Capítulo 18 O PAI DE CAIO, A FUGA E A FLECHA Caio - TopicsExpress



          

Capítulo 18 O PAI DE CAIO, A FUGA E A FLECHA Caio não conseguiu acreditar no que estava vendo. Como Nay conseguiu chegar ali sem ninguém? Ele não sabia abrir portais. A não ser que tivesse sido tirado do Refúgio à força. Se essa última opção fosse a correta, então Danilo e os que ficaram estavam muito machucados, ou talvez todos mortos. Não conseguia acreditar naquilo, seu corpo pareceu flutuar no vácuo, sentiu como se tivessem ligado um ar-condicionado dentro dele em zero grau. Sentiu um gelo por dentro que nunca sentira antes. Era medo. Estava com medo não por ele, mas pelo que pudesse acontecer ao menino. Seus medos e ações sempre estiveram associados às outras pessoas e nos perigos que corriam, nunca parou pra perceber que ele já correu perigo maior e que nesse momento estava na mesma situação que os outros. A expressão de Sarty foi para um terror absoluto. Will também estava com a mesma expressão, e todos olhavam para Caio como se esperasse a qualquer momento que ele fosse explodir, mas todos achavam que não poderia nem se quisesse. Ou tal-vez não, não sabia realmente o que poderia acontecer, ainda não tinha tentado e não desistiria antes mesmo de tentar. A expressão de Singrer era uma mescla de prazer e pavor. Ele olhava de Nay para Caio como se esperasse que Caio a qualquer momento fosse fazer como da outra vez. Ele deu um olhar significativo pra um dos guerreiros que estava perto da porta, e este deu choques no garoto através da bola de força. Caio contorceu-se, mais com a surpresa do que pelo próprio choque. Singrer se esbaldava de rir enquanto Caio levava vários choques, sangue já escorria pelo seu nariz de tanto se debater. Os outros olhavam-no preocupados e assustados, sabiam que de todos eles, Caio era o mais forte, e se tudo aquilo estava acontecendo a ele, neles seria bem pior. Caio estava agora deitado dentro da bolha como um morto, não se mexia. Uma linha fina de sangue escorria de seu nariz caindo em gotas no chão. De repente ele se levantou, Singrer parecia satisfeito, tinha uma expressão de triunfo. Sarty olhava para o chão, incapaz de ver Caio na situação em que se encontrava. Caio ficou de pé novamente, Nay estava agora ao lado de Singrer, amarrado com correntes. Não havia tantos soldados como da outra vez, apenas Singrer, Getty, o servo que trouxe Nay e os sete homens que prendiam Caio e seu grupo de resgate. Sarty encarava o chão e Nay olhava diretamente para Caio que o estava enca-rando também. Will não parecia tão chocado com a presença de Nay ali como Caio estava, ou como da outra vez em que o menino foi preso. Singrer come-çou a andar em volta de Caio como se estivesse procurando algo nele, nin-guém falava nada. De repente, como se tivesse concluído sua observação e constatado que esta-va tudo como ele queria, Singrer parou ao lado de Caio e estendeu a mão direita em direção a Nay. Deu uma olhadela rápida para Caio e lançou uma bola de fogo do tamanho de uma bola de futebol em Nay, que caiu no chão com o impacto. Sarty ergueu a cabeça para olhar o motivo do baque, enquanto os outros, com exceção de Caio gritaram chamando Nay pelo nome. Singrer agora ria abertamente, olhando de Nay para Caio. –Não vai defender seu garotinho precioso? – indagou Singrer zombeteiramen-te, como não ouviu resposta prosseguiu – Sei que entrou nessa de ser guerrei-ro a pouco tempo, então vou lhe explicar uma coisa que tenho certeza que não lhe disseram ainda. – ele caminhou até perto de Nay e parou olhando para Caio. – Nesse tempo todo andei fazendo pesquisas, principalmente durante o que vocês chamam de crime do