CUBA: REALIDADE E FANTASIA Dr. Luiz Carlos Pinto Como quase - TopicsExpress



          

CUBA: REALIDADE E FANTASIA Dr. Luiz Carlos Pinto Como quase todo latino americano, sempre apoiei de forma incondicional a causa cubana e sempre tive e continuo tendo uma profunda admiração pela tenacidade e capacidade de resistência desse povo, que heroicamente vem resistindo a um dos mais longo sítios econômicos da história da humanidade. Freqüentemente acompanhamos pela imprensa descrições de artistas e intelectuais, que regressam de visitas a Cuba falando maravilhas sobre a ilha, sobre a alegria e a criatividade do seu povo que vive inventando fórmulas miraculosas para contornar o embargo americano, os seus fantásticos progressos científicos e sociais, e principalmente sobre a “indiscutível” união dos cubanos em torno do seu líder e “herói” Fidel Castro, aqui sempre recebido com pompas e circunstancias. Como médico, movido pela curiosidade social e histórica, visitei Cuba, onde a convite, participei como conferencista em um congresso médico latino americano. Permaneci em Havana por uma semana e ao regressar a conclusão que tirei foi a de que ou “eu fui enganado durante todos estes anos” ou visitei a ilha errada. Conheço a maioria dos países latino americanos e lamentavelmente, o que vi em Cuba não tem absolutamente nada a ver com a imagem que sempre me passaram. Talvez seja o resultado da queda do bloco soviético e da persistência do injustificado e anacrônico embargo econômico americano, mas a verdade é que para minha decepção o que vi foi um povo triste, revoltado, mas altamente reprimido, sem acesso aos bens de consumo mais elementares, envolvido por um alarmante índice de prostituição e corrupção. Durante a minha curta estada, deu para observar que existe uma Cuba para exportação totalmente direcionada para o turista e a Cuba real na qual tem que sobreviver o coitado do cubano. Na Cuba turística encontramos hotéis de luxo, boates, bares e restaurantes, onde só se aceitam dólares e se cobram preços altíssimos para os padrões latinos. Um local onde tudo é feito para retirar do visitante incauto até o último “cent”. Esta Cuba está totalmente fora do alcance do cidadão cubano, não só pela barreira econômica, mas também porque em muitos destes locais, tais como nos hotéis, é “proibida” a entrada ou a permanência dos mesmos. Os que aí trabalham, na maioria das vezes são indicações do PCC (Partido Comunista Cubano) e passam por verdadeiros pentes finos antes de serem aceitos. A tentativa de manter uma presença eficiente e sutil da repressão é facilmente observada por qualquer visitante mais atento, até em função do medo estampado nas pessoas, que evitam conversar muito com os turistas e pelo grande número de “seguranças e olheiros” espalhados por toda a cidade. Nem mesmo os profissionais de nível superior podem entrar nos hotéis turísticos. Em relação à saúde e à educação, não podemos negar alguns méritos ao sistema cubano. A educação “obrigatória” até o nono ano escolar realmente eliminou o analfabetismo, até porque, em uma ditadura, o que é “obrigatório” realmente é obrigatório. No campo da saúde a medicina cubana voltada ao atendimento primário e a saúde materno-infantil é realmente um exemplo a ser seguido. No entanto, o alto índice de escolaridade e principalmente as alardeadas conquistas científicas da medicina cubana, em minha opinião mais propaganda e alarde que verdadeiramente conquistas, não serviram até agora para minimizar o sofrimento do povo. A medicina cubana sofisticada, que sempre ouvimos falar, na verdade está restrita à alguns poucos centros médicos, destinados aos estrangeiros, em uma espécie de turismo de saúde; ou seja, objetiva atrair estrangeiros para fazer tratamentos na ilha, pagando mensalmente ao governo somas altíssimas em dólares, hospedando-se em vilas e hotéis de luxo enquanto se submetem à tratamentos prolongados, com direito à transporte, atenção médica constante, etc. O projeto merece elogios, mas ele peca por uma questão básica; na prática, o cidadão cubano não tem acesso à estes recursos. Também aí encontramos duas Cubas. Enquanto os estrangeiros graças aos seus dólares são atendidos em centros médicos modernos, o povo impedido pelas limitações burocráticas e pela desculpa da necessidade de passar pelos vários níveis de atendimento médico, não consegue acesso a esses benefícios. Eles têm que se contentar com hospitais miseráveis e carentes, que deixariam felizes muitos brasileiros revoltados com o abandono de nossos hospitais públicos. Quando um cubano finalmente supera as muitas barreiras e se torna elegível para a mordomia dos centros médicos especiais, ou já morreu, ou se curou, ou já se passou tempo demasiado e o seu caso não tem mais jeito. Conclusão: do ponto de vista médico-social é um outro engodo. É mais uma fonte de dólares para o governo. Além disso, nem sempre os médicos que aí trabalham são os melhores de suas especialidades, pois em sua quase totalidade eles são indicados pelo partido. Ainda em relação aos médicos cubanos, vale ressaltar que na principal escola médica de Cuba se formam os médicos que irão atender as elites. Os médicos que se destinam ao atendimento da população, ou os chamados “médicos internacionalistas”, que são “alugados” aos países do terceiro mundo, recebem uma formação mais rápida e bem mais superficial. Afinal, de que outra forma um