Capítulo 16 - Cheshire cat… não, pera. Melissa. - Quer parar - TopicsExpress



          

Capítulo 16 - Cheshire cat… não, pera. Melissa. - Quer parar com isso, por favor? – Harry pediu, sem tirar os olhos da estrada. - Isso o quê? – perguntei, distraída. - Você está praticamente pulando no banco. - Desculpe. - Não fique tão nervosa, não é como se eu estivesse te levando para um lugar horrível tipo… o Triângulo das Bermudas. Ou para uma prova final de matemática. - Nem minha prova final de matemática não me deixou tão nervosa. – eu disse. Me arrependi, achando que poderia deixa-lo irritado, mas ele apenas riu. - Eu achei que a Lou estava exagerando quando disse que você tinha um talento natural para o drama. - Minha tia disse isso? - Disse. E a sua mãe também. E o Tom também. E eu concordo com todos eles. - Engraçadinho. – eu disse, embora não tivesse me ofendido nem nada. Eu realmente sou muito dramática, meu pai sempre dizia que iria me colocar num curso de teatro porque tanto talento para drama não deveria ser desperdiçado. – Eu estou com medo da sua família não gostar de mim, simples. - É claro que eles vão gostar de você. - Para começar, quem começou com essa história de virmos para Holmes Chapel foi a minha mãe. Faz uns dois meses que ela tem insistido sem parar “Quando você vai trazer a sua namorada para que eu possa conhecê-la?” – Ele disse, no que eu julguei uma péssima imitação da mãe. – Estava ficando meio irritante, para falar a verdade. Mas o que eu quero dizer, é que se ela achasse que você não é uma boa pessoa, não estaríamos a caminho da minha casa agora. Isso me acalmou um pouco. Mas eu ainda estava um pouco preocupada com a possibilidade de ela não gostar de mim, achar que eu não servia para o filho dela, sei lá. Mães são estranhas, às vezes elas mudam de ideia tão rápido que você não tem tempo de “processar” a informação. Harry pareceu perceber que eu ainda não estava tão calma assim, e então ele ficava puxando assuntos idiotas para me manter ocupada. Conversamos sobre a situação política do país, a crise do petróleo e até o mistério do porquê não existe pudim de vodka (eu comecei falando sobre pudim de pinga, mas Harry não sabia o que era pinga, então mudei para vodka). - Mas não existe comida azul. - É claro que existe! - Eu quis dizer comida naturalmente azul. – ele argumentou. - E as blueberries são o que? - São roxas. - Então é melhor te levarmos ao médico, você está com sérios problemas de visão. - Por quê estamos falando sobre isso? - Porque eu estou frustrada com o preconceito contra a comida azul. – eu disse. Talvez (muito) influenciada por meus livros, eu tinha pego uma mania de colocar corantes alimentícios azuis em todas as coisas que eu cozinhava, e sempre que eu estava comendo as pessoas me olhavam com cara de “Qual é o seu problema?” - Você está lendo Percy Jackson demais. Eu estava pensando em uma resposta sarcástica boa, quando me dei conta de que eu nunca chegara a contar para Harry de quê livro, exatamente, eu tinha tirado a ideia da comida azul. Então, como ele sabia? - Harry…? - Talvez eu tenha lido alguns trechos do livro. – ele confessou, encolhendo os ombros. Senti vontade de abraça-lo. Quer dizer, mais que o normal. Harry era meio preguiçoso e não gostava muito de ler, e também não tinha tempo para isso. Eu até conseguira fazer ele ler Harry Potter, mas não tinha a mínima esperança de conseguir faze-lo ler outro livro. - Não me olhe com essa cara. - Certo, desculpe. Mas você lendo por livre e espontânea vontade é um pouco fora do comum. Ele olhou para mim, com as sobrancelhas arqueadas. - Você está me chamando de preguiçoso? - Não coloque palavras na minha boca. – eu disse, mas ele sabia que era exatamente isso que eu queria dizer. - Tudo bem. Quando voltarmos, eu vou ler todos os… – ele parou para pensar. - Cinco. - Sim, todos os cinco livros de Percy Jackson. Você vai ver. - Eu duvido. - Isso foi um desafio? – ele agora estava sorrindo. - Entenda como quiser. – eu disse. - Então, pode esperar que eu vou ler todos os livros. Você vai poder fazer qualquer pergunta sobre eles que eu vou saber responder. Apostado? - O que acontece se eu ganhar? - Hm, eu saio por aí usando