(Digno à altura... #sem #mais) Sobre ignorância, - TopicsExpress



          

(Digno à altura... #sem #mais) Sobre ignorância, preconceito, e o “frio no fim do mundo”. Resposta ao (Professor?) Nazareno Por Marcio Secco Antes de qualquer coisa deixo claro que não conheço esse senhor que é identificado como Professor Nazareno. Escrevo, portanto, uma resposta ao autor do texto, e não à pessoa. Vou dividir em duas seções o que tenho a dizer, e tentarei ser sintético, apesar de eu ter, como é sabido por muitos, uma certa dificuldade para me expressar em poucas palavras. A alcunha de professor, atribuída ao autor do texto ao qual respondo, deixarei de lado. Acredito ser inapropriado aplicar-se tal título a alguém capaz de dizer tanta besteira em tão poucas linhas. 1. Da Ignorância O senhor nazareno insiste em uma comparação entre Porto Velho ou o Norte ou Rondônia, de um lado, com o Sul ou a Serra Gaúcha ou o interior de quase toda a região sul de outro lado. Pois bem, caro senhor Nazareno, devo dizer que o sul ao qual o senhor se refere é a típica imagem que os turistas fazem daquela região. Um lugar paradisíaco! Um verdadeiro Éden de delícias, belas paisagens e desenvolvimento europeu. O sul ao qual o senhor se refere é o sul da agência de viagens. É o sul do panfleto que anuncia pacotes de cinco dias na Serra Gaúcha, que inclui visitas às vinícolas em Bento Gonçalves. O sul ao qual o senhor se refere é o sul dos seus sonhos apenas. Não é o sul real, conhecido por quem viveu lá e passou várias vezes pelas quatro estações do ano, tendo que trabalhar e estudar, levando a vida de pessoa comum. Uma vida que não se confunde com a do turista deslumbrado e ignorante sobre as mazelas daquela região. Posso lhe falar um pouco sobre o sul que conheci durante os quase 30 anos que vivi naquela região. O sul não é, nem de perto, essa maravilha toda! Uma das lembranças mais fortes que tenho do Inverno no sul é o cheiro de fumaça quem vem das chaminés dos fogões a lenha. Fumaça produzida pela queima de madeira, originária do desmatamento que devastou boa parte das florestas daquelas bandas. Surpreendentemente em uma região com tanto frio as casas não são preparadas para dar conforto térmico. O calor das casas depende em sua grande maioria ainda do bom e velho fogão a lenha, que serve para aquecer a casa, secar a roupa e cozinhar. Longe do fogão a lenha o povo do sul “esfrega as mãos e reclama do tempo”. Outra lembrança que tenho do sul “é ter que andar nas ruas sentindo um cheiro de mofo, barata e naftalina que emana das bisonhas roupas grossas que as pessoas usam para mostrar o que não têm: guarda-roupa de inverno.” Saiba, caro Nazareno, que no sul a maioria das pessoas não tem dinheiro para renovar seu guarda-roupa a cada nova estação, e acabam guardando as roupas velhas em armários com naftalina durante a primavera, o verão no qual o calor é tão ou mais insuportável do que em Rondônia, e o outono. A maioria das pessoas usa roupas “já rotas, molambentas, sujas e furadas”. Sim, porque a maioria das pessoas no sul é pobre e trabalha na roça ou em obras. Esse trabalho provoca o desgaste das roupas. Outras pessoas só conhecem esse tipo de roupas velhas mesmo. As mesmas roupas que foram doadas por parentes, ou recebidas através da “Campanha do Agasalho”, que ocorre todos os anos com o objetivo de ajudar as muitas pessoas que não têm dinheiro para comprar roupas novas. Quanto à comida, quem vê seus comentários é levado a acreditar que todo sulista come “fondue de queijo, Cassoulet de feijão branco, Pirog polonês e sopas deliciosas” todo dia. Pois saiba que a maioria fica no feijão com arroz mesmo, macarrão e outras “delícias” da cozinha popular. O máximo de sofisticação ocorre nas casas de descendentes de alemães com seu café da manhã com pão de milho com melado e nata e outras guloseimas, ou em casas de descendentes de italianos, com um café da manhã com polenta frita, salame e queijo colonial. Não é uma culinária que chame muito a atenção dos turistas, mas é o que se come por