fogo. Queria saber o que enfraquecia um Ski-der do Fogo, ou o que o fortalecia, cheguei a várias conclusões, uma delas é que choque elétrico enfraquece um guerreiro do Fogo, chega a ser pior até mesmo que a água. E choques dentro de uma bolha de contenção de força como a que você esta agora, tem resultados maiores. Ou seja, você não será capaz de sair daí para salvar Heiviuarly, muito menos para defender seu meni-ninho. – ele aplaudiu sozinho e deu uma gargalhada alta de prazer. Caio fez um ruído na garganta como se a estivesse testando pra ver se ainda funciona-va. –Tenho uma coisinha para lhe contar também. – encarava Singrer de pé como se nada lhe tivesse acontecido, apenas o filete de sangue escorrendo do nariz, mas parecia só o rastro vermelho agora – Nesse meu pouco tempo, descobri várias coisas também. Lago de Vidro, meios de se comunicar, meios de prender uma pessoa tirando sua alma... Pedras de Sol. – Singrer olhava para Caio, mas não tinha o mesmo sorriso no rosto – Descobri meu Moz, graças a você. – Caio estendeu a mão e mostrou uma pequena pedra azul que segurava, tinha um brilho fraco – Essa Pedra de Sol, é a Pedra da cura, não tenho sequela alguma do que me foi feito há pouco tempo. Descobri também que a Fênix é o Moz mais poderoso de todos os existentes, é difícil de matar um e você sabe disso, sabe que em toda a história nunca se ouviu falar de um Skider do Fogo com a Fênix ser morto por alguém, todos morreram de causas naturais e nem todas as suas experiências com os outros Skiders do Fogo se aplicam a uma Fênix. –Muito bem, vejo que andou fazendo a lição de casa, mas, uma bolha dessa segura qualquer um, até mesmo um dinossauro. E, enquanto tenho oportuni-dade, é melhor terminar o serviço que comecei com o seu precioso garotinho. –ele virou-se para Nay e lançou uma bola de fogo um pouco maior que a última. –Você não aprende mesmo não é? – perguntou Caio com as mãos cerradas em punho. Começou a se incendiar. –Você vai se matar idiota, não há como sair daí de dentro. –gritou Singrer vol-tando a gargalhar. –Você sabia que o fogo se apaga quando não há presença de oxigênio? Já parou para prestar atenção no detalhe de que se não houvesse nenhuma abertura para entrada de ar todos nós já teríamos morrido asfixiados? Já parou para pensar que eu sou mais forte que você e nenhuma das suas regras se aplicam a mim? Eu sou a exceção da sua regra de experiências Singrer. Caio encheu toda a sua bolha de fogo fazendo-a explodir como uma bomba e assim lançando todos a certa distância dele. Os guerreiros de Singrer caíram no chão e soltaram seus amigos. Singrer, que tinha batido contra a parede, agora estava de pé novamente. Caio estava ao lado de Nay e seus amigos es-tavam atrás dele servindo como proteção, caso Getty ou um dos outros guerrei-ros tentassem atacar. Nay se levantou como se nada tivesse acontecido a ele, ficou de pé e encarava Singrer sorrindo. –Sempre achei que voltaria a ficar cara-a-cara com você de novo Singrer. –disse Nay – Da outra vez você me julgou incapaz de ser alguém com quem você devesse se preocupar, mas mesmo assim tentou me matar, graças a dois dos seus servos eu consegui fugir e aqui estou eu, quase dez anos depois do nosso primeiro encontro. – Ninguém estava entendendo nada do que Nay falava – Ainda não percebeu nada? Olhe nos meus olhos. – Singrer pareceu obedecer ao garoto e uma expressão de pavor surgiu em seu rosto. –Exatamente! Você fez tudo isso por nada, e eu também tenho uma Pedra da Cura. –disse Nay abrindo uma das mãos e mostrando uma pequena pedra, idêntica a que Caio segurava. De repente, Nay começou a crescer, deixando a todos espantados, e surgiu Mário diante