uma camiseta escrito “Eu sou um cupcake azul”. - Um dia inteiro? Ele assentiu. - Mas, se eu ganhar… – ele fez uma pausa, não sei se era apenas teatral ou se ele estava pensando no que exigiria caso conseguisse ler – Você vai ter que passar uma semana sem reclamar e sem usar sarcasmo. Uma semana sem sarcasmo? Isso seria difícil. Quer dizer, eu vivo de sarcasmo. Na maioria das vezes, eu nem percebo que fui irônica. E ficar sem reclamar também seria difícil. Odeio admitir, mas eu sou bem reclamona. Desista, em alguma parte do meu cérebro – talvez a parte sensata – algo me dizia para recusar isso. Mas eu não resistia a uma aposta. E essa era uma aposta simples. O que poderia dar errado? - Feito. Mas o que acontece se eu acabar reclamando ou sendo sarcástica? Ele sorriu, como se soubesse a resposta e ao mesmo tempo soubesse que eu não ia gostar. - Bem, podemos nos preocupar com isso depois. - Por quê? – perguntei, sem entender. - Chegamos. Bem vinda à Holmes Chapel. . . . Como de costume, Harry não conseguia encontrar as próprias chaves. Ele costuma ser meio descuidado com tudo, mas ele parecia ter um talento especial para perder chaves. Ele as perdia com uma facilidade incrível, perdendo apenas para a capacidade sobrenatural de deixar o próprio celular cair no chão a cada dez passos. (Eu não estou brincando. Uma semana depois de comprar um celular novo, ele o deixou cair no chão, o que resultou num iPhone todinho rachado) Afinal de contas, a chave nem foi necessária. A mãe dele deveria estar nos esperando, pois assim que descemos do carro (enquanto Harry ainda estava a procura de suas chaves. É sério, vou colocar um rastreador nelas) a mãe dele abriu a porta da frente, com um sorriso no rosto. - Ahn, oi mãe. Ainda bem que você apareceu… - É, eu já desconfiava que você iria perder as chaves. Francamente, ainda não entendo como você consegue. Qualquer dia desses irá perder a própria cabeça em algum lugar. – ela ralhou, mas eu ainda podia ver um meio sorriso em seu rosto. Harry sorriu, parecendo não se importar de ser recebido com um sermão. Ele estendeu os braços e a abraçou. Ela sugeriu que entrássemos antes que alguma fã maluca surgisse do nada. Aparentemente, elas seguem os meninos por toda a parte, inclusive aqui, na cidade natal de Harry. Logo a notícia se espalharia. Elas não vão demorar a aparecer, ou pelo menos foi o que Harry afirmou. Eu torcia para que ele estivesse exagerando. Tudo que eu queria era um pouco de paz, e achei que pelo menos aqui poderíamos, sei lá, sair na rua sem sermos parados por meninas histéricas a cada 10 metros. Anne voltou sua atenção para mim. Eu não sabia ao certo a idade dela – e nem pretendia perguntar – mas ela me parecia bem jovem, principalmente para ser mãe de um doido de dezoito e uma filha de vinte anos. Era bem bonita e sorria bastante, enquanto falava com Harry. - Então – ela se virou para mim. Eu meio que paralisei. Acalme-se, é só a mãe dele. Não um monstro canibal. Apenas a mãe dele. – A famosa Melissa, certo? Assenti, resistindo ao impulso de fazer algum comentário sarcástico. Sorri para ela. - É um prazer conhece-la, senhora. – eu disse. Harry olhou para mim com as sobrancelhas arqueadas, como se não conseguisse acreditar que eu tinha dado uma resposta educada a alguém. Pelo que eu me lembrava, fazia séculos que eu não chamava ninguém de senhora. Ela sorriu novamente e me puxou, para que pudesse me abraçar. E depois pediu para que eu não a chamasse de senhora, também. Bem, pelo menos agora eu sei de quem Harry puxou a estranha atração por puxar pessoas pelo braço. - Sabe, Harry fala muito de você. O tempo todo, para falar a verdade. Fiquei tão feliz quando vocês finalmente ficaram juntos. Eu tinha esperança que você pudesse colocar um pouco de juízo nele. Vi que Harry estava meio que querendo rir, como se a ideia de eu colocando juízo na cabeça dele fosse extremamente engraçada. Eu quase podia imaginá-lo dizendo à Anne que eu era tão esquisita e doida quanto ele. - Eu faço o possível. – brinquei, recebendo uma careta de Harry como resposta. A mãe dele era super simpática, e sorria tanto que aos poucos todo o meu nervosismo sumiu completamente. Harry se encarregou de subir