“Em seu Velho Testamento, diz Lutero, Deus declara expressamente: ‘Não quero a morte do pecador: desejo, ao contrário, que se converta e viva.’ (Ez. 18). Por que, pois, quer que tantos homens vivam no pecado, pior do que isso, que eles se embruteçam?’ Ao que o próprio Lutero respondeu: ‘Há em Deus uma vontade MANIFESTA e uma vontade SECRETA (verborgene). Abertamente proclama sua graça, pela qual o homem deve ser salvo; mas secretamente fixa quais são os homens que terão direito a esta graça, a única pela qual se pode esperar salvação, e quais são aqueles que dela serão excluídos.’ Doutrina da predestinação em seu cruel rigor. Pode-se encontrá-la nos jansenistas. O Ser Supremo conhece, prevê o porvir. O homem, que Deus sabe, de antemão, será condenado, não pode, pois, embora o que diga ou faça, escapar à morte. ‘Pela própria preciência de Deus, escreve Lutero, portanto pela sua vontade, tudo é exatamente previsto e decidido por toda a eternidade. Em vista disso, o pretendido livre arbítrio humano só pode ser aniquilado.’ Neste caminho Lutero é obrigado a confessar que, conforme sua doutrina, Judas não podia deixar de trair Cristo. Se Judas devia necessariamente entregar Jesus, Adão no paraíso devia necessariamente comer a maçã – também assim Lutero o reconhecia. Como acaba nessas condições a tese do pecado original e toda a doutrina luterana da corrupção, não somente da humanidade, mas da natureza inteira, pela falta de Adão, já que nosso primeiro pai não podia deixar de cometer esta falta? Ao que Lutero chega a esta bela conclusão: ‘Deus age sempre como um louco (närrisch).” Funck-Bentrano, “Martim Lutero”, Casa Publicadora Vecchi, 1956, p. 111.
Posted on: Thu, 22 Aug 2013 21:38:00 +0000
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