Como aconteceu a revolução silenciosa da Islândia;;;; - No - TopicsExpress



          

Como aconteceu a revolução silenciosa da Islândia;;;; - No final de 2008, os efeitos da crise na economia islandesa são devastadores. Em Outubro nacionaliza-se Landsbanki, principal banco do país. O governo britânico congela todos os activos da sua subsidiaria IceSave, com 300.000 clientes britânicos e 910 milhões de euros investidos por administrações locais e entidades públicas do Reino Unido. A Landsbanki seguir-lhe-ão os outros dois bancos principais, o Kaupthing e o Glitnir. Seus principais clientes estão nesse país e na Holanda, clientes aos que seus estados têm que reembolsar suas poupanças com 3.700 milhões de euros de dinheiro público. Por então, o conjunto das dívidas bancárias de Islândia equivale a várias vezes seu PIB. Por outro lado, a moeda desaba-se e a carteira suspende sua actividade depois de um afundamento de 76%. O país está em bancarrota. - O governo solicita oficialmente ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que aprova um empréstimo de 2.100 milhões de dólares, completado por outros 2.500 milhões de alguns países nórdicos. - Protestantes em frente ao parlamento em Reykjavik sempre a aumentar. Em 23 de Janeiro de 2009 convocam-se eleições antecipadas e três dias depois, as caçaroladas já são multitudinárias e provocam a demissão do primeiro-ministro, o conservador Geir H. Haarden, e de todo seu governo em bloco. É o primeiro governo que cai vítima da crise mundial. - 25 de Abril celebram-se eleições gerais das que sai um governo de coalizão formado pela Aliança Social-democrata e o Movimento de Esquerda Verde, encabeçado pela nova Primeira Ministra Jóhanna Sigurðardóttir. - Ao longo de 2009 continua a péssima situação econômica do país e no ano fecha com uma queda do PIB de 7%. - Mediante uma lei amplamente discutida no parlamento propõe-se a devolução da dívida a Grã-Bretanha e Holanda mediante o pagamento de 3.500 milhões de euros, soma que pagarão todas as famílias islandesas mensalmente durante os próximos 15 anos ao 5,5% de interesse. Os cidadãos voltam à rua e solicitam submeter à lei a referendo. Em Janeiro de 2010 o Presidente, Ólafur Ragnar Grímsson, nega-se a ratificá-la e anuncia que terá consulta popular. - Em Março celebra-se o referendo e o NÃO ao pagamento da dívida arrasa com um 93% dos votos. A revolução islandesa consegue uma nova vitória de forma pacífica. - O FMI congela as ajudas económicas à Islândia, à espera de que se resolva a devolução da sua dívida. - A tudo isto, o governo iniciou uma investigação para dirimir juridicamente as responsabilidades da crise. Começam as detenções de vários banqueiros e altos executivos. A Interpol dita uma ordem internacional de detenção contra o ex-Presidente do Kaupthing, Sigurdur Einarsson. - Neste contexto de crise, elege-se uma assembleia constituinte no passado mês de Novembro para redigir uma nova constituição que recolha as lições aprendidas da crise e que substitua a actual, uma cópia da constituição dinamarquesa. Para isso, recorre-se directamente ao povo soberano. Elegem-se 25 cidadãos sem filiação política dos 522 que se apresentaram às candidaturas, para o qual só era necessário ser maior de idade e ter o apoio de 30 pessoas. A assembleia constitucional começa o trabalho este mês de Fevereiro de 2011 e apresentará um projecto de carta magna a partir das recomendações acordadas em diferentes assembleias, que celebrar-se-ão por todo o país. Deverá ser aprovada pelo actual Parlamento e pelo que se constitua depois das próximas eleições legislativas. - E para terminar, outra medida "revolucionária" do parlamento islandês: a Iniciativa Islandesa Moderna para Meios de Comunicação (Icelandic Modern Média Initiative), um projecto de lei que pretende criar um marco jurídico destinado à protecção da liberdade de informação e de expressão. Pretende-se fazer do país, um refúgio seguro para o jornalismo de investigação e a liberdade de informação onde se protejam fontes, jornalistas e provedores de Internet que hospedem informação jornalística; o inferno para EEUU e o paraíso para Wikileaks. Pois esta é a breve história da Revolução Islandesa: demissão de todo um governo em bloco, nacionalização da banca, referendo para que o povo decida sobre as decisões económicas transcendentais, encarceramento de responsáveis da crise, reescritura da constituição pelos cidadãos e um projecto de blindagem da liberdade de informação e de expressão. Disseram algo os meios de comunicação europeus? Comentou-se nas repugnantes tertúlias radiofónicas de políticos de médio cabelo e mercenários da desinformação? Viram-se imagens dos factos pela TV? Claro que não. Deve ser que aos Estados Unidos de Europa não lhes parece suficientemente importante que um povo pegue as rédeas da sua soberania e plante contra o rolo neoliberal. Ou quiçá temam que se lhes caia a cara de vergonha ao ficar uma vez mais em evidência que converteram a democracia num sistema plutocrático onde nada mudou com a crise, excepto o início de um processo de socialização das perdas com recortes sociais e precarização das condições de trabalho. É muito provável também que pensem que ainda fique vida inteligente entre as suas unidades de consumo, que tanto gostam em chamar cidadãos, e temam um efeito contágio. Ainda que o mais seguro é que esta calculada desvalorização informativa, quando não silêncio clamoroso, se deva a todas estas causas juntas. Alguns dirão que Islândia é uma pequena ilha de tão só 300.000 habitantes, com uma estrutura social, política, económica e administrativa muito menos complexa que a de um grande país europeu, pelo que é mais fácil organizar-se e levar a cabo este tipo de mudanças. No entanto é um país que, ainda que tem grande independência energética graças a suas centrais geotérmicas, conta com muito poucos recursos naturais e tem uma economia vulnerável cujas exportações dependem num 40% da pesca. Também haverá quem dirá que viveram acima de suas possibilidades endividando-se e especulando no casino financeiro. Igual que o fizeram o resto dos países guiados por um sistema financeiro liberado até o infinito pelos mesmos governos irresponsáveis e suicidas que agora se jogam as mãos à cabeça. Eu simplesmente penso que o povo islandês é um povo culto, solidário, optimista e valente, que soube rectificar-lhe mostrando valentia, indo contra ao sistema e dando uma lição de democracia ao resto do mundo. O país já iniciou negociações para entrar na União Européia. Aguardo, por seu bem e tal e como se estão a pôr as coisas no continente com a praga de vigaristas que nos governam, que o povo islandês complete sua revolução recusando a adesão. E oxalá ocorresse o contrário, que fosse a Europa a aderir à Islândia, porque essa sim seria a verdadeira Europa dos povos. Fonte: NSMB Tradução do Diário Liberdade, rectificado
Posted on: Mon, 24 Jun 2013 04:10:21 +0000

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