com as nossas coisas, e Anne me mostrou o quarto de hóspedes, que era onde eu ficaria. Voltamos para a sala, onde a irmã de Harry tinha acabado de aparecer. Ela devia ter chegado há poucos minutos, eu acho. A pouca confiança que eu havia adquirido desmoronou quando eu vi a cara dela. Quero dizer, ela até sorria, mas era um sorriso falso e forçado. Eu praticamente podia ver pintado na cara dela “Eu não gosto de você” em tinta neon. - Bem, é muito bom te conhecer, Melissa. – ela disse, mas eu podia ver que ela não gostou nem um pouco . - Mas se me dão licença, eu tenho algumas coisas a fazer agora… – ela saiu da sala em direção à escada. Se Harry percebeu alguma coisa errada, não demonstrou. Já Anne estava com o cenho franzido, deixando claro que a filha não costuma agir dessa maneira. Ficamos algumas horas com a mãe e o padrasto de Harry (que também era muito legal, o que me fez desejar ter uma família igual aquela, todo mundo simpático e nenhum louco neurótico) e depois Harry me arrastou em um mini tour pela cidade dele. Quando eu digo mini tour, é tanto porque ele deixaria o resto para me mostrar amanhã, quanto pelo fato da cidade ser pequena e nem ter tanta coisa assim para ver. Apenas andamos um pouco às cegas pela cidade, enquanto ele me indicava os locais que ele costumava frequentar quando era criança. Ele até me levou na padaria onde trabalhava até entrar para o X Factor, e eu fiz alguma piada sobre padeiros bonitos que felizmente ele não entendeu. Passamos numa lojinha de conveniência para comprar uma escova de dentes para mim, já que eu fazendo malas sou um desastre e sempre esqueço algo. Quando eu digo sempre, é no sentido literal. Todas as vezes que eu viajei na vida eu esqueci algo em casa, o que geralmente resultava em um surto da minha mãe e meu pai tendo que ir comprar o que quer que seja que eu esqueci. Caso esteja se perguntando, quando eu vim para Londres eu esqueci o carregador do meu notebook, o que resultou em umas três semanas sem usar o computador, até que minha mãe o enviasse para mim lá do Brasil, e os correios tivessem a boa vontade de trabalhar mais rápido. Nada legal. Voltamos para a casa dele no mesmo momento de sempre: quando uma fã maluca percebeu quem era Harry e veio correndo atrás dele. Anne estava assistindo televisão com o padrasto de Harry, e pelo que eu pude entender, Gemma tinha saído. Não que eu esteja reclamando, é claro. . . . Ok, confesso que o fato da Gemma não ter ido com a minha cara me incomodou. E muito. Eu nunca fui o tipo de pessoa que sentia aquela necessidade sem sentido de ser amada por todos, e isso era muito bom para mim, até. Mas eu não entendia o por quê da Gemma ter agido daquela forma. Será que foi algo que eu disse ou fiz? Ou talvez ela achasse que eu não era uma boa namorada para o irmão dela… Por fim, não resisti. Fui até o quarto de Harry e bati na porta. Ele já devia saber que era eu, pois abriu a porta na mesma hora. - Eu sou tão previsível assim? - Não, eu estava indo até o seu quarto, mas você apareceu primeiro. – ele deu de ombros, e então se afastando da porta para que eu pudesse entrar. Como já era de se esperar, o quarto dele era bagunçado. Mas não uma bagunça do tipo “Não estou nem aí”, e sim uma bagunça “não finalizada”, como quando o ambiente está arrumado e então alguém chega e começa a bagunça-lo aos poucos. Ah, mas não fique decepcionado. Conhecendo Harry como eu conheço, ele só precisaria de mais algumas horas ali para terminar a bagunça. - E então, não foi tão ruim, não é? - Não…não, foi legal. Sua mãe e seu padrasto são muito legais. - Algum problema? – ele perguntou, parecendo confuso. - Não. – eu disse. Ele ficou me encarando por alguns minutos, esperando que eu parasse de ser idiota e contasse logo. - Tudo bem. É que, ahn, eu acho que sua irmã não gostou de mim. Me odiou, para ser mais exata. Harry ficou pensativo por alguns minutos, considerando o que eu falei. - É bem raro Gemma não gostar de alguém. Tem certeza? - Acho que sim. - Bom, eu posso falar com ela amanhã, se você quiser. Talvez ela estivesse apenas de mau humor, ou coisa do tipo. - Não! Está tudo bem, sério. É que eu estava pensando nisso e acabei falando. Não precisa se