lá. Quanto à bebida, seus delírios o fizeram crer que todos do sul bebem vinhos finos? Saiba que Sangue de Boi é feito pela vinícola Aurora, que fica no sul do Brasil. E não me consta que sua produção seja exclusivamente voltada à “exportação” para terras do Norte. Ao contrário, o povo do Sul bebe Sangue de Boi e outras coisas piores a maior parte do tempo. Conheço muitas pessoas que ainda bebem o vinho dito colonial. Em tom de brincadeira dizemos tratar-se de um vinho cujo principal aroma vem do suor dos pés do vinicultor que pisa as uvas logo depois de tirar suas botas de borracha. O vinho fermenta em barris que lhe garanto, não são de carvalho francês. A realidade, meu caro, vai bem distante do sonho. E mesmo que queiras apelar para os costumes etílicos do hemisfério norte, acho que não terás melhor sorte. A bebida mais usada para combater o frio em boa parte da Europa e também nos EUA é a Vodka, e das mais baratas. É comum aqui pelo inverno norte americano ver pessoas embriagadas fedendo a vodka. Não, elas não fedem a Zinfandel e Cabernet Sauvignon Californianos! É uma vodka pior que cachaça. As frequentes lembranças de Gramado de certa maneira revelam a estreiteza de sua visão do sul. Gramado é uma casinha de bonecas construída exclusivamente para o turismo. Falar do sul tendo Gramado como referência é o mesmo que ir à Disneylândia e dizer que conheceu os Estados Unidos e que o país é um grande parque de diversões. Vincular clima a comportamento moral é uma das coisas mais bizarras entre seus comentários. E olha que é difícil escolher, pois a lista de asneiras é muito grande! O senhor já ouviu falar em Rússia? Ao que me consta a temperatura por aquelas terras é muito baixa, e o índice de corrupção está entre os mais altos do mundo. Isso para não falar da Itália, Estados Unidos e outros exemplos. Só a título de informação, o Sul tem políticos tão corruptos e incompetentes quanto Porto Velho. 2. Do preconceito Em seu curto texto o que se vê é a marca do preconceito para com as pessoas pobres. Reclama da roupa, dos hábitos, e por fim coroa o conjunto discriminatório com a frase “O frio daqui só traz desgosto, gripes, rinite alérgica, diarreias, curubas e outras doenças de pobre”. Me parece que essas sejam doenças comuns a seres humanos, não importa quanto dinheiro tenham. A diferença entre o pobre e o rico talvez seja quanto ao modo de contraí-las. Pode-se contrair gripe trabalhando em ambientes frios, ou em um passeio pela “fria Europa”. Pode-se ter rinite causada por poeira de ambientes insalubres, ou pelas plantas do jardim. Diarreia pode ser causada pela ingestão de água não tratada ou pela ingestão daquela comida tailandesa ou vietnamita do restaurante exótico e caro. Os sintomas são iguais. As doenças são iguais. As pessoas são iguais, ainda que o dinheiro seja usado para disfarçar essa igualdade que a natureza insiste em manter. A “crítica” a Porto Velho pelo simples fato de que não é o sul, de que faz calor, de que é preciso “voltar aos banhos”, revela a incapacidade de conviver com algo diverso do que o senhor considera o ideal. É a típica crítica conservadora de quem acha que a realidade deve se adequar às suas vontades. O dia em que governantes entenderem que Porto Velho é uma cidade amazônica e planejarem obras que possam integra-la com a paisagem à qual pertence, e não tentarem transformá-la em uma cidade sulista teremos uma ótima cidade para viver. Mas para isso é preciso aceitar que Porto Velho e Rondônia de um modo geral são constituídas por grande diversidade, por uma população de Sulistas, Nordestinos, Barbadianos, Paulistas, Cariocas, Índios de diversas tribos etc. É preciso encarar de frente o problema da desigualdade social que impede o acesso de muitos cidadãos a alguns espaços da cidade. É preciso pensar uma forma de diminuir o abismo social existente entre ricos e pobres. O preconceito e a discriminação certamente não são o caminho.
Posted on: Fri, 26 Jul 2013 17:16:29 +0000

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