pais pequeno como Cuba poderia dispor de milhares de médicos para ceder em troca dos preciosos dólares, para outros países ? Em geral esses médicos não passam em qualquer avaliação ou teste de revalidação de diploma mais sérios. Talvez isso explique porque o governo brasileiro está buscando formulas mágicas e oportunistas para evitar que os tais “médicos” estrangeiros que pretende “alugar” sejam submetidos ao exame de REVALIDA, que foi criado pelo próprio MEC. Creio que essa é uma manobra esperta e absurda para enganar o povo brasileiro e permitir que retribuam ao governo cubano, com dólares, o apoio que receberam no passado. Esses “pseudo-médicos” constituem uma preciosa fonte de renda para o governo dos irmãos Castro. Não creio que os brasileiros mais carentes mereçam ser tratados como cidadãos de segunda classe, sendo atendidos pelos tais “pseudo-médicos”. O Brasil não precisa de médicos estrangeiros e sim de postos de saúde e hospitais públicos decentes, além de uma política de saúde mais séria e menos demagógica. Coloque qualquer prêmio Nobel de medicina para atender em um de nossos miseráveis postos de saúde e ele horrorizado e se sentindo incapaz, com certeza não permanecerá por lá mais que algumas horas. Apesar da degradação a cidade de Havana é uma preciosidade da arquitetura hispânica, mas dá pena observar a degradação dos prédios, fruto da crise econômica do país. Nas ruas, grupos de turistas passeiam por vielas charmosas, em meio a um povo carente e assustado. Não dá para ver alegria naquela gente que permanece horas sob o sol, em uma fila quilométrica, só para tomar um pequeno sorvete de segunda categoria, mas a preço subsidiado, enquanto assiste aos turistas entrarem solenemente por outra porta, munidos de seus dólares e sem qualquer fila, adquirirem a mesma “preciosidade”, sem o menor sacrifício. Havana não possui praias e os melhores pontos da ilha estão “reservados” para os estrangeiros não sendo freqüentados pelo povo, pois o controle é total. Enquanto o turista passeia em ônibus modernos, com som e ar refrigerado, muitos deles "Made in Brazil", o cubano é deslocado de um lado para outro nos chamados “camellos”, caminhões velhos, do tipo carretões, que são adaptados para transportar como se fossem gado, dezenas e dezenas de pessoas de cada vez. O pior é que até essas geringonças são escassas. Resumindo, a Cuba tão badalada e a qual sempre defendemos e simpatizamos, infelizmente não pertence mais aos cubanos, ela pertence aos irmãos Castro e aos seus seguidores e está loteada aos turistas. Entendo a pressão das carências e a necessidade de dólares do país e realmente a vocação turística da ilha merece e deve ser explorada. No entanto, o que não dá para aceitar é que nos vendam uma imagem deturpada, como se o cubano estivesse feliz e sorridente, disposto a qualquer sacrifício para defender Fidel e seu regime. Pelo que vi, o que existe é uma forte e absurda repressão, muito bem organizada e eficiente, que amordaçou o povo e tirou dele o seu bem maior, a LIBERDADE. No momento ao cubano só resta trabalhar como escravo, em troca de uma parca cesta mensal de alimentos e roupas, insuficiente para o seu sustento e que os obriga a correrem o risco de serem presos, roubando aparelhos de ar condicionado e outros eletrodomésticos das casas de empresários e diplomatas estrangeiros; tentando faturar alguns dólares dos turistas, vendendo as escondidas caixas de charutos roubados, ou fabricados e falsificados a partir de sobras eliminadas pelo controle de qualidade das fabricas oficiais e que são discretamente oferecidos a todo instante aos visitantes; fazendo bicos em velhos taxis “piratas”; ou o que é pior e escandalosamente freqüente, se prostituindo. Nos bares, shows, restaurantes e boates, mesmo em plena luz do dia, ainda pela manhã, chama a atenção de qualquer um, o grande número de europeus ou canadenses, acompanhados de suas “cubanitas”, muitas delas médicas, arquitetas, engenheiras, etc., que recebem do governo como salário cerca de 20 a 30 dólares mensais, enquanto cobram de 30 a até 100 dólares por um “programa”. O pior é que isto não se verifica apenas em áreas específicas de Havana, como ocorre em nosso calçadão de Copacabana, no Rio de Janeiro, mas em toda cidade. Depois de reatarem relações com o Vietnã, manterem relações amistosas com a China e com outros países comunistas, não resta mais aos americanos qualquer justificativa para a manutenção do embargo econômico contra Cuba. Este bloqueio até agora só fez sofrer ao povo cubano. Fidel e sua família continua levando a vida que sempre levou, com direito a todas as mordomias comuns a qualquer governante. No entanto, apesar de ser contra a vinculação do fim do embargo à mudanças políticas na ilha, pois este foi o grande erro americano, que só serviu para perpetuar o regime, acho que países amigos como o Brasil têm a obrigação de pressionar o governo cubano no sentido de efetuar mudanças reais na ilha e no mínimo, liberalizar mais o regime, em defesa do sofrido povo cubano, que não merece continuar sendo esmagado por este jogo de interesses e por esta “queda de braço” ideológica e sem o menor sentido. Dr. Luiz Carlos Pinto Médico fisiatra e neurofisiologista - Rio de Janeiro -RJ Membro da Academia Brasileira de Medicina de Reabilitação
Posted on: Fri, 28 Jun 2013 22:52:50 +0000

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