incomodar, sério. Ele assentiu, não muito convencido. Logo depois começou a tagarelar sobre a cidade e tudo o que ele fazia aqui quando era mais novo. Eu me esforcei ao máximo para prestar atenção, mas minha capacidade de concentração é relativamente pequena e dura pouco mais de dez minutos. Talvez Isa esteja certa e eu tenha mesmo transtorno do déficit de atenção. Acabei sendo expulsa do quarto com uma travesseirada na cara, por causa de uma piadinha infame que Harry infelizmente entendeu, embora estivesse rindo quando fez isso. Sim, eu faço muitas piadas infames (inclusive, a do Cheshire cat já foi usada) mas na maioria das vezes ninguém entende. Acho que é um dom que eu herdei do meu pai. Fiquei refletindo sobre piadas infames, irmãs malvadas e peixes cor de rosa que cantam rock, até que dormi. O que foi bom, já que amanhã vai ser um dia longo. Beeeem longo. Capítulo 17 - Culpa Melissa. POFT! Esse foi o maravilhoso som do meu corpo atingindo o chão logo pela manhã, depois de eu ter me esquecido que a cama do quarto de hóspedes da casa dos pais de Harry não era encostada na parede, como a minha. Fiquei me debatendo no chão até conseguir me livrar dos cobertores e me levantar. Por sorte, eu não ficaria com nenhum hematoma. Eu tenho certa experiência em acordar caindo da cama. Hoje eu e Harry iríamos passear mais um pouco pela cidade, o que deve levar uma meia hora. Que ele não saiba que eu pensei nisso, mas Holmes Chapel é uma cidade tão pequena que não pude conter uma expressão de surpresa quando Harry disse que tinha uma praça aqui. Tudo bem, eu estou acostumada à cidades pequenas, mas Holmes Chapel me fez rever meus conceitos. Ok, talvez eu esteja exagerando um pouco. E talvez seja apenas a minha imaginação, mas acho que vi Harry olhando feio para Gemma, e ela encolhendo os ombros como se não se importasse. Dava pra sentir uma estranha tensão entre os dois, o que me fez perguntar se aconteceu algo que eu não estou sabendo. De qualquer modo, depois de passar a manhã (sim, eu acordei cedo. Milagre, eu acho) e parte da tarde com a mãe de Harry, ele me sequestrou. Algo sobre conhecer alguns dos amigos dele com quem ele tinha uma banda, ou coisa assim. - É impressão minha ou você está me trocando pela minha mãe? - Hazz, eu só passei um dia e meio com ela. - Você mal falou comigo hoje… - Tudo bem, senhor Carência - Odeio quando você fala assim comigo. – ele resmungou. - Então não aja como uma criança abandonada. E não adianta olhar pra mim com essa cara de cachorro que caiu da mudança… Ah, ok. Depois que acabarmos aqui prometo que darei atenção só para você, tá? Ele sorriu. - Feito. - ele começou a andar mais rápido, me puxando com ele. – Então vamos acabar logo com isso. Revirei os olhos. Chegamos a um local completamente aleatório para mim, mas supus que Harry o conhecesse bem. Havia três garotos, não mais velhos do que ele, conversando como se conhecessem há vários anos. O que provavelmente é verdade. - Hey, o Haroldo chegou! – exclamou um deles, percebendo que nos aproximávamos. - Finalmente hein, achamos que vocês tinham morrido no caminho. - Tanto tempo e você continua chato, Nick. – Harry disse, embora estivesse rindo como todos eles. – Só demoramos quinze minutos. - Hm, dá pra se fazer muita coisa em quinze minutos… – um deles comentou. Harry revirou os olhos, depois fez um gesto com a cabeça na minha direção. - Algumas pessoas são bem perdidas em relação a horários, Will. Sorri para eles. - Culpada. – eu digo, como se estivesse me desculpando. Eles me analisaram, como se estivessem me notando ali pela primeira vez. - Finalmente hein? – provocou o outro, Hayden. – Achei que tinha algo de errado com você, tantas garotas apaixonadas por você e você sem pegar nenhuma. Eu estava com medo de ficar sobrando no meio do lindo momento reencontro-amigos-do-colegial (também conhecido como oh-a-quanto-tempo-não-nos-vemos), mas os garotos me incluíam em todos os assuntos, e até me contaram alguns momentos meio cômicos do Harry. Digamos que isso será muito útil no futuro. - Isso não é justo, não deveriam ter contado a você sobre aquilo. – ele reclamou, enquanto andávamos de mãos dadas pelas ruas sem nenhum destino