deles. – Eu sabia que a única coisa que seria capaz de fazer Caio se irritar e mostrar sua real força seria você machucando Nay, então, me transformei no menino e vim até aqui para pensarem que eu era ele. Deu certo o meu plano, Caio esta livre e você encurralado. Singrer parecia furioso por ter sido enganado, mas não se moveu, continuou parado observando tudo. Getty e os outros sete guerreiros se aproximaram para atacar, mas Caio os atacou fazendo com que recuassem, Zuyan fez um bloco como se fosse um escudo e o posicionou à porta impedindo que alguém entrasse ou saísse, Getty e os outros estavam do outro lado, ali na sala esta-vam apenas eles, Sarty ainda acorrentado na parede e Singrer. Zuyan ficou perto da porta segurando o enorme bloco que impedia a passagem. Helena, Will, Eduardo, Mário, Narílio e Berg estavam a postos, cada um vigiando duas janelas e Caio estava frente a frente com Singrer mais uma vez. –Vocês adolescentes acham que são os maiores guerreiros do mundo. – disse Singrer para ninguém em particular – Acham que são as únicas pessoas capa-zes de salvar o mundo. –Sem enrolação Singrer, você já... –Você não vai me dar ordens garoto. Não recebo ordens de ninguém, e de vo-cê, menos ainda... Tenho que admitir que estou bastante surpreso que não conheça a verdade. –Que verdade? Não há nada que eu deveria saber e já não saiba. –Há, há sim! – ele virou-se para Sarty – Achei que você tivesse contado tudo a ele. –Não sei do que você esta falando. – disse Sarty agora livre, estava ao lado de Eduardo. –Sobre o pai dele, achei que tivesse contado quem é o pai dele. –Quem é? Quer dizer que ele ainda esta vivo? –perguntou Caio. –Eu não sei nada sobre o pai dele, não o conheço, nem nunca conheci. – disse Sarty. –Pensei que você fosse Skider do Vento, Águia não vê as coisas? –perguntou Singrer a Sarty. –Vê o futuro, não o passado. –Aí é que você se engana, o meu vidente particular pode ver tanto o futuro quanto o passado. –disse Singrer todo sorrisos. –De qualquer forma não sei quem é, ou quem foi o pai de Caio. –disse Sarty. –Conhece sim, só não sabe que ele é o pai de Caio César Souza. –Como é que você sabe o meu nome? –perguntou Caio intrigado. –Por que eu, Caio César Souza de Alencar, ou comumente chamado de Sin-grer, sou o seu pai... Surpreso filhinho? Não teria coragem de matar o seu pai teria? Todos na sala pararam, ninguém falou nada. –Que foi, ficaram chocados com a notícia? – perguntou Singrer voltando à sua pose de quem esta no poder. –Você não é o meu pai! Não posso ser filho de um assassino frio e calculista. –Não precisa me elogiar. –Caio, não acredite, ele esta tentando te enganar –gritou Zuyan da porta –Não se esqueça do que ele realmente é. –Cale a boca idiota! –gritou Singrer – Acha realmente que eu diria que ele é meu filho se ele realmente não fosse? Acha que eu teria prazer em ter um filho covarde como ele? Que teve oportunidade de matar em todo esse tempo e não teve coragem. –Caio olhou para Singrer, nos olhos. –É, eu sei, sei que você não me matou por que não tem coragem. –Não o matei por que não sou como você, eu não sou um assassino. –Sei disso, você é um covarde... Como vai a sua mãe, soube que estava no hospital, é verdade? O que aconteceu com ela? –COMO SE NÃO SOUBESSE! –gritou Caio – Ela esta no hospital por sua cul-pa! –Minha culpa? Como pode ser minha culpa se eu a abandonei antes de você nascer? Silêncio. –Aquela carta que mandou, o que queria dizer? –perguntou Caio. –Carta? A última vez que escrevi para Maria foi há dez anos! –Não pode ser, eu a li no mesmo dia em que descobri que era Skider. –Caio, acho que pode ter sido realmente há dez anos. –disse Zuyan – Lembra que