso boi-bumbá. Conhecer a selva amazônica Paraíso universal, Milagroso pulmão do mundo Floresta descomunal! Adeus meus algodoais, Vou pras terras do Amazonas Conhecer os seringais. O Acre de Chico Mendes, Defensor da natureza! Rondônia e Tocantins, Roraima e Amapá E toda a gente de lá! A cerâmica e os búfalos, Na ilha de Marajó, Os teatros, a marujada, E a arte rococó. Sacudir o esqueleto No ritmo alucinante Da dança do carimbó! E a arte corre solta Por toda essa grande nação Terra de luz e de canto Que se espraia no encanto Por todo canto a que se vai! Na harmonia da sanfona, Nas cordas do violão, Nas notas alegres ou tristes Na sinfonia do coração. No batuque do tambor Ressoa o nosso amor! Nos passos de tua gente, Meu Brasil, vamos em frente, Saudamos- te com louvor! de Maria da Graça Bergamini Gusmão
Posted on: Tue, 08 Oct 2013 21:34:31 +0000

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