específico, algumas horas depois de termos nos encontrado com os amigos dele. - O quê, você não queria que eu soubesse que teve a capacidade de colar a mão na própria carteira do colégio? - Foi uma aposta! - Não foi isso que o Nick disse… – eu brinquei. Harry bufou. - Estou começando a me arrepender de ter deixado você conhecer eles. - Certo, vou calar a boca. Ele sorriu. - Sobre aquela promessa que você fez hoje mais cedo… – ele começou. - Não acho que agora seja um bom momento para cobrar isso de mim. – repliquei. Eu realmente tenho que parar de fazer promessas e apostas com Harry. Ele sempre dá um jeito de cobrar. - É o que veremos. . . . - Isso foi completamente injusto. - Não, não foi. - Vai mesmo discutir comigo? - É, talvez seja melhor evitarmos isso. – ele concordou, rindo. Por alguns minutos, tudo que pode ser ouvido foi o som de nossas respirações completamente fora de sincronia (eu descobri que eu inspiro e expiro com mais frequência que o Harry, algo sobre como ele é cantor e saber controlar bem a respiração e blá blá blá) e então, eu não aguentei. Tive que perguntar. - Hazz… hoje de manhã, eu pensei ter sentido um clima estranho entre você e a sua irmã… tem alguma coisa errada. Ele hesitou. Talvez estivesse pensando se ia dizer ou não, ou talvez não fosse uma coisa boa e ele estivesse “editando” para não parecer tão ruim. Prefiro a primeira opção. - Nós dois meio que discutimos… – ele franziu o cenho, como se apenas a menção à briga fosse ruim. – Eu perguntei o por quê dela ter agido com você daquele jeito. - Mas… - Eu sei, você me pediu para não dizer nada. – ele deu um meio sorriso. – Mas não achei justo. De qualquer forma, ela me disse que… – pausa. – que te achava uma interesseira, que assim que eu não fosse mais tão famoso assim, você iria embora. Permaneci em silêncio. Eu meio que já tinha aprendido a ignorar os comentários desse tipo quando eram vindos de outras pessoas, como fãs, repórteres ou paparazzis. Mas saber que a irmã dele pensava isso de mim? Dessa vez, magoou. De verdade. - Eu disse que sabia o que estava fazendo. Quer dizer, eu te amo. O que acontece entre nós ou deixa de acontecer não é do interesse de mais ninguém, e ela não tem o direito de falar isso de você. Tentei convencê-la disso tudo. Mas… ela é minha irmã, afinal. Nunca vai admitir que o irmão mais novo está certo e ela não. - Harry, ahn… droga, eu não devia ter dito nada. - Não, tudo bem. Eu não quero que ela tenha essa imagem de você. – ele respondeu, enquanto brincava com uma mecha do meu cabelo. Ele sempre faz isso, eu até desisti de dizer que não gosto. Mesmo ele dizendo que estava tudo bem, eu conseguia sentir a culpa crescendo. Merda. Fiz o possível para espantar esse sentimento, ao menos por hora. Eu realmente queria aproveitar o máximo possível com Harry, pois esse fim de semana de folga dele provavelmente seria o último em um bom tempo. Ensaios de turnê, divulgação do novo single, gravação de videoclipes, eventos… Se eu entendi bem, íamos nos ver bem menos durante algum tempo. E é nessas horas que eu acho que os criadores do Skype e o das mensagens de texto merecem um lugar especial no paraíso, seja lá em qual “paraíso” você acredite. As próximas semanas seriam difíceis para mim também. Eu estava cheia de trabalhos para fazer, provas para estudar, e meia tonelada de matéria de matemática para aprender. Que Hades amaldiçoe a alma do idiota que decidiu que matemática tinha que ser ensinada nas escolas. E eu ainda tinha brigado com a Julia. Foi um problema bobo, mas já estávamos sem olhar na cara uma da outra há duas semanas. Duda estava enlouquecendo de ficar entre nós duas, mas felizmente, Louis não pareceu se importar com isso. Ainda é o idiota que acha que manda em mim que sempre foi. Fora a chatice da Angelinna, que vem crescendo a cada dia, a insistência de Peter de continuar a amizade que já tinha acabado há muito tempo, e – que Harry não saiba disso – mas Alec (o metido a francês) andava meio… estranho. Segundo Duda, ele tinha uma queda por mim, mas eu torcia para que ela estivesse errada. Tipo, provavelmente ele só não estava acostumado a ter uma amiga garota. Ok, foco. Chega de pensar nos outros e nos problemas que