vocês apareceram pela primeira vez no Império porque Mário tinha recebi-do uma carta de Carlos César? E ele tinha escrito há dez anos. –Meu irmão andou escrevendo? Pra quê, pedir ajuda? –perguntou Singrer olhando para ninguém em particular. –Carlos é seu irmão? –perguntou Caio. –Puxa vocês realmente estão desinformados. –disse Singrer olhando para Caio –Exato, ele é meu irmão e seu tio, e até onde lembro, você deve ter mais um irmão, mas ele talvez não seja Skider, acho que o serviço nele foi completo e não um serviço medíocre como fizeram em você. –Que serviço? –Ora “que serviço?”. –disse Singrer estagnado – Mandei interferirem nos dois para que nunca despontassem seus dons, mas aqui esta você não é. Vou ter uma conversinha com a pessoa que ficou responsável pelo serviço em você. –Se tudo isso é verdade, qual é o nome do meu irmão? –perguntou Caio. –E como é que eu vou saber? –perguntou Singrer parecendo óbvio. –Acha que eu fiquei procurando por vocês para mandar uma mesada todo mês? Só sei o seu nome por que você apareceu aqui, e depois que mostrou quem realmente era, eu vi tudo, ou pelo menos acho que foi tudo, quando li sua alma. –Leu minha alma? –perguntou Caio intrigado. –Ah meu santo fogo! –exclamou Singrer – Você conhece poucos truques hein? Lembra-se de quando olhei nos seus olhos quando apareceu aqui mostrando seu dom? Eu estava lendo a sua alma... Bem que você poderia ter herdado um pouco da minha beleza não é? – perguntou Singrer parecendo insatisfeito – Espero que seu irmão tenha tido mais sorte quanto a isso. – Singrer se aproximou mais de Caio até ficar a poucos centímetros dele – Você tem muita coisa a aprender, posso te ensinar tudo. Ao meu lado você não vai ter que se preocupar com ninguém lhe perseguindo ou com prisões. Posso ser um bom pai, um pai melhor do que Getty, aliás, ele nunca teve prazer em ter alguém com o mesmo sangue dele, mas eu não; posso dar tudo que você nunca teve, o que acha? –Caio, não faça isso – disse Mário. –Ele só mente Caio, não acredite. –disse Zuyan. –Calem-se. –disse Caio – Seria uma boa recuperar o tempo, nesses quase dezessete anos nunca tive um pai ou uma mãe ao meu lado... Imaginei várias vezes quando precisei, que havia alguém do meu lado... –Exato, eu posso ser essa pessoa... –Cale-se! – disse Caio assustando a todos. – Eu disse que imaginei, mas sem-pre tive alguém do meu lado. Alguém que sempre se importou comigo e não alguém que me abandonou e mandou que atrapalhassem a minha vida... Danilo sempre esteve ao meu lado quando eu precisei. Eduardo, César, Danielly, Charles, Marianny... E Mário. Mário tem feito papel de pai muito bem em todos esses anos. Que importa se é o seu sangue que corre em minhas veias? Não pode me transformar em você, e nunca deixarei que faça isso. –Caio estendeu as duas mãos e antes que alguém conseguisse falar alguma coisa, ele se incendiou e se jogou contra Singrer. A força foi tanta que fizeram um buraco na parede e despencaram, os dois juntos. Com exceção de Zuyan que segurava um bloco impedindo a entrada de Getty e os servos de Singrer, todos correram para onde havia sido o feito o buraco. Estavam no topo do castelo, a queda era alta dali, a única coisa que conse-guiam distinguir era algo brilhante, talvez Caio ou Singrer, ou os dois, estavam em chamas a uma longa distância. Caio e Singrer estavam engalfinhados no chão, nenhum dos dois com muitos ferimentos, a capacidade de Singrer voar fez o impacto com o chão ser menor. Os dois estavam em chamas, mas antes mesmo que Caio pudesse atacar, Singrer se preparou para sair voando e fugir como da outra vez. Quando percebeu o que estava para acontecer, Caio se lançou sobre ele