Carta do soldado ferido. Eu já não tenho espaço - TopicsExpress



          

Carta do soldado ferido. Eu já não tenho espaço para cicatrizes,neste momento terrível, meus nervos doem, meus músculos tremem, sangue escorre pelo meu nariz,mas não sei se o gosto que sinto vem daí ou da boca arrebentada por golpes duros e precisos. Meu fuzil já nem pesa mais, me acostumei... mas a munição acabou. Meus amigos e irmãos de brigada também não podem me ajudar, talvez não vejam, muitos tentam, mas não conseguem chegar até onde estou, acuado. Meu grito feroz de outrora não passa de um gemido de dor infinita. Será que vou morrer? Contra mim um exército jovem, forte, bem treinado, bem armado, bem alimentado, e eu, um velho guerreiro vendo faíscas de ódio e felicidade nos olhos daqueles que sempre me quiseram para troféu. Busco água, mas há dias o meu cantil está vazio, após um tiro certeiro atingi-lo. O comandante inimigo gargalha e pergunta: “Guerreiro de elite, o que fará agora? Vim aplicar sua sentença.” Eu queria pelo menos ter um cartucho para matá-lo e livrar o resto dos meus amigos... antes de morrer. Aquele contra quem eu guerreei e venci ao longo da vida, em diversos campos de batalhas, próximos ou longínguos, agora tinha minha vida nas suas mãos, para acabar. Um deles murmurava com outro: “Ele nunca foi assassino, sempre honrou sua farda.” O outro riu e rosnou: “Vai morrer do mesmo jeito..o um cão.”Entre milhares de batalhas, pela primeira vez senti o fedor do inimigo em posição de vitória, e ví o facho de laser vermelho cintilar em meus olhos. O capacete também já havia ficado pelo lamaçal. De todas as batalhas, percebi que esta era a última, e meus amigos não conseguiam chegar até mim. A estratégia do inimigo foi muito boa, conseguiram separar-me do meu grupo e me empurrar para a lama, onde é difícil de caminhar. Vejo alguns deles “estraçalhando” carne assada com os dentes e rindo de mim, pois sabiam da minha fome. Procuro minha porção de ração, num último esforço para me fortalecer e lutar, mas meu suprimento já acabara há dois dias. Ouve-se, então, uma estrondosa gargalhada por todo o exército inimigo, em escarnecimento ao meu gesto. Minhas condecorações ainda brilhavam em meus ombros, mas neste momento nada podiam fazer por mim. Minha Colt . 45 estava vazia. Quem via de fora, podia até dizer: “É um animal cercado por caçadores.” Então, ouviu-se uma grande explosão e um grito no meio do exército inimigo: “É artilharia pesada! Protejam-se!” Por alguns momentos eles me deixaram, não fazia mesmo diferença, eu não podia sair dali...” E a batalha continuava feroz e sangrenta, será que o meu exército me encontraria? Seria esta a última batalha de um velho, cansado, ferido e faminto guerreiro?
Posted on: Thu, 26 Sep 2013 20:26:28 +0000

Trending Topics



>

Recently Viewed Topics




© 2015