vem junto com eles. Pense… em como o Harry provavelmente é o namorado mais perfeito do mundo. E o mais lindo também. Fala sério, devia ser crime alguém ser tão bonito… Ah, acho que isso não é exatamente manter o foco. Mas já serve. . . . Se você nunca foi submetido à maravilhosa sensação de ser consumido pela culpa de algo ruim da qual você foi indiretamente responsável, saiba que não é nada legal. Para você ter uma ideia, é algo semelhante a ser mergulhado em um tanque de ácido várias e várias vezes seguidas, enquanto se cura rapidamente entre os intervalos. Você pode até esquecer a culpa por um curto período de tempo, mas de repente ela está lá, ocupando todos os seus pensamentos, te levando à loucura, te consumindo aos poucos. Dramática? Talvez. A questão é: eu me sentia exatamente assim, sabendo que Harry e Gemma brigaram por uma neura minha. Eu podia muito bem ter guardado minha teoria de que ela não ia com a minha cara para mim mesma. Mas não, eu tinha que abrir a boca e falar para o Harry. Agora dois irmãos que sempre se deram bem, mal olhavam um na cara do outro. Ah, eu devo ser a pior namorada do mundo. E para completar, eu estava prestes a fazer um buraco no chão do quarto de hóspedes, de tanto andar de um lado para o outro. Isso acontece com muita frequência do que eu gostaria, mas há momentos em que eu simplesmente não consigo ficar parada. Ao mesmo tempo em que eu queria – e sentia que devia – tentar arrumar isso, me parecia meio errado entrar no meio de uma briga entre irmãos. Eu sempre odiei que se intrometessem enquanto eu estava brigando com o meu irmão. E irmãos costumam ter seu jeito próprio de fazer as pazes, e eu sabia muito bem disso. Mas afinal, tudo isso começou porque eu não soube manter a boca fechada. Se a “culpa” era minha, a obrigação de resolver tudo era minha também, certo? Alguém por favor me arranje um remédio para dor de cabeça? Droga. Por fim, acabei tomando uma decisão. Soou meio dramático, eu sei, mas é desse jeito que aconteceu. Precisei de alguns minutos para pensar no que eu falaria, mas acabei achando melhor não me prender muito aos detalhes. Saí do quarto de hóspedes e fui em direção à porta que Harry tinha me dito ser a dela. Hesitei antes de bater à porta. Eu não sabia que horas eram, mas devia ser tarde da noite. Mas inquieta do jeito que eu estava, eu provavelmente explodiria se tentasse esperar até amanhã. - Melissa? – a voz de Gemma estava cheia de surpresa. – O que está fazendo aqui? - Acho que temos que conversar. Há algumas coisas que eu gostaria de esclarecer. Capítulo 18 - Dudacentrismo: converta-se você também Melissa. Demorou alguns segundos - que me pareceram horas - para que Gemma se tocasse que eu estava falando sério. - Tudo bem. Mas não acho que há alguma coisa a ser esclarecida. - ela disse, me dando passagem para entrar no quarto dela, embora estivesse meio relutante. - Ah, tem sim. Primeiramente, eu não sei o que eu te fiz para você agir dessa maneira comigo. E não negue, eu sei que você não gosta de mim. - eu disse, ao ver que ela pretendia me interromper. - Bem, - ela se sentou na cama dela. - “Não gostar” é uma expressão muito forte. Eu não desgosto de você, apenas… - ela agitou as mãos, tentando encontrar as palavras certas. - Acha que não sou boa o suficiente para o seu irmão? - sugeri. - Mais ou menos isso. - ela admitiu, e para minha surpresa, ela parecia um pouco envergonhada, como se não gostasse de ter essa opinião. Já era ruim o suficiente saber que a sua cunhada acha que você não serve pro irmão dela. Mas ouvir isso da própria? Nada agradável. Fiquei alguns minutos tentando pensar em algo para dizer. - Sabe, eu até entendo o que você quer dizer. Ela olhou para mim, desconfiada. - Entende? - Pior que entendo. Acho que se estivesse na mesma situação que você, eu também ia ficar preocupada se a namorada do meu irmão pudesse ser uma babaca interesseira que só vai fazer mal para ele. Mas eu no seu lugar - e não estou dizendo que é isso que você deveria fazer - tentaria dar uma chance. Aos dois. A ele, para provar que é capaz de perceber quando alguém é confiável ou não, e a ela, de provar que não é isso que eu estava pensando. Assim que terminei de