no último instante. Os dois saíram voando, mas não estavam se distanciando do castelo, Singrer estava indo em direção à sala onde estava seu trono, que fica-va do lado oposto de onde seus amigos estavam. Caio não entendia o porquê daquilo, mas sabia que Singrer tinha algo em mente e que dessa vez quem teria que fugir era ele, pelo mesmo por enquanto. Não podia se entregar à mor-te agora, era cedo demais e estava preocupado com o que pudesse acontecer aos seus amigos se morresse agora. Estavam apenas os dois naquela sala que antes de chegarem, estava escura, e como os dois estavam em chamas, a sala agora estava iluminada. Caio ficou imaginando o que Singrer estava tramando e ao mesmo tempo tentava imagi-nar um meio de sair dali vivo. Não sabia voar, pelo menos não ainda, nunca tinha tentado. Estava perto da porta, será que conseguiria fugir correndo pelas escadas? Enquanto pensava em como fugir, Singrer apenas observava-o, não falava nada, não fazia nada, apenas o olhava. Enquanto pensava, viu uma pequena luz surgir diante de si e uma miniatura fantasmagórica de Zuyan aparecer. –Caio, estamos do lado de fora do castelo. –Zuyan? – Singrer se assustou ao ouvir Caio falar, não podia ver o que Caio via – Como conseguiram? –Isso não interessa agora, acha que consegue fugir? –Vocês estão bem? –Caio, responde a minha pergunta. Não dá pra fazer papel de herói agora, Singrer deve ter armado alguma coisa, sem contar que ele quer matar Sarty. –Eu tenho um plano, talvez dê certo! –Ok, estamos a uns cinquenta metros à direita do portão principal, seja rápido! Assim que Zuyan sumiu, Caio se apagou, deixando a iluminação por conta de Singrer. Já havia estado ali antes e lembrava-se de algumas coisas, como por exemplo, uma minúscula fenda entre duas paredes perto daquela sala. O plano que tinha em mente era sair da sala e esconder-se na fenda, privatizar-se e esperar Singrer passar, quando ele passasse, voltaria à sala e pularia pela janela, tentaria voar, não tinha certeza se sabia, mas se arriscaria. Ele saiu correndo da sala e percebeu que Singrer não esperava por aquilo, conseguiu se esconder como tinha planejado. Quando viu a ofuscante luz das chamas de Singrer sumindo enquanto ele descia as escadas, Caio retornou à sala e parou diante do janelão. Teria que ser rápido, sabia que Singrer poderia sentir a força do seu dom. Incendiou-se e pulou. Enquanto ia caindo, abriu os braços e fez tentativas como se estivesse querendo bater asas, exatamente como um pássaro. Não adiantou nada. O que amorteceu a queda foi ele ter caído em cima das copas de algumas árvores próximas. Seus amigos já estavam correndo em sua direção, tinham visto a luz do fogo e correram. Mas ainda havia um pequeno detalhe que tinham esquecido; os outros guerreiros que foram antes deles para salvar Sarty. –Não se preocupe com isso Caio, esta tudo bem! –disse Sarty. –Como não vou me... Onde esta Zuyan? –Ele esta cuidando de tudo, talvez já estejam livres e a caminho do Lago, ele conhece esse lugar melhor do que nós, sabe de cor os caminhos mais curtos. E quanto a nós, temos que ir logo, todos se privatizem rápido e vamos correr daqui. Cortaram caminho por entre as árvores onde estavam. Todos estavam corren-do rapidamente sem nem olhar pra trás. Caio estranhou que não houvessem sido seguidos por ninguém. Estavam diante do Campo do Fogo, tinham que atravessá-lo para chegar ao Lago de Vidro. Caio ainda segurava a pequena pedrinha azul na mão direita. Viram Zuyan e um bando de umas quarenta pes-soas se aproximando dos pinheirais pelo outro lado. Já estavam bastante próximos aos pinheiros quando viram umas dez pessoas aparecerem à orla do Campo do Fogo. Daria