Depois da reportagem do Fantástico sobre o vocabulário cearense, - TopicsExpress



          

Depois da reportagem do Fantástico sobre o vocabulário cearense, volto a trazer algo que já tem alguns anos que escrevi!! No meu Ceará não tem disso não! Luiz Rufino Uma vez escutei de um companheiro de turma na universidade a seguinte expressão, cearense tem em tudo que é lugar! A fala do rapaz impregnada de preconceito sobre o povo nordestino, pois para ele toda região do nordeste estava resumida ao estado do Ceará, ia de encontro ao meu orgulho expresso no rosto, de ser filho, neto, bisneto... De nordestinos que como diz a expressão típica não falham no trato. A intenção da fala foi à mesma de outras que escutei durante a minha vida, inferiorizar a minha condição de descendente e estigmatizar os aspectos identitários que carrego, que ao contrário do que ele e outros pensam não me invisibilizão e sim me positivam. A questão da peleja é que sempre tive em casa uma educação anti-discriminatória, não por elaboração de uma pedagogia que desse conta dessas questões, mas pela presença dos referenciais culturais transmitidos de geração em geração, referenciais esses que estavam presentes no cotidiano, no brincar, no comer, no vestir, no rezar, no ouvir, no pedir e receber a benção. Lá em casa, criança brincava ao som de Luiz Gonzaga, segunda-feira era o dia de encontro da família, pois é dia de folga de garçom, profissão exercida até hoje por meu pai e tios. As reuniões eram regadas a baião de dois, farofa de pilão e queijo de coalho, que era vulgarmente chamado por nós crianças, de queijo do Tio Antônio Ciço, em referência ao senhor que fazia o comércio de bens vindos lá da terrinha. A sobremesa era alfenim, doce de mamão com cocô, rapadura e muito suco de caju. As histórias que escutávamos tinham como heróis Lampião, Antônio Silvino, Corisco, Maria Bonita, Frei Damião, Padre Cícero. Esse último intimamente chamado de Padim Ciço, o mesmo presente nas novenas, ladainhas, orações e santinhos enviados por minha avó. Há pouco tempo escutei dela mesma uma história de seu tempo de infância, que remetia ao falecimento do santo nordestino. Arte para nós são os bordados, as rendas, os bicos, as pinturas, feito em toalhas, lençóis e redes, as gaiolas de madeira e as tarrafas produzidas por meu pai. Mais tarde conhecíamos os bonequinhos de Mestre Vitalino, Zé Caboclo e toda escola de Caruaru, cidade de uma Tia, que sempre me contava como é bom o forró de lá. Por falar em música, nossos ouvidos eram acostumados ao som do rei do baião, de Genival Lacerda, Jacson do Pandeiro, Barto Galeno, Emilinha e muitos outros. Fomos educados com base no prefixo cearense, Bendito seja nosso senhor Jesus Cristo! Para sempre seja Deus louvado! Nossa cidade lá é Ipueiras, próximo ao Ipu terra da Bica, do poeta Gonçalo Ferreira, espreitada pela imponente Serra da Ibiapaba. Nosso vocabulário é rico em enfiar peido em cordão, em pagar as alviças, em pelar um cibito, em escutar cantiga de grilo, em botar boneco, em queimar a pitiaca, em belescuetar, em não fazer empenhem, em ler a bonadiça, e em aí vaí é mermo! Aprendi que peleja se dá com quem sabe, ou seja, que o jogador conhece o jogo pela regra. Para quem desconhece, mas mesmo assim teima em pelejar me aproprio da fala de Luís da Câmara Cascudo ao mencionar que, psicologicamente o brasileiro é um ser regional e fisiologicamente é universal. O outro ponto para dar fim à conversa é como lembra o verso que diz, é que eu nasci entre o velame e a macambira, quem é você pra derrubar meu mungunzá! Axé!!!
Posted on: Mon, 23 Sep 2013 01:21:04 +0000

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