#CTIdeanjos# Como são maravilhosas sua palavras Ana Moreno. Num - TopicsExpress



          

#CTIdeanjos# Como são maravilhosas sua palavras Ana Moreno. Num vasto corredor, ouve-se gemidos, apitos repetitivos avisando a frequência cardíaca, pingos sucessivos de soro, irritantes como a torneira que não fecha e dissolve o sono noturno numa inútil impaciência. A comodidade do botão que muda a posição da cama torna-se um divertimento e um auxílio no vazio da noite. No primeiro abrir dos olhos, a enfermaria amarelada se confunde com a cor do próprio rosto, que com olhos curiosos de uma ave de rapina, capta os movimentos sutis de um CTI. Entre dipironas e morfinas, e sondas e fraldas, anjos de verde se mostram no decorrer da paciência que trazem paz aos dias, a mágica da caridade. A cada admissão de um paciente, braços abertos e largos sorrisos se estendem a tal, na maioria homens, acidentados violentamente, que chegam como um nascido do útero, com a fragilidade que inspira cuidados para a (re)vida. São tantos os pais e mães doando-se aos leitos, a espera, muitas vezes, do primeiro sinal vital indicado pelo olhar fixo, ou pelo mexer dos dedos. Que alegria, Seu Sebastião! deu um sorriso?! Quer mudar de posição? Se sim, pisque os olhos...Que beleza vamos virar para a direita então! Muitos biombos montados a cada curto tempo, pra neles, um longo tempo ser trabalhado. Curativos, trocas, banhos de leito. Enquanto observava o vai e vem dos plantonistas, não tinha como não notar a forma que cada um fazia o mesmo curativo, de todos os dias, duas vezes por dia, nas minhas duas lânguidas pernas. Cada um com sua particularidade e cuidado, mãos leves, pesadas, água quente ou soro... mas aquelas duas enfermeiras que mais os fizeram - e aprenderam e me ensinaram - tinham o cuidado de um amigo carinhoso de longa data, que reposiciona os pensamentos pra fora das dores sórdidas da carne, conversando, fazendo rir. Elas sabem disso. Uma com a cara amarrada e outra de sorrisão despachado e ambas utilizando do mesmo amor e caridade pra trabalhar. Quando menos se espera a mãe de todos os enfermos da carne, aparece com um apetitoso brinde, um agrado para seus filhos amorosos e chega luminosa como um guia levando-nos ao patamar do amor fraternal, sem ao menos sabermos a significância disso. Em frente ao meu leito, um espaço de sortudos! Nos 20 dias em que ali estive, passaram 4 queridos companheiros: O calado, o cantor, o safado, e o todo quebrado que dizia que ainda queria sua moto de volta! Sortudos!! Saiam de lá rapidinho já com um pezinho na rua, quase em casa! Ao lado, a doçura em pessoa, com sua perna, assim como as minhas, fixada pelos aços que nos dão a esperança dos novos passos, trabalhando nossa paciência. O rapaz dos agradecimentos infinitos, um renascido e esperançoso. As trocas de plantões tão bem detalhadas me afirmavam o cuidado com seus queridos por aquelas 12 horas passadas. As minúcias de cada um de nós transferidos com precisões memoráveis, com cuidado, para aqueles com quem nem sempre havíamos estado pelo mesmo tempo. Cada plantão, muitas vezes, era como um novo relacionamento, com o começo de uma conquista mútua. A delícia de perder a vergonha, e virar bebê, rachando de rir da situação berçário da maioridade, com trocas intermináveis de fraldas e ainda poder sentir a entrega fraternal do profissional, te mostrando o valor da situação pra sua própria posição: Ê sua Maria Mijona, pelo menos seus rins estão funcionando que é uma beleza, heim,! E fazer disso uma situação tão divertida que a vergonha de ser, a vergonha imposta moralmente, é esquecida dentre as risadas. Das dores, muitas. Dos remédios, intermináveis. Dos efeitos, os mais bizarros. Morfina é neosaldina, cada um em sua proporção, dipirona na veia dá sono, rivotril me deixa acordar umas três vezes na noite, e a Quetamina, bem....essa vai merecer uma crônica só pra ela, mas me deixou ver os guias de luz segurando minhas pernas na hora do curativo em meio a uma guerra medieval... O CTI tem seu cheiro e seus amores, e nunca pensei que teria saudade de lá e de seus anjos, que me cuidaram como mães e pais, com devoção ao trabalho, e devo registrar aqui: árduo, demorado e movimentado trabalho. Médicos salvam vidas, mas essas pequenas peças iluminadas colocadas pelo Divino, que são enfermeiros, técnicos, salvam a vida da mesma vida, aos pouquinhos, com seus sorrisos amorosos e mãos de luvas de algodão, Eis meu primeiro resumo de uma vivência intensa, que me abriu a mente pra muito além dessa existência.
Posted on: Wed, 27 Nov 2013 12:35:58 +0000

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