Carta ao príncipe encantado (Do livro Certas incertezas) Por - TopicsExpress



          

Carta ao príncipe encantado (Do livro Certas incertezas) Por acaso estive pensando em você. Aproveito e reafirmo nesta carta o meu ego inflamado com as suas constantes ausências. Ausentou-se da minha quase crença neste amor, sentimento bipolar, cheio de status, nômade e que sempre aparecia inesperadamente, quando estávamos distraídos numa esquina qualquer, brincando de ouvir Jason Marz e a última da Marisa Monte. Encantado, por sua causa eu comecei a ouvir blues e rock and roll. Rendi-me definitivamente à vitrola de vinil, tocando sozinha a mais bonita canção,e tomei coragem para fazer uma reforma em meus critérios, vencendo os dissabores vividos em romances decotados de amores sem fim. Cheguei à conclusão de que ainda havia em mim um sentimento, dois ou até três talvez. Alegria, dor ou amargura e mais um milhão de carências endoidecidas que não haviam passado com o tempo, nem por teimosia. Embalada em seu convívio, resgatei minha ingenuidade, que imediatamente entrou em sintonia com a sua experiência de amor. Não me importei com isso e tampouco com a sentença de que o nosso amor tinha dia pra acabar. Um amor tão bonito não estava disposto a deixar isso acontecer, pois havia afagos, trocas, tanta química que nem eu presumia o seu modo itinerante e passageiro. Encarar os fatos era a questão. Assumo que sou horrível para encarar, principalmente quando a vitrola cantava a última da Alicia Keys e as fotos sobre a mesa estão amareladas com a saudade do meu olhar. Fiquei lembrando o nosso memorável romance,que era impossível não medir pela intensidade. Embarquei nesta “eu gosto de você”, sem pedir permissão e sem consentimento explícito. Era tarde demais para fazer isso. Estimado príncipe, supondo ser você a pessoa certa, gastei todos os meus improvisos para surpreendê-lo. Quis acomodá-lo na minha história afetiva que mais parece uma tarjeta de três atos. Como remédio para minha redenção, materializei seu cheiro de tal modo que fechava os olhos, lembrando-me de você. Inquiria sua presença, fervilhando de desejos, quase incapaz de resistir. Quando pedi para você cuidar de mim, comprimia meu diafragma, esperando uma resposta, um aceno, um sim como remédio. Nesses momentos, eu me iludi, e você me esqueceu. Exausta que fico, não apenas das lembranças que estão por aí no meu armário, travesseiro, agenda, celular. Bastou isso para me render um bocado de saudades. Saudades e raiva. Hoje, se você voltasse, eu teria a oferecer a minha dor, aliás, ela é minha. Nada teria a oferecer. Calma, isso não é uma inquisição. Voltar é para quem não perdeu o caminho de volta, e ficar é para quem quer. Por acaso deixei o celular ligado. Os seus dedos podem acionar as teclas, e o inesperado acontecerá. Eu não sei bem o eu queria dizer com esta carta, amassada, retocada, inflamada, e neste momento eu desejo a você um sentimento de obrigação para reagir e contrapor minhas teorias com uma resposta malcriada, dizendo que meu conhecimento sobre o amor é errado. Desgraçado príncipe, violentando a minha lógica, me precipito e digo: tomara que você fique triste. Tomara que você fique solitário. Tomara que se lembre, tomara que se perca. Tomara que o deixem. Tomara que leve um fora. Tomara que sinta saudades. Tomara que volte. Ita Portugal
Posted on: Sun, 29 Sep 2013 22:07:08 +0000

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