Decidi ouvir o que as fodidas tinham a me dizer, pelo afeto que - TopicsExpress



          

Decidi ouvir o que as fodidas tinham a me dizer, pelo afeto que nutro por essa figura branca (sim, racista também isso). Botei o ego de lado. Pisei fora da zona de conforto, do meu esquema explicativo perfeito de mártir (existe feminino de mártir?). Escutei a Hill Collins. Reli Alice Walker. Fui atrás da Rosa Parks. Pesquisei Nina Simone. Me enfiei na história dos Panteras Negras. Assisti de novo Mississipi em Chamas, Uma Outra História Americana, tudo que eu tinha do Spike Lee. Me inscrevi em feeds de sites e blogs brasileiros sobre racismo e identidade racial – esses que antes eu sequer acessava, já que “não eram dirigidos a mim”, pela mesma visão limitada de quem acha que, sendo branco, não tem nada a ver com o dia da consciência negra. Peguei o Darcy Ribeiro da estante. Quase vomitei com a memória de tudo aquilo que meu cérebro havia, de forma traiçoeira, relegado “aos outros” quando aprendi na escola. Não eram os outros. Era eu. Nas páginas de Casa Grande e Senzala, eu era a moça na liteira. Eu era o personagem de Di Caprio em Django Livre, ou era também o branco salvador da pátria (ou pior, dos negros) interpretado por Chirstopher Waltz — ambos essencialmente racistas. Eu era a sinhá que eu tanto desprezava nas novelas de época. Eu era a imigrante italiana da novela, cujos descentes puderam acreditar no mito do mérito, já que sua cor de pele lhe dava contrato, trabalho assalariado, possibilidade concreta de compra de terras e direito de frequentar escolas, o que não era assegurado às populações negras na mesma época. Eu era, enfim, de volta ao século XXI, a moça que podia andar na rua sem ser abordada pela polícia. Que sabia que, a qualquer sinal de problema, chamar a polícia representava mais risco ao outro do que a mim mesma. outraspalavras.net/destaques/consciencia-negra-para-feministas-brancas/
Posted on: Wed, 20 Nov 2013 11:55:30 +0000

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