dizer tudo isso, eu me surpreendi comigo mesma, e também fiquei com um pouco de medo. Quer dizer, quando eu estou elaborando pensamentos tão profundos e filosóficos assim, não é um bom sinal. Talvez eu esteja conversando muito com o Zayn, ou a Duda. E também percebi que isso tudo soou como um sermão extremamente brega, e que eu não sei ser persuasiva. - Certo, desculpe. Isso foi absurdamente brega. Gemma riu. - Não, não foi. Até que faz sentido. - Sério? Eu só achei que pudéssemos tentar nos entender, sabe, pelo Harry. Eu não gostei de saber que vocês dois brigaram. - Irmãos brigam o tempo todo. - ela retrucou. - Eu sei. Mas isso faz com que eu me sinta menos culpada. Er, eu só queria que você soubesse que eu amo seu irmão, mas como pessoa. Não como um cantor famoso. Silêncio. Longos minutos se passaram até que ela finalmente se pronunciasse. E eu fiquei feliz que ela não tenha demorado mais para fazer isso, ou eu surtaria. - Sabe, talvez eu tenha me enganado. Talvez você não seja uma babaca interesseira. - Mesmo eu fazendo um discurso super brega e idiota que não faz sentido? Ela riu, o que foi bom. Me fez acreditar que ela realmente tentaria não me odiar, ou coisa do tipo. - É, mesmo assim. . . . - Filho, você tem mesmo que ir embora hoje? - Anne perguntou, talvez pela décima vez nos últimos vinte minutos, enquanto todos estávamos tomando café da manhã. Eu e Harry iríamos embora dali a algumas horas, já que logo amanhã cedo ele teria gravação e entrevista. - Sim, mãe. - ele usou a mesma resposta que usara nas últimas nove perguntas. - Tenho vários compromissos amanhã bem cedo, e se eu voltar muito tarde não vai dar tempo de… - Harry parou de falar, e de repente pareceu achar que beber café exigia grande esforço e concentração. Gemma, que estava numa cadeira ao lado dele, se inclinou na direção de Harry. - O que não vai dar tempo de você fazer? - Ah, nada importante. Deixa pra lá. - É, nada importante. - eu já disse que sou péssima em disfarçar? Bom, acho que não precisa. É possível perceber isso sozinho. Ok, hora da verdade. Ele não ia fazer nada demais, só queria ter a chance de dormir o resto do dia antes de ter que voltar à agitada rotina dele, o que comprova minha tese de que o empresário deles pensa que nenhum dos meninos precisam dormir. Ou descansar, ou comer, ou até mesmo piscar. E eu tinha uma tonelada de dever de casa para fazer, a maioria com prazo para amanhã. Será que Harry aceitaria fazer meu dever de francês? Talvez se eu pedir com jeitinho… - Sei. Nada importante. - Gemma comentou, o sarcasmo quase dando um tapa na nossa cara. Aparentemente, Gemma era mais parecida com Harry do que eu podia imaginar. Anne olhou para nós dois, mas limitou-se a dar de ombros. Acho que ela sabia que em geral, nem valia a pena tentar entender esse tipo de diálogo. Todos terminamos de tomar café da manhã, e eu pra fazer a nora educada, fui ajudar Anne, enquanto Harry e Gemma tentavam manter uma conversa ao mesmo tempo em que tentavam não matar um ao outro. - Ah, acho melhor irmos arrumar nossas coisas… - Harry comentou, para ninguém em especial. - Que desespero é esse? - Ele não quer contar, mas provavelmente só quer chegar em casa a tempo de assistir Bob Esponja. - eu comentei, e Gemma riu. Harry nos encarou como se perguntasse “O que eu perdi?” Sorri para ele. Enquanto subíamos as escadas para irmos arrumar nossas malas, Harry sussurrou: - Desde quando você e a Gemma se dão bem? - Desde ontem de madrugada. Conversamos e ela pareceu simpatizar mais comigo. - Alguma chance de eu saber sobre o quê vocês conversaram? - ele perguntou. Geralmente era só ele me encarar com aqueles olhos verdes e sorrir de lado mostrando as covinhas que eu cedia, mas hoje não. Não tínhamos conversado sobre nada demais, mas ia ser legal deixá-lo curioso. - Nenhuma. . . . Meu humor estava muito bom. Talvez fosse por ter finalmente acertado tudo com Gemma, por ter me dado super bem com Anne e Robin, ou por esse fim de semana que eu estava temendo tanto tivesse acabado bem melhor do que eu esperava. Você deve estar estranhando o fato de que eu não paguei nenhum mico à frente da família do meu namorado. Não se preocupe, na verdade, eu paguei