tempo fugir, até onde sabiam Sin-grer e seus servos não conseguiam ver o Lago ou os pinheiros. Estavam bas-tante próximos quando Caio viu um flash rápido passando. Era uma flecha em chamas. Virou-se para ver a distância de Singrer, percebeu que ele não estava tentando alcança-los, caminhava tranquilamente com seus guerreiros. Quando voltou sua atenção para o caminho aos pinheirais notou algo errado. Sarty estava parado e Mário ao seu lado o segurando. A flecha em chamas que tinha visto passar atingiu Sarty, bem no meio das costas. Sangue escorria através da roupa em tom pastel que usava. Mário passou o braço de Sarty em volta do pescoço e o carregou até estar no perímetro protegido. Caio ficou parado onde estava, não se moveu em direção ao Lago e nem em direção a Singrer. Virou-se novamente para ver a que distância Singrer se en-contrava agora, estava a uns cem metros. Caio não sabia o que realmente es-tava sentindo, não sentia raiva como da vez em que Nay foi atacado, mas sen-tia algo diferente dentro de si que não sabia distinguir exatamente o que era. Seria tristeza ou medo? Acabara de ver o homem que ele julgava ser imortal ser atingido por uma flecha, sabia que ele estava morrendo. A pessoa que apesar de conhecer a tão pouco tempo, tinha aprendido a ouvir e a gostar. Ele então viu enormes labaredas enchendo o campo ao seu redor. Todo o campo à sua frente estava em chamas, ele não se preocupou, quase que me-canicamente estendeu as mãos, e como num passe de mágicas viu o fogo sendo recolhido como se fosse água escorrendo em alguma abertura no chão. O fogo sumiu. Singrer começou a atacar, seu alvo agora era Caio. Caio não queria lutar, ou revidar, queria se deixar levar, queria apenas sentir aquele fogo atingindo seu corpo e a morte o chamando pelo nome ao seu ouvido. Queria entregar-se à outra dimensão, uma dimensão que ninguém vivo conhecia, e os que conheciam não podiam retornar para dizer como era estar morto. Lembrou-se de todas as pessoas que amava, mas não sentia exatamente amor, estava de luto e queria também ser um motivo para luto. Nunca teve medo da morte. Na verdade Caio não era corajoso; corajosa é aquela pessoa que consegue superar seus medos, Caio simplesmente não sentia medo. Tinha a morte como apenas uma passagem de uma vida para outra, não via a morte como algo ruim, mas algo comum e normal, não havia motivos para ter medo de morrer, todo ser humano um dia morre. Ele sentiu os ataques de Singrer o atingindo, sentiu ser jogado ao chão e sentia o corpo arder. Não queria revidar, estava se entregando a um novo mundo, estava indo para um novo nível. Mas, de repente tudo parou, ele continuava a ver as chamas, continuava a ver a flamejante luz que elas emitiam, mas não estavam mais acertando o seu corpo, era como se estivesse com um escudo ao seu redor, um escudo invisível. Sentiu alguém o levantar pelo braço e o guiar, e de repente a luz sumiu. A única luz agora vinha do céu, estava amanhecendo, o céu estava clareando e iluminando o Lago. Sarty estava deitado à beira do Lago, a roupa manchada de sangue. Caio se perguntou por que ninguém tinha usado a água do Lago para curá-lo, ou então usado a Pedra azul que Mário tinha consigo. Caio ajoelhou-se ao seu lado, achou que ele já estava morto, mas ainda respirava. –Caio... Você esta... Bem? –Estou, mas e você? Vai morrer. Não há como impedir? –Não... Minha única tristeza... É que eu não estou... Devidamente vestido... Pra esse momento tão... Importante... Estou... Mas Caio nunca soube qual era o final daquela frase, Sarty expirou e morreu.
Posted on: Sun, 23 Jun 2013 05:17:17 +0000

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