Comunidade Presença física não estabelece comunidade. O - TopicsExpress



          

Comunidade Presença física não estabelece comunidade. O discurso é o leito em que discorrem apelo e resposta. Se os fios do discurso se cortam, se em lugar do rio poços se isolam, sofre-se o flagelo da seca, a voz emudece, a vida não resiste à morte. O apelo soa no interesse do um, ata os fios que no conjunto formam a corrente do grande rio. No Discurso, ausências enfrasadas fazem- se presenças efetivas. Do Discurso com o qual assiduamente convivem, pois governa tudo, deste se afastam, e as coisas com as quais se defrontam todos os dias, estas lhes parecem estranhas (B 72) De um lado está o Discurso. Ele atravessa (dioikounti) a casa que habitamos. Reúne todas as casas. Não atravessa por atravessar, mas atravessa para administrar, para arranjar, para pôr as coisas no seu devido lugar. Produz arranjos semelhantes às palavras dispostas na página escrita. Discurso é estrutura, é reunião. O Discurso profere-se a si mesmo. Ainda que esquecido, desprezado ou ignorado, o Discurso governa. Articulado em nós e fora de nós, nele vivemos e convivemos. No andar, no atar e reatar, ele se constrói. Como entender, desinformados de sua sintaxe? Desinformados, onde buscar o sentido do que sentimos? Resguardada fica a distância estratégica, essa que tomamos para observar melhor. Mas a advertência vale para a dispersão, o recuo sem retorno. Os que convivemos com coisas, com partes do todo, estamos na outra extremidade do Discurso. Coisas que nos deveriam ser familiares fitam-nos com olhares estranhos quando desconhecemos os elos que as vinculam. Comportamo- nos como pessoas que passam os olhos numa página escrita em outra língua; embora reconheçamos as letras, ignorantes das leis que as unem, escapa-nos o sentido. Andamos, assim, como estrangeiros no mundo que é nosso. Estamos no mundo e não estamos. Fechadas as portas da casa de todos, encerramo-nos na nossa. Estrangeiros no mundo, estranhamos os entes que nos cercam. Constatá-los na ponta dos dedos, degustá-los, bailar ao ritmo dos sons, participar da festa das cores não basta. Os que recusam o convite ao simpósio do Discurso obstinam-se a viver em poços de água estanque. Ora, o estranhamento é o princípio do saber . Quem tem olhos para o estranho sabe. Só os adormecidos não estranham. A seus olhos sonho e realidade não se distinguem, perceptíveis só aos atentos ao Discurso.
Posted on: Sat, 06 Jul 2013 00:32:15 +0000

Trending Topics




© 2015