Claro que um título destes é, nos dias que correm, mais apelativo e potencialmente mais comercial, mas, a julgar pela apresentação animada e pelo que se consegue perceber do conteúdo e alcance do livro no link abaixo, quer-me parecer que um título mais justo seria Manual para Criar Filósofos, uma vez que o problema de pretender saber aquilo que verdadeiramente não se sabe, que é como o autor define crença ou fé, não é propriedade exclusiva da crença ou fé religiosa, mas sim de toda e qualquer crença, seja ela de que tipo for, pois, como sabiamente confessou S. Agostinho a propósito do tempo, todos parecemos saber tudo desde que ninguém nos pergunte nada (ou nós nos perguntemos), já que logo que alguém o faz e somos confrontados com a necessidade de responder de forma racionalmente justificada e não simplesmente a tentar preencher o vazio da nossa ignorância com uma ilusão de conhecimento a que chamamos opinião, então parece que a nossa certeza subjectiva rapidamente se transforma numa dúvida objectiva quanto ao valor de verdade da opinião a que irracional e injustificadamente aderimos. Ora, como esse procedimento crítico e interrogativo vale para todas as crenças e opiniões fundamentais que possuímos, tendo adquirido, pelo menos desde Sócrates, o nome de filosofia, logo, mesmo aquilo que autor chama street epistemology não passa afinal de outro nome para filosofia, pura e dura.
Posted on: Sun, 03 Nov 2013 12:21:46 +0000
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