sim. Harry, ao invés de usar um pouco de bom senso e pensar "Eu sou homem, sou maior e mais forte, então eu carrego as malas!", não! Ele levou a dele até a metade da escada e foi conversar com a mãe dele. E então, sobrou para mim carregar a minha e a dele, se eu quisesse passar. Acontece, que eu mal tenho coordenação motora para descer escadas. Nem para carregar uma mala pesada sozinha. Agora imagine tudo isso ao mesmo tempo, juntamente a mala do meu namorado folgado. Resultado? Eu derrubei as duas malas (e quase caí junto) escada abaixo. E então vem a dúvida: onde estava Harry? Ele estava praticamente rolando no chão de tanto rir da minha cara, assim como Gemma. Até Anne e Robin estavam sorrindo. Mas tudo bem, porque eu prometera a Harry que ele pagaria por isso mais tarde. E eu tenho a sensação que ele entendeu exatamente como. Harry ainda estava pedindo que eu contasse a ele como eu e Gemma tínhamos começado à nos dar bem, mas eu ainda não tinha intenção de contar. Ao invés disso, eu consegui convence-lo a fazer minha tarefa de francês, mesmo que ele a tenha feito à contragosto. Qual é, o garoto fala francês fluente, seria um enorme desperdício não pedir ajuda a ele nas tarefas escolares. Emprestei meus livros de Percy Jackson para ele (sim, eu comprara novos exemplares na Inglaterra. Quero só ver como colocarei todos numa mala no dia que eu precisar voltar para o Brasil) e ele já começou a ler o primeiro enquanto eu fazia meus deveres. Mas eu não fiquei intimidada, tinha quase certeza que ele não passaria da metade. Ele ficou comigo em casa só por algumas horas, mas voltou para o apartamento dele quando minha tia reclamou algo do tipo “Se desgrudem um pouco, provavelmente já dormiram juntos o final de semana inteiro”, embora ele estivesse usando a desculpa que queria dormir. Eu não o culpo, minha tia irritada não era algo muito legal de se ver. Era quase tão ruim quanto a minha mãe irritada. Quinze minutos depois de Harry ter ido embora, a campainha de casa tocou. Ninguém se manifestou, então sobrou para mim ir até o andar de baixo e abrir a porta para quem quer que fosse. - Duda?! - exclamei. Eu realmente não esperava que ela aparecesse em casa. - Sim, quem você esperava ver? Uma garotinha vendendo biscoitos? - Até que não seria ruim. - ponderei. Duda revirou os olhos. - Vai me deixar entrar, ou vou precisar começar uma palestra de conversão para o Dudacentrismo? Me afastei para que ela pudesse entrar, meu humor estava bom, mas não o suficiente para ouvir sobre o quão bom seria se eu me convertesse para o Dudacentrismo, um método de vida maravilhoso onde sua melhor amiga não pode namorar, porque senão ela não terá crédito para responder as mensagens longas que você enviar e bla bla bla. Perguntei à ela o que estava fazendo ali. - O quê, não posso visitar minha melhor amiga que acabou de voltar de um fim de semana na casa da família do namorado, onde ela ficou incomunicável por quase três dias? - Claro que pode, mas como você ficou sabendo… Ela levantou o celular e o entregou a mim. Precisei de alguns segundos para que meus olhos ligeiramente míopes focalizassem na tela e eu conseguisse ver o que estava escrito: 1DNews. Não sei como eu ainda fico surpresa, essas fãs são piores que o FBI e a CIA juntos. - Oh, certo. Tudo bem. - eu respondi, devolvendo o celular à ela e subindo as escadas. - E então, como foi lá em Holmes Chapel? - Foi bem legal. A mãe dele é muito simpática, assim como o padrasto dele. Gemma e eu tivemos um pequeno problema, mas já resolvemos tudo. Chegamos há algumas horas, como você deve saber, mas Harry foi embora daqui não faz muito tempo. Me arrependi da última frase. Duda abriu um sorriso malicioso que só ela sabe fazer. - Sabia que tinha uma razão pra voltarem tão cedo! E o que vocês ficaram fazendo todo esse tempo? Lembrou de usar… - ela não terminou a pergunta, estava ocupada demais se recuperando da travesseirada que acabou de levar na cara. - Estávamos na casa dos pais dele! - eu disse, exasperada. - Melhor parar antes que eu te jogue da janela. Ela levantou as mãos, em sinal de rendição. - Não está mais aqui quem falou.
Posted on: Sun, 06 Oct 2013 11:39:19 +